São Paulo, segunda-feira, 25 de setembro de 2000

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DISCO/CRÍTICA

Herbert propaga "som do talvez"

DA REPORTAGEM LOCAL

O terceiro e mais elaborado álbum solo do líder dos Paralamas do Sucesso, Herbert Vianna, é um disco implicitamente confessional. Batizado "O Som do Sim", quer ser uma obra fundada na afirmação, no positivo, no congraçamento.
Por isso arregimenta dúzias de arranjadores/produtores (Eumir Deodato, Liminha, Chico Neves e Carlo Bartolini); gente moça de bandas (Raimundos, Pavilhão 9, Rumbora, Skank, Mestre Ambrósio, Pato Fu, Penélope); cantoras em dueto (Fernanda Abreu, Sandra de Sá, Zélia Duncan, Cássia Eller, Nana Caymmi, Luciana Pestano, Daúde); e mais...
Acontece que no neotropicalismo (Herbert é um neotropicalista) o "sim" volta e meia vira disfarce do "talvez" -emblematicamente, o CD começa com "O Muro", lugar onde Herbert mora.
A canção é engajada, fala de violência e morte. A faixa seguinte, "História de uma Bala" (com Fernanda Abreu), repete o feito, com assassinato e reclame social.
"Vamos consertar o mundo", canta em "Vamos Viver", uma atualização do que o autor sabe fazer melhor: letras e melodias sensíveis e sentimentais, da lavra de "A Dama e o Vagabundo" (86).
"Um Truque", com participação de Moreno Veloso, é militante, um posicionamento (ufa, enfim) diante das provocações do inimigo antigo Lobão. Sua resposta tardia: "E o som do sim/ é tudo que se ouvirá de mim".
É manifesto de desdém ao Bertolt Brecht da dupla "Aquele Que Diz Sim"/"Aquele Que Diz Não" e ao Chico Buarque brechtiano de "Vence na Vida Quem Diz Sim". Para aqueles advogados dialéticos do "não", talvez em arte o "sim" fosse a soma de vários "nãos"...
No meio da artilharia, dois duetos tipo "hard blues", entre Led Zeppelin e Rod Stewart, se destacam. Cássia Eller enche de vida "Mr. Scarecrow", e Luciana Pestano é utilizada na confessional/ conformista "Eu Não Sei Nada".
O panorama se neutraliza definitivamente em "A Mais" ("Não quero o vendaval/ só o sono e o sonho dos mortais") e "Hoje Canções", uma bossinha à "Laços de Família", tipo "Pois tem sol/ e um mar/ da cor do céu/ do amor".
OK, é uma visão de mundo que não dizima a qualidade de um projeto musicalmente sofisticado. Conceitualmente, ele pode querer triturar a máxima dos 60 e ficar ao mesmo tempo de frente para o mar e para a favela. Mas aí título mais certeiro para o CD seria "O Som do Talvez", ou "do Não Sei".
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


O Som do Sim
  
Artista: Herbert Vianna
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 20, em média




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