São Paulo, segunda-feira, 25 de setembro de 2000

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RELÂMPAGOS

Foz

JOÃO GILBERTO NOLL

"Ana!", eu chamava. Ela vinha até o muro, sem ao menos perguntar: "O que é?". Permanecia calada, naquela espécie de antevéspera imprecisa, permanente. Eu me fingia de cego, tateava, balbuciava o nome: "Ana!". Mas não emitia mensagens, delas carecia. Só o nome sussurrado. Ela ficava como que à espera de que um dia eu pudesse extraí-la inteira do nome. Não esqueço a noite em que me levaram para o quartel e me prenderam. Na solitária, pensei no nome, "Ana", mas o que saiu foi pura e simplesmente uma voz que eu próprio não reconheci. Vibrava com tal intensidade através de mim, que logo compreendi que a minha fala, ali, se fala houvesse, não era bem minha, vinha de uma fonte que me fazia sacudir as grades, com fúria, como se a quisesse justamente violar.



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