São Paulo, quarta-feira, 25 de agosto de 2004

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ANÁLISE

"Sex" encontra convencional final feliz

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Sex and the City" vai deixar saudades. No clube dos órfãos há lugar para aspirantes à independência, moças, homens e psicanalistas que se acostumaram a seguir a novelinha semanal.
A cidade já foi considerada o lugar da convivência pública por excelência, dos encontros casuais masculinos, dos saraus, cafés e botecos, espaços dedicados à vida intelectual "séria". Sinal dos tempos, a cidade agora é associada ao sexo, graças a mulheres liberadas, sensuais, inteligentes, bem-sucedidas -e indiscretas.
Assim são as personagens de "Sex and the City", o seriado de maior sucesso da TV paga nos últimos tempos, cujo último episódio finalmente foi ao ar no Brasil anteontem. Apesar do tom picante das aventuras amorosas que as quatro amigas viveram ao longo das diversas temporadas -disponíveis em DVD-, no final, cada uma delas teve direito a um convencional final feliz.
Nada melhor do que Paris, a única cidade capaz de fazer um nova-iorquino se sentir caipira, cenário que já mobilizou o humor pastelão de "I Love Lucy", para operar a virada de Carrie. Mr. Big, na mais perfeita encarnação do príncipe encantado, vai resgatá-la na capital mundial do glamour.
A família venceu no lar de Miranda, a advogada, mãe, casada, que finalmente abriga e cuida da sogra. A fogosa Samantha é conquistada por um galã viril e fiel. Charlotte se converte ao judaísmo, realiza o sonho dourado de casar e adota uma menina.
As quatro amigas representam tipos bem diferentes de uma mesma espécie -a das chamadas mulheres "fortes", uma raça que fascina, intriga e confunde os homens. A graça do seriado está no domínio que as personagens revelam de assuntos que um dia foram considerados masculinos, para deleite justamente deles.
Provavelmente é esse público fiel que se decepciona com o desfecho. Afinal, as garotas, capazes de confidências e safadezas, mantêm o desejo de estabilidade.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP


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