São Paulo, Sábado, 25 de Setembro de 1999
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SHOW CRÍTICA

Catarse do Echo entrelaça almas roqueiras


THALES DE MENEZES
da Reportagem Local

Por uma hora e meia, o mundo foi um lugar melhor. Pelo menos para as mais de 5.000 pessoas que viram a apresentação única do Echo & The Bunnymen em São Paulo, anteontem, no Via Funchal. Uma celebração de rock and roll, por uma banda impecável.
No palco, os caras do grupo quase não se mexem. Os dois Bunnymen originais, o vocalista Ian McCulloch e o guitarrista Will Sergeant, não posam de estrelas, dividindo o palco com quatro novatos. Não há excessos, apenas um painel no fundo do palco e uma fumacinha para dar clima. Quem criou algumas das mais belas canções do rock nos últimos 20 anos não precisa de firulas.
Que repertório! O show começa com os primeiros e inconfundíveis acordes de "Rescue" e termina com outra das antigas no bis, "Do It Clean". Entre elas, um desfile do melhor rock. Bateria forte, orgânica, longe do batuque glacial desta década. Baixo e teclados apenas pontuam as melodias, abrindo espaço para a guitarra arrebatadora de Will Sergeant.
Se não fosse por shows tão belos como esse, o retorno do Echo já valeria a pena para fazer Sergeant ser lembrado com a devida importância. Ele sempre tende a ser ofuscado por colegas de geração como Johnny Marr e Billy Duffy, mas é apenas por ser discreto, sem aparecer nos discos e nos shows dos outros. É um sujeito muito na dele, no canto do palco, tocando como se não tivesse 5.000 tietes pulando diante dele.
Ian McCulloch é cool até não poder mais. Terninho, aqueles óculos escuros que parecem não sair mais de seu rosto, o mesmo cabelinho espetado e, lógico, o cigarro na mão. McCulloch não precisa daquela máquina que solta fumaça pelos cantos do palco, ele mesmo produz sua nuvem particular. Um cara charmoso como ele pode destruir meses de campanha antitabagista.
Suas intervenções entre as canções são curtas, em frases ininteligíveis. Seus gestos mais amplos são quando agacha para acender um cigarro. Sua economia de movimentos é inversamente proporcional a seu enorme carisma. Por isso, em alguns momentos de rara empolgação, uma gingadinha é recebida pela platéia com gritos.
As músicas dos anos 90, como "Evergreen", ficaram impecáveis, mas foi com as antigas que a catarse irrompeu. A banda não imaginava voltar ao Brasil depois de 12 anos e ouvir a platéia cantando letras inteiras.
McCulloch arrasa, com o vozeirão que continua em forma. Não sorri para o público, numa atitude blasé que nada tem de afetação.
O sujeito sabe que sua música é trilha sonora de uma geração roqueira, e não cede a uma aproximação passional com a platéia. A ligação é feita na música, almas rock and roll entrelaçadas nesse etéreo mundo particular feito para durar apenas até a última música de um show inesquecível.


Avaliação:     


Show: Echo & The Bunnymen
Onde: Metropolitan (av. Ayrton Senna, 3.000, Rio, tel. 0/xx/21/ 4211331)
Quando: hoje, às 22h30
Quanto: de R$ 25 a R$ 70


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