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CINEMA
Filme do uruguaio Diego Arsuaga narra a história de três idosos que armam um roubo em defesa do patrimônio nacional
"Corazón de Fuego" encanta Gramado
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A GRAMADO
Por ser representante do Uruguai -país cuja média atual de
produção de longas-metragens
não ultrapassa dois títulos por
ano- "Corazón de Fuego" (Coração de Fogo), de Diego Arsuaga,
37, foi esperado com certa reserva
pelo público do 31º Festival de
Gramado, que se encerrou no sábado, onde participou da competição oficial de filmes latinos.
Mas a sessão do uruguaio no
Palácio dos Festivais, na última
sexta, terminou com intensos
aplausos e uma platéia rendida à
história de três velhinhos que armam o roubo de uma locomotiva,
em nome da defesa do patrimônio nacional.
A máquina seria vendida a
Hollywood para ser usada em um
filme. O trio de ex-funcionários
do (desativado) sistema ferroviário do Uruguai decide impedir a
saída do país daquilo que consideram um de seus símbolos.
"É enganosa essa idéia [de que
um país que produz poucos filmes não seja capaz de realizar títulos de qualidade]. Sabemos filmar, porque produzimos muita
publicidade, uma experiência que
faz parecer fácil qualquer desafio
do cinema", diz Arsuaga.
Co-produção
"Corazón de Fuego" (título que
faz referência ao motor da locomotiva e também à tenacidade
dos septuagenários ativistas) foi
co-produzido pela Argentina,
reunindo o mesmo conjunto de
empresas que realizou "Plata
Quemada", de Marcelo Piñeyro,
projeto do qual a produtora de
Arsuaga havia participado.
A parceria com os argentinos
possibilitou ao cineasta ter o elenco de seus sonhos -os atores
Héctor Alterio ("O Filho da Noiva" e "Kamchatka"), Federico
Luppi e Pepe Soriano nos papéis
principais.
"Sempre quis, mas nunca achei
que fosse possível, reunir novamente esses três, que atuaram em
"La Patagonia Rebelde" [de Héctor
Olivera, de 1974], o filme que
marcou minha juventude", diz o
diretor Arsuaga.
Para o papel do empresário que
compra e vende aos Estados Unidos a locomotiva, foi escalado o
também argentino Gastón Pauls,
conhecido no Brasil por sua participação como o bandido bonzinho do longa-metragem "Nove
Rainhas".
Na empreitada de surrupiar
uma locomotiva, divulgar seu feito à imprensa e conclamar a população a apoiá-los, os personagens rebeldes de "Corazón de
Fuego" fazem não poucos discursos carregados de um idealismo
de tom nacionalista, democrático
e popular. Mas o diretor afirma
que "a política é apenas anedótica
nesse filme". E exemplifica dizendo não ser à toa que o mais inflamado dos discursos é feito para
dois cavalos e algumas crianças.
Valor
O que Arsuaga pretendeu mostrar com seu filme é que, na geração anterior à dele, "as pessoas lutavam por suas idéias, por aquilo
em que acreditavam, e eram consideradas por seu comportamento, não pelo que possuem". O diretor afirma que, hoje, a situação é
inversa. "Valemos pelo que temos, não pelo que somos."
O roteiro do filme é assinado
por Arsuaga, Beda Docampo Feijó e Fernando León de Aranoa,
homônimo do diretor espanhol
que concorreu em Gramado com
"Segunda-Feira ao Sol".
"Corazón de Fuego" é o segundo título do diretor, mas o que ele
considera sua verdadeira estréia
no cinema.
"Meu primeiro filme ["Otario",
1997, também exibido em Gramado] é um exercício. Foi feito originalmente para TV, apenas para
provar que no Uruguai se podia
filmar, e não pela razão que um
filme deve ser feito, que é apresentar uma idéia", afirma.
O próximo longa que ele prepara trará não exatamente uma
idéia, mas uma "fantasia" sua: "É
sobre um roubo a banco. Quem já
não sonhou com isso?".
"Corazón de Fuego" tem assegurada sua distribuição nos cinemas no Brasil, mas sem data de
estréia prevista.
A jornalista Silvana Arantes viajou a
convite da organização do Festival de
Gramado
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