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CINEMA/ESTRÉIAS
"MAR EM FÚRIA"
Filme com George Clooney pára nos efeitos especiais
SÉRGIO RIZZO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O problema do fascínio recente de Hollywood pelas
imensas possibilidades dos efeitos
digitais não é o que fazer com eles,
mas o que fazer além deles. Chegou-se a um ponto em que o mais
honesto seria anunciar alguns filmes como pequenos catálogos de
cenas há alguns anos inimagináveis, sem perder tempo com a embalagem dramática que, no fundo, tornou-se mesmo apenas encheção de linguiça.
"Mar em Fúria", por exemplo,
seria vendido como "meia hora
de cenas incríveis de tempestade
em alto-mar", com "navios naufragando" e "pescadores desesperados lutando pela própria vida".
Nada de embromação e consequente constrangimento para a
platéia.
O cinema voltaria a adquirir a
feição de espetáculo feito exclusivamente para saciar a curiosidade
do olhar, como acontecia nas primeiras sessões promovidas pelos
irmãos Lumière, no final do século 19.
Aqui, por incrível que pareça,
houve um livro como ponto de
partida: o romance homônimo de
Sebastian Junger baseado na história verídica de pescadores da
pequena Gloucester, na costa de
Massachusetts (EUA), que resolveram enfrentar os caprichos do
destino.
Eles estavam a bordo do Andrea
Gail, um barco pesqueiro de dimensões modestas, já excessivamente rodado, quando enfrentaram a "tempestade perfeita" do título original, em outubro de 1991.
O inferno esteve ali mesmo, no
Atlântico Norte.
O capitão do Andrea Gail é Billy
Tyne (George Clooney), um velho
lobo-do-mar que anda sem muita
sorte com os peixes. Na tentativa
de melhorar um pouco a receita
da temporada, ele se propõe a fazer uma última viagem.
Sua tripulação, que também está matando cachorro a grito, resolve acompanhá-lo. No meio do
caminho, porém, Tyne decide esticar até o remoto Cabo Flemish
em busca dos peixes que parecem
sumidos. A insensatez o deixará
arrependido.
O diretor alemão Wolfgang Petersen ("A História sem Fim",
"Na Linha de Fogo", "Força Aérea
1") passa então a administrar situações paralelas.
Em terra, as famílias e os amigos
acompanham o noticiário. No
mar, a guarda costeira faz o que
pode para salvar outros barcos
pegos pela tempestade. E uma alma gêmea de Tyne, a capitã Linda
Greenlaw (Mary Elizabeth Mastrantonio), procura demovê-lo da
idéia tresloucada de atravessar a
tormenta.
Como em "Twister" (96), de Jan
de Bont, que materializa a violência dos tornados, "Mar em Fúria"
mostra como não convém brincar
com a fúria dos elementos. Seria
um belo tema se houvesse de fato
algum interesse em explorá-lo
além do aspecto puramente visual.
De personagens sem densidade
a situações erguidas a partir da
pior espécie de clichês melodramáticos, o que se vê é o triunfo absoluto dos efeitos digitais sobre as
idéias.
Não deixa de ser estranho que,
mesmo assim, o filme ultrapasse
as duas horas. Sem mexer uma
vírgula nas cenas de tempestade,
"Mar em Fúria" sobreviveria bem
com 30 minutos a menos.
Bastaria jogar fora toda a baboseira humanitária que usa para
supostamente homenagear a bravura dos pescadores -gente boa
e corajosa que merecia um filme
melhor.
Mar em Fúria
The Perfect Storm
Direção: Wolfgang Petersen
Produção: EUA, 2000
Com: George Clooney, Mark Wahlberg,
Diane Lane, William Fichtner, Bob
Gunton
Quando: a partir de hoje nos cines
Anália Franco 1, Cinearte 1, Iguatemi e
circuito
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