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LITERATURA
"A Star Called Henry" usa a saga de personagem nascido em 1901 para mostrar o século na Irlanda
Doyle (re)conta a história irlandesa
SYLVIA COLOMBO
de Londres
Segundo uma velha lenda da Irlanda, cada estrela no céu corresponde a uma criança que morreu.
Em "A Star Called Henry", o escritor irlandês Roddy Doyle conta
a história de um garoto dos subúrbios de Dublin que tem como
referência e grande trauma de sua
vida a morte de vários irmãos
mais novos, um deles com o mesmo nome que ele, Henry.
"A Star Called Henry" (Uma Estrela Chamada Henry) é o sexto
romance de Roddy Doyle, 41,
vencedor do Booker Prize, a mais
importante premiação literária
do Reino Unido, em 93, por
"Paddy Clarke Ha, Ha, Ha".
Três de seus livros tiveram
adaptações cinematográficas.
"The Snapper" e "O Furgão" chegaram à grande tela dirigidos por
Stephen Frears enquanto "The
Commitments", filme que jogou
luz ao nome de Roddy Doyle, teve
a direção de Alan Parker.
Em "A Star Called Henry", Doyle reafirma seu compromisso em
retratar o espírito irlandês, já demonstrado em seus outros romances, sempre vividos por figuras urbanas em busca de identidade e de solução para a pobreza,
vagando na marginalidade, entre
a bebida e a desilusão.
A tarefa agora é bem mais séria.
"A Star Called Henry" é o primeiro livro de uma trilogia. Trata-se
de um drama histórico, em que o
protagonista nasce em 1901 e irá
presenciar todos os acontecimentos políticos e sociais irlandeses
ao longo do século 20.
"Eu gosto da idéia, que hoje está
fora de moda, de acompanhar a
história de um personagem desde
seu nascimento até sua morte, como uma saga familiar que tem os
acontecimentos maiores do país
em que se passa a ação como um
pano de fundo", disse Doyle ao
jornal "The Guardian".
"A Star Called Henry" se passa
nos anos 10 e 20, período em que a
Irlanda viveu as lutas para tornar-se independente do Reino Unido.
Henry é um dos filhos de uma
família pobre cujo chefe é um assassino de aluguel que não tem
uma das pernas. Aos 9 anos, torna-se um pequeno bandido que
ganha a vida batendo carteiras pelas ruas de Dublin. Com a morte
dos pais, sozinho e desamparado,
junta-se à milícia revolucionária
Irish Citizen's Army na luta pela
independência.
Ao lado dessa milícia, Henry
participa do Levante da Páscoa,
em 1916, contra o domínio britânico. Sobrevivendo à batalha, a
"carreira" de Henry desponta e
ele se torna um dos mais destacados oficiais revolucionários.
Assim, Henry encontra uma
proposta para sua vida. O ato de
matar ganha uma justificativa e
Henry, pela primeira vez, ganha
reconhecimento social. O soldado
é uma verdadeira estrela nesse
mundo, reflete a "estrela Henry",
seu irmão morto ao nascer.
Suas incursões pelo interior do
país são uma aventura, treinando
com grupos de guerrilheiros, matando ingleses e se envolvendo sexualmente com as camponesas.
Depois da conquista da independência, porém, Henry percebe que a situação pela qual lutou
não é muito melhor do que a que
ele ajudou a destruir. Logo se dá
conta que continuará sendo um
excluído na nova Irlanda.
Henry percebe então que seu
destino é igual ao do pai: o de se
tornar apenas um assassino sem
uma justificativa. Começa então a
envelhecer, carregando consigo o
impasse sobre sua identidade e a
de seu país. "Quero trazer a realidade daquela violência, não tentei
glamourizá-la. Queria afastar o
quadro inocente que me foi apresentado na infância sobre esse período, onde haviam os bons e os
maus. Tentei mostrar todos como
seres humanos", disse ao "The
New York Times".
Os próximos dois livros acompanharão Henry até os dias de hoje e devem abarcar o cenário político da atual República da Irlanda,
que tenta estabelecer uma nova
convivência política com a Irlanda do Norte e resolver o conflito
entre protestantes e católicos.
"Quem não está familiarizado
com a história irlandesa vai ficar
se perguntando o que realmente
aconteceu. Mas o livro tem a intenção de mostrar como o período foi vivido e sentido pelas pessoas. Lições de história estão em
segundo plano, mesmo porque a
ficção faz má história", diz Doyle.
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