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PERSONALIDADE
França comemora no dia 20 de outubro os 150 anos de nascimento do escritor, autor de "Iluminações"
Com distanciamento, Rimbaud transcende épocas
PATRICK KÉCHICHIAN
DO "MONDE"
Para celebrar o 150º aniversário
do nascimento de Arthur Rimbaud, Pierre Brunel, especialista
em sua sobra, organizou uma edição comentada de "Iluminações".
Magra, admirável e misteriosa, a
obra de Rimbaud é freqüentemente recoberta por uma extraordinária fortuna mitológica.
Poucos escritores se beneficiaram, ou padeceram, de tal tratamento póstumo.
Pierre Brunel é autor de diversos ensaios, bem como edições
críticas de "Uma Temporada no
Inferno" (ed. José Corti, 1987) e,
recentemente, "Iluminações" (José Corti, 764 págs., 28). Com a
aproximação do 150º aniversário
(20/10), Brunel falou sobre a figura de Rimbaud.
Pergunta - As imagens que se fixaram à figura de Rimbaud, gênio
precoce, revoltado absoluto, místico, terminaram por afetar a leitura
que fazemos de sua obra?
Pierre Brunel - Talvez o mito tenha terminado por encobrir Rimbaud, e, em vez de gastar energia
tentando remover essas máscaras, seria melhor estudá-lo com o
rigor que seus textos exigem e
sem perder de vista sua intensidade e o fervor que eles inspiram.
Sou menos sensível à evocação
dos dias finais de sua vida, tão terríveis, em "Les Jours Fragiles" [Os
dias frágeis], de Philippe Besson,
não importa o talento demonstrado pelo autor, do que à eclosão da
poesia de Rimbaud e sua constante renovação.
Pergunta - O sr. é responsável por
edições críticas das obras de Rimbaud. Essa ciência dos textos é indispensável?
Brunel - O trabalho filológico
nos textos, fáceis ou difíceis, foi
conduzido nos últimos 20 anos
com um rigor e precisão científica
sem precedentes (mesmo no caso
de Buillane de Lacoste, sempre
preso à grafologia). André Guyaux, Steve Murphy e outros realizaram enormes progressos na
edição crítica de textos ("Iluminações", no caso do primeiro, "Poesias", para o segundo, textos integrados, em ambos os casos, às
obras completas do poeta). Abordar Rimbaud de maneira não erudita não só é possível como desejável, diria até que prioritário. Os
textos dele não são um alfarrábio.
O admirador de sua poesia não
precisa ser maníaco. Por isso o interesse na leitura por estudantes,
atores e leitores de boa-fé.
Pergunta - Em que Rimbaud pertence a seu século e em que ele
transcende sua época?
Brunel - O Rimbaud de começo
de carreira é inseparável de sua
época porque ele reagia aos acontecimentos (a queda do imperador, a Comuna de Paris). O Rimbaud tardio também atende a essa
descrição. Mas a palavra-chave
em sua obra e vida veio a ser o
"distanciamento onírico" (do
poema "Génie" [Gênio], em "Iluminações"). É por esse desligamento que ele transcende sua
época e exerce sobre nós o brilho
de uma indisputável fascinação.
Tradução Paulo Migliacci
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