São Paulo, sexta, 25 de julho de 1997.



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TEATRO
Raul Cortez resgata as "master classes"

DANIELA ROCHA
da Reportagem Local

O ator Raul Cortez está estreando uma nova carreira aos 65 anos de idade (42 deles como profissional no teatro). Ele agora também é professor.
Seus 13 pupilos são atores que nunca viram Cacilda Becker ou Sérgio Cardoso no palco, estavam nascendo quando Victor Garcia montou "O Balcão" e têm idéias bem diferentes dos atores que idealizaram o Teatro de Arena.
Esses são apenas alguns exemplos: Raul Cortez não apenas viu Cacilda em cena, como atuou a seu lado e se tornou seu amigo, aprendeu no começo de carreira fazendo figuração para peça com Sérgio Cardoso, participou nos papéis de Bispo, primeiramente, e de Chefe da Polícia, segundamente, em "O Balcão", dirigido por Victor Garcia, e também estava entre os atores do Arena, dirigidos por Oduvaldo Vianna Filho, nos anos 60.
Duas vezes por semana os alunos/atores e os professores Raul Cortez e Roberto Lage (diretor teatral) se reúnem no Teatro-Escola Célia Helena -fundado pela atriz Célia Helena (1937-1997), que foi casada com Cortez.
Cada reunião tem hora para começar -em geral, no início da tarde-, mas não para acabar.
Este grupo é formado por ex-alunos da escola, selecionados por seus currículos. O texto que eles estão estudando é "Pena que Ela Seja uma Puta", de John Ford. "Eu ia participar da montagem desta peça com Zé Celso nos anos 60, mas a censura proibiu."
Análise e vitalidade
Na última terça-feira, durante a leitura, Cortez deu pistas aos atores: "É um jogo, o tempo inteiro", ou foi imperativo: "Tudo tem que ser vital, presente", ou ainda, paternal: "Você está correndo (na leitura) porque não quer errar. Calma, para acertar tem que errar muito".
A idéia de ministrar "master classes" ele teve durante conversas com Roberto Lage, seu diretor em "Cheque ou Mate", peça de autoria de Ricardo Semler em cartaz na Sala São Luis, em São Paulo.
Mas colocar o sonho em prática ainda o amedrontava. Agora, estimulado pela filha, a atriz, diretora e também professora Lígia Cortez, que coordena o Teatro-Escola, e dividindo o encargo com Lage, Raul Cortez assumiu as aulas, que começaram há dois meses, sempre nas terças-feiras e aos sábados.
"Estou aqui, em primeiro lugar, para passar aos alunos o que eu acho que aprendi ao longo da minha carreira. Em segundo lugar, acho que os atores têm que saber analisar um texto, e não ter uma atuação performática." Mas, por fim, confessa: "Também estou aqui para aprender a dirigir".
Apesar disso, ainda não é certo que a leitura resultará em montagem. Se dependesse dos atores, sim. "Estamos vivendo aqui e agora. Claro que todos nós ficamos entusiasmados com o texto e muito envolvidos com os personagens e a história, mas não dá para afirmar que montaremos", afirmou Juliana Balsalobre, integrante do grupo.
Até o próprio Raul Cortez diz ter vontade de atuar na peça. "Mas me contenho. Percebi que sou um professor que não tem a rigidez de Antunes para lidar com o ator, mas tampouco sou tão aberto como Zé Celso."
O que Cortez pretende é mostrar para os alunos a importância de estudar. "Eu estudo mesmo quando estou em cartaz. A cada noite busco um caminho diferente para aperfeiçoar o trabalho. Até em TV estudo. Quando fazemos a análise do texto tomamos posse da verdade, da obra", finalizou.



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