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ANÁLISE
"Sex" encontra convencional final feliz
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Sex and the City" vai deixar
saudades. No clube dos órfãos há lugar para aspirantes à independência, moças, homens e
psicanalistas que se acostumaram
a seguir a novelinha semanal.
A cidade já foi considerada o lugar da convivência pública por
excelência, dos encontros casuais
masculinos, dos saraus, cafés e
botecos, espaços dedicados à vida
intelectual "séria". Sinal dos tempos, a cidade agora é associada ao
sexo, graças a mulheres liberadas,
sensuais, inteligentes, bem-sucedidas -e indiscretas.
Assim são as personagens de
"Sex and the City", o seriado de
maior sucesso da TV paga nos últimos tempos, cujo último episódio finalmente foi ao ar no Brasil
anteontem. Apesar do tom picante das aventuras amorosas que as
quatro amigas viveram ao longo
das diversas temporadas -disponíveis em DVD-, no final, cada uma delas teve direito a um
convencional final feliz.
Nada melhor do que Paris, a
única cidade capaz de fazer um
nova-iorquino se sentir caipira,
cenário que já mobilizou o humor
pastelão de "I Love Lucy", para
operar a virada de Carrie. Mr. Big,
na mais perfeita encarnação do
príncipe encantado, vai resgatá-la
na capital mundial do glamour.
A família venceu no lar de Miranda, a advogada, mãe, casada,
que finalmente abriga e cuida da
sogra. A fogosa Samantha é conquistada por um galã viril e fiel.
Charlotte se converte ao judaísmo, realiza o sonho dourado de
casar e adota uma menina.
As quatro amigas representam
tipos bem diferentes de uma mesma espécie -a das chamadas
mulheres "fortes", uma raça que
fascina, intriga e confunde os homens. A graça do seriado está no
domínio que as personagens revelam de assuntos que um dia foram considerados masculinos,
para deleite justamente deles.
Provavelmente é esse público
fiel que se decepciona com o desfecho. Afinal, as garotas, capazes
de confidências e safadezas, mantêm o desejo de estabilidade.
Esther Hamburger é antropóloga e
professora da ECA-USP
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