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RELÂMPAGOS
Foz
JOÃO GILBERTO NOLL
"Ana!", eu chamava. Ela vinha até o muro, sem ao menos perguntar: "O que é?".
Permanecia calada, naquela
espécie de antevéspera imprecisa, permanente. Eu me
fingia de cego, tateava, balbuciava o nome: "Ana!". Mas
não emitia mensagens, delas
carecia. Só o nome sussurrado. Ela ficava como que à espera de que um dia eu pudesse extraí-la inteira do nome.
Não esqueço a noite em que
me levaram para o quartel e
me prenderam. Na solitária,
pensei no nome, "Ana", mas
o que saiu foi pura e simplesmente uma voz que eu próprio não reconheci. Vibrava
com tal intensidade através
de mim, que logo compreendi que a minha fala, ali, se fala
houvesse, não era bem minha, vinha de uma fonte que
me fazia sacudir as grades,
com fúria, como se a quisesse
justamente violar.
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