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FESTIVAL DO RIO
Ken Loach opõe futebol à crise social
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Na periferia pobre de Glasgow
(Escócia), tudo é cinzento. Por
suas ruas, entre terrenos baldios e
tristes conjuntos habitacionais,
perambulam desempregados, bêbados, drogados, prostitutas.
Nessa paisagem devastada move-se um homem pleno de energia e paixão: Joe Kavanagh (Peter
Mullan), que vive do seguro-desemprego e está há longos dez
meses sem beber.
Conhecido no bairro, respeitado por gângsteres e traficantes,
Joe tem uma atividade nobre: é
técnico do time de várzea local.
O futebol parece ser o único elemento de cultura, beleza e alegria
daquelas vidas secas. É o time que
mantém seus "atletas", ao menos
temporariamente, longe da bebida, das drogas, da violência.
Como a sublinhar o aspecto de
sonho do futebol naquele contexto, o time usa, primeiro, o uniforme da Alemanha da Copa de 74 e,
depois, o do Brasil da Copa de 70.
Ao ver aqueles pinguços e barrigudos com as camisas de Pelé, Rivellino e Jairzinho, um torcedor
comenta: "Isso é um sacrilégio".
Peter Mullan ganhou, com justiça, o prêmio de melhor ator em
Cannes. É a riqueza de seu personagem que impede o filme de Ken
Loach de ser um mero registro
naturalista da vida dura dos excluídos do festim neoliberal.
A entrada em cena de uma mulher notável, Sarah Downie (Louise Goodall), misto de médica e assistente social, vai revelar mais
ainda da personalidade de Joe:
apaixonado, ele põe à mostra o
que tem de instável e de frágil.
Houve quem acusasse Loach de
pintar uma situação demasiado
sombria e sem saída. Os personagens estão sempre no limiar da
queda ou da morte: é o dinheiro
que está acabando, é a dívida com
o gângster, é a dependência de
drogas etc. Os ambientes são escuros e desolados, o céu está sempre coberto de nuvens.
Mas não é um filme negativista.
Loach parece mostrar que há cada
vez menos espaço no mundo para
o afeto e a revolta -por isso mesmo eles são tão necessários.
Avaliação:
Filme: Meu Nome É Joe
Direção: Ken Loach
Elenco: Peter Mullan, Louise Goodall
Onde: hoje, às 21h, no cine Estação
Icaraí, r. Coronel Moreira César, 211,
Niterói
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