São Paulo, sexta-feira, 25 de agosto de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FILOSOFIA
Intelectual alemão, morto em 25 de agosto de 1900, é tema de palestras, espetáculo de dança e estudos literários
Cem anos sem Nietzsche têm Apolo e Dionísio

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os cem anos da morte de Friedrich Nietzsche serão comemorados hoje no Brasil contemplando Apolo e Dionísio, deuses gregos que, segundo o filósofo alemão, simbolizariam as duas forças fundamentais da natureza.
Um seminário internacional sobre a obra nietzschiana termina hoje no Rio de Janeiro com palestras, disciplinadas e sóbrias como manda o espírito "apolíneo", e com dança, poesia e teatro, emblemas do "dionisíaco", da exaltação, do instintivo. É o simpósio "Assim Falou Nietzsche", uma das marcas da vitalidade da obra do intelectual alemão no Brasil.
Em São Paulo, Nietzsche é lembrado com Dionísio. Estréia hoje no teatro N.Ex.T. (tel. 0/xx/11/ 259-2485) o espetáculo "teatral-coreográfico" "Matéria Estado de Potência", criado e interpretado por Maura Baiocchi a partir de textos do filósofo.
Essas não são as únicas celebrações ao autor de "Assim Falou Zaratustra" no país. Este ano, o intelectual já foi tema de seminários, espetáculos e vai ser levado às telas em filme de Júlio Bressane.
O filósofo também é tema de estudos, biografias, recebe novas traduções e é personagem de um romance: "Nietzsche em Turim", de Lesley Chamberlain (pela Bertrand Brasil, em outubro).
A caravana nietzschiana começou a circular no país já em janeiro, com o lançamento do livro de ensaios "Assim Falou Nietzsche" (ed. 7 Letras), organizado por Olímpio José Pimenta Neto e Miguel Angel de Barrenechea.
Os dois estão entre os participantes de hoje do simpósio homônimo, na universidade carioca Unirio (tel. 0/xx/21/587-7232).
Lá também faz palestra hoje um dos principais protagonistas da nova onda nietzschiana nacional. Paulo César Sousa vai falar sobre a experiência de coordenar a tradução de toda a obra do filósofo para a Companhia das Letras.
É do pesquisador baiano, aliás, o lançamento de maior peso na profusão de lançamentos de ou sobre Nietzsche. Ele acaba de traduzir pela primeira vez do alemão ao português uma das obras centrais do filósofo.
Em "Humano, Demasiado Humano", Nietzsche rompe com o filósofo Arthur Schopenhauer e com a, até então, sua grande admiração, o músico Richard Wagner e radicaliza sua crítica aos ideais éticos e estéticos do Ocidente.
A relação com Wagner esteve também nos palcos este ano. Esse foi o tema de "N x W", peça de Gerald Thomas que ficou em cartaz em São Paulo até o começo deste mês, e também do livro "Ouvir Wagner, Ecos Nietzschianos" (Musa Editorial), de Yara Borges Caznók e Alfredo Naffah Neto.
É na área editorial, aliás, que está o grande aporte nietzschiano. Só a Relume Dumará já lançou, além de nova tradução de "O Crepúsculo dos Ídolos", outros dois livros sobre o filósofo: "Nietzsche - Metafísica e Niilismo", de Martin Heidegger, e "Alegria, a Força Maior", de Clément Rosset.
O maior foco de estudos do filósofo no país, o Grupo de Estudos Nietzsche, também publicou em série. Dele saíram, ambos pela Discurso Editorial, os livros "Nietzsche e a Dissolução da Moral", de Vânia Dutra de Azeredo, e "Extravagâncias", de Scarlett Marton, que também dirige a publicação "Cadernos Nietzsche".
A professora da USP está também em grande evento na terra do filósofo sobre Nietzsche e o Brasil. Em setembro, um simpósio será feito no Friedrich Nietzsche Kolleg, em Weimar, com os professores Rodrigo Duarte, Oswaldo Giacoia Junior e Ernani Chaves.


Texto Anterior: Filme mostra perplexidade do encontro entre diferentes culturas
Próximo Texto: Não domestiquemos sua rebeldia
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.