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TEATRO
Raul Cortez resgata as "master classes"
DANIELA ROCHA
da Reportagem Local
O ator Raul Cortez está estreando uma nova carreira aos 65 anos
de idade (42 deles como profissional no teatro). Ele agora também é
professor.
Seus 13 pupilos são atores que
nunca viram Cacilda Becker ou
Sérgio Cardoso no palco, estavam
nascendo quando Victor Garcia
montou "O Balcão" e têm idéias
bem diferentes dos atores que
idealizaram o Teatro de Arena.
Esses são apenas alguns exemplos: Raul Cortez não apenas viu
Cacilda em cena, como atuou a seu
lado e se tornou seu amigo, aprendeu no começo de carreira fazendo
figuração para peça com Sérgio
Cardoso, participou nos papéis de
Bispo, primeiramente, e de Chefe
da Polícia, segundamente, em "O
Balcão", dirigido por Victor Garcia, e também estava entre os atores do Arena, dirigidos por Oduvaldo Vianna Filho, nos anos 60.
Duas vezes por semana os alunos/atores e os professores Raul
Cortez e Roberto Lage (diretor teatral) se reúnem no Teatro-Escola
Célia Helena -fundado pela atriz
Célia Helena (1937-1997), que foi
casada com Cortez.
Cada reunião tem hora para começar -em geral, no início da tarde-, mas não para acabar.
Este grupo é formado por ex-alunos da escola, selecionados por
seus currículos. O texto que eles
estão estudando é "Pena que Ela
Seja uma Puta", de John Ford.
"Eu ia participar da montagem
desta peça com Zé Celso nos anos
60, mas a censura proibiu."
Análise e vitalidade
Na última terça-feira, durante a
leitura, Cortez deu pistas aos atores: "É um jogo, o tempo inteiro", ou foi imperativo: "Tudo
tem que ser vital, presente", ou
ainda, paternal: "Você está correndo (na leitura) porque não quer
errar. Calma, para acertar tem que
errar muito".
A idéia de ministrar "master
classes" ele teve durante conversas com Roberto Lage, seu diretor
em "Cheque ou Mate", peça de
autoria de Ricardo Semler em cartaz na Sala São Luis, em São Paulo.
Mas colocar o sonho em prática
ainda o amedrontava. Agora, estimulado pela filha, a atriz, diretora
e também professora Lígia Cortez,
que coordena o Teatro-Escola, e
dividindo o encargo com Lage,
Raul Cortez assumiu as aulas, que
começaram há dois meses, sempre
nas terças-feiras e aos sábados.
"Estou aqui, em primeiro lugar,
para passar aos alunos o que eu
acho que aprendi ao longo da minha carreira. Em segundo lugar,
acho que os atores têm que saber
analisar um texto, e não ter uma
atuação performática." Mas, por
fim, confessa: "Também estou
aqui para aprender a dirigir".
Apesar disso, ainda não é certo
que a leitura resultará em montagem. Se dependesse dos atores,
sim. "Estamos vivendo aqui e
agora. Claro que todos nós ficamos
entusiasmados com o texto e muito envolvidos com os personagens
e a história, mas não dá para afirmar que montaremos", afirmou
Juliana Balsalobre, integrante do
grupo.
Até o próprio Raul Cortez diz ter
vontade de atuar na peça. "Mas
me contenho. Percebi que sou um
professor que não tem a rigidez de
Antunes para lidar com o ator,
mas tampouco sou tão aberto como Zé Celso."
O que Cortez pretende é mostrar
para os alunos a importância de
estudar. "Eu estudo mesmo quando estou em cartaz. A cada noite
busco um caminho diferente para
aperfeiçoar o trabalho. Até em TV
estudo. Quando fazemos a análise
do texto tomamos posse da verdade, da obra", finalizou.
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