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DISCO/CRÍTICA
Herbert propaga "som do talvez"
DA REPORTAGEM LOCAL
O terceiro e mais elaborado álbum solo do líder dos
Paralamas do Sucesso, Herbert
Vianna, é um disco implicitamente confessional. Batizado "O Som
do Sim", quer ser uma obra fundada na afirmação, no positivo,
no congraçamento.
Por isso arregimenta dúzias de
arranjadores/produtores (Eumir
Deodato, Liminha, Chico Neves e
Carlo Bartolini); gente moça de
bandas (Raimundos, Pavilhão 9,
Rumbora, Skank, Mestre Ambrósio, Pato Fu, Penélope); cantoras
em dueto (Fernanda Abreu, Sandra de Sá, Zélia Duncan, Cássia
Eller, Nana Caymmi, Luciana
Pestano, Daúde); e mais...
Acontece que no neotropicalismo (Herbert é um neotropicalista) o "sim" volta e meia vira disfarce do "talvez" -emblematicamente, o CD começa com "O Muro", lugar onde Herbert mora.
A canção é engajada, fala de violência e morte. A faixa seguinte,
"História de uma Bala" (com Fernanda Abreu), repete o feito, com
assassinato e reclame social.
"Vamos consertar o mundo",
canta em "Vamos Viver", uma
atualização do que o autor sabe
fazer melhor: letras e melodias
sensíveis e sentimentais, da lavra
de "A Dama e o Vagabundo" (86).
"Um Truque", com participação de Moreno Veloso, é militante, um posicionamento (ufa, enfim) diante das provocações do
inimigo antigo Lobão. Sua resposta tardia: "E o som do sim/ é
tudo que se ouvirá de mim".
É manifesto de desdém ao Bertolt Brecht da dupla "Aquele Que
Diz Sim"/"Aquele Que Diz Não" e
ao Chico Buarque brechtiano de
"Vence na Vida Quem Diz Sim".
Para aqueles advogados dialéticos
do "não", talvez em arte o "sim"
fosse a soma de vários "nãos"...
No meio da artilharia, dois duetos tipo "hard blues", entre Led
Zeppelin e Rod Stewart, se destacam. Cássia Eller enche de vida
"Mr. Scarecrow", e Luciana Pestano é utilizada na confessional/
conformista "Eu Não Sei Nada".
O panorama se neutraliza definitivamente em "A Mais" ("Não
quero o vendaval/ só o sono e o
sonho dos mortais") e "Hoje Canções", uma bossinha à "Laços de
Família", tipo "Pois tem sol/ e um
mar/ da cor do céu/ do amor".
OK, é uma visão de mundo que
não dizima a qualidade de um
projeto musicalmente sofisticado.
Conceitualmente, ele pode querer
triturar a máxima dos 60 e ficar ao
mesmo tempo de frente para o
mar e para a favela. Mas aí título
mais certeiro para o CD seria "O
Som do Talvez", ou "do Não Sei".
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)
O Som do Sim
Artista: Herbert Vianna
Lançamento: EMI
Quanto: R$ 20, em média
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