São Paulo, Sábado, 25 de Setembro de 1999
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FESTIVAL DO RIO

Ken Loach opõe futebol à crise social

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Na periferia pobre de Glasgow (Escócia), tudo é cinzento. Por suas ruas, entre terrenos baldios e tristes conjuntos habitacionais, perambulam desempregados, bêbados, drogados, prostitutas.
Nessa paisagem devastada move-se um homem pleno de energia e paixão: Joe Kavanagh (Peter Mullan), que vive do seguro-desemprego e está há longos dez meses sem beber.
Conhecido no bairro, respeitado por gângsteres e traficantes, Joe tem uma atividade nobre: é técnico do time de várzea local.
O futebol parece ser o único elemento de cultura, beleza e alegria daquelas vidas secas. É o time que mantém seus "atletas", ao menos temporariamente, longe da bebida, das drogas, da violência.
Como a sublinhar o aspecto de sonho do futebol naquele contexto, o time usa, primeiro, o uniforme da Alemanha da Copa de 74 e, depois, o do Brasil da Copa de 70. Ao ver aqueles pinguços e barrigudos com as camisas de Pelé, Rivellino e Jairzinho, um torcedor comenta: "Isso é um sacrilégio".
Peter Mullan ganhou, com justiça, o prêmio de melhor ator em Cannes. É a riqueza de seu personagem que impede o filme de Ken Loach de ser um mero registro naturalista da vida dura dos excluídos do festim neoliberal.
A entrada em cena de uma mulher notável, Sarah Downie (Louise Goodall), misto de médica e assistente social, vai revelar mais ainda da personalidade de Joe: apaixonado, ele põe à mostra o que tem de instável e de frágil.
Houve quem acusasse Loach de pintar uma situação demasiado sombria e sem saída. Os personagens estão sempre no limiar da queda ou da morte: é o dinheiro que está acabando, é a dívida com o gângster, é a dependência de drogas etc. Os ambientes são escuros e desolados, o céu está sempre coberto de nuvens.
Mas não é um filme negativista. Loach parece mostrar que há cada vez menos espaço no mundo para o afeto e a revolta -por isso mesmo eles são tão necessários.


Avaliação:     

Filme: Meu Nome É Joe
Direção: Ken Loach
Elenco: Peter Mullan, Louise Goodall
Onde: hoje, às 21h, no cine Estação Icaraí, r. Coronel Moreira César, 211, Niterói


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