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SHOW CRÍTICA
Catarse do Echo entrelaça almas roqueiras
THALES DE MENEZES
da Reportagem Local
Por uma hora e meia, o mundo
foi um lugar melhor. Pelo menos
para as mais de 5.000 pessoas que
viram a apresentação única do
Echo & The Bunnymen em São
Paulo, anteontem, no Via Funchal. Uma celebração de rock and
roll, por uma banda impecável.
No palco, os caras do grupo
quase não se mexem. Os dois
Bunnymen originais, o vocalista
Ian McCulloch e o guitarrista Will
Sergeant, não posam de estrelas,
dividindo o palco com quatro novatos. Não há excessos, apenas
um painel no fundo do palco e
uma fumacinha para dar clima.
Quem criou algumas das mais belas canções do rock nos últimos
20 anos não precisa de firulas.
Que repertório! O show começa
com os primeiros e inconfundíveis acordes de "Rescue" e termina com outra das antigas no bis,
"Do It Clean". Entre elas, um desfile do melhor rock. Bateria forte,
orgânica, longe do batuque glacial desta década. Baixo e teclados
apenas pontuam as melodias,
abrindo espaço para a guitarra arrebatadora de Will Sergeant.
Se não fosse por shows tão belos
como esse, o retorno do Echo já
valeria a pena para fazer Sergeant
ser lembrado com a devida importância. Ele sempre tende a ser
ofuscado por colegas de geração
como Johnny Marr e Billy Duffy,
mas é apenas por ser discreto,
sem aparecer nos discos e nos
shows dos outros. É um sujeito
muito na dele, no canto do palco,
tocando como se não tivesse
5.000 tietes pulando diante dele.
Ian McCulloch é cool até não
poder mais. Terninho, aqueles
óculos escuros que parecem não
sair mais de seu rosto, o mesmo
cabelinho espetado e, lógico, o cigarro na mão. McCulloch não
precisa daquela máquina que solta fumaça pelos cantos do palco,
ele mesmo produz sua nuvem
particular. Um cara charmoso como ele pode destruir meses de
campanha antitabagista.
Suas intervenções entre as canções são curtas, em frases ininteligíveis. Seus gestos mais amplos
são quando agacha para acender
um cigarro. Sua economia de movimentos é inversamente proporcional a seu enorme carisma. Por
isso, em alguns momentos de rara
empolgação, uma gingadinha é
recebida pela platéia com gritos.
As músicas dos anos 90, como
"Evergreen", ficaram impecáveis,
mas foi com as antigas que a catarse irrompeu. A banda não imaginava voltar ao Brasil depois de
12 anos e ouvir a platéia cantando
letras inteiras.
McCulloch arrasa, com o vozeirão que continua em forma. Não
sorri para o público, numa atitude
blasé que nada tem de afetação.
O sujeito sabe que sua música é
trilha sonora de uma geração roqueira, e não cede a uma aproximação passional com a platéia. A
ligação é feita na música, almas
rock and roll entrelaçadas nesse
etéreo mundo particular feito para durar apenas até a última música de um show inesquecível.
Avaliação:
Show: Echo & The Bunnymen
Onde: Metropolitan (av. Ayrton Senna,
3.000, Rio, tel. 0/xx/21/ 4211331)
Quando: hoje, às 22h30
Quanto: de R$ 25 a R$ 70
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