São Paulo, sábado, 25 de setembro de 2004

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ILUSTRADA

Escritora tinha 69 anos e ficou famosa por descrever a burguesia francesa da década de 50 e pelo estilo de vida boêmio

Morre Françoise Sagan, autora de "Bom Dia, Tristeza"

DA REDAÇÃO

Morreu ontem, aos 69 anos, a francesa Françoise Sagan, autora de "Bom Dia, Tristeza", considerada um dos ícones dos intelectuais da década de 50 e símbolo do estilo boêmio que retratou em muitos de seus livros.
Sagan, cujo nome verdadeiro era Françoise Quoirez, morreu em decorrência de problemas cardio-respiratórios em um hosital de Honfleur, no norte da França, onde havia passado os últimos dias ao lado de seu filho.
Sagan publicou "Bom Dia, Tristeza" (1954) aos 18 anos e tirou seu pseudônimo de um personagem de "Em Busca do Tempo Perdido", de Marcel Proust. Em seu livro, descrevia o plano de uma garota de 17 anos para impedir a união entre seu pai e a amante. A trama foi escrita por Sagan em apenas sete semanas e logo se tornou um sucesso, vendendo mais de 4 milhões de exemplares e sendo traduzido em 22 idiomas.
O êxito da obra foi creditado à construção feita por Sagan de personagens amorais e entediados em um ambiente burguês. "Bom Dia, Tristeza" -que foi adpatado para o cinema em 1958 por Otto Preminger e tinha Deborah Kerr e David Nieven como protagonistas- influenciou toda uma geração de mulheres escritoras.

Estilo de vida
Sagan levou um estilo de vida que em vários aspectos se assemelhava ao de seus personagens. Nascida em uma família rica de Cajarc (sul da França), a escritora era notada na escola pela sua "falta de esforço" e não concluiu seu curso na Universidade de Sorbonne. Após passar o ano de 1951 em clubes de jazz do bairro parisiense de Saint Germain des Prés, se vinculou a Juliette Gréco, Jean-Paul Sartre e outros intelectuais do período.
À época da publicação de "Bom Dia, Tristeza", Sagan recebeu 500 mil francos de sua editora e recebeu o seguinte conselho de seu pai: "Gaste tudo". "Entrei em um período em que tudo era possível", disse a escritora, que se tornaria conhecida por freqüentar cassinos -a ponto de ser banida de alguns deles- e pela paixão por carros velozes como Jaguar, Aston Martin e Maserati, que levou-a a um grave acidente automobilístico em 1957. Mesmo assim comentou certa vez que a direção "é um prazer, uma diversão louca. É físico, nervoso, tonificante e extremamente alegre".
Quando tinha 50 anos, dizia que odiava que se dirigissem a ela como "um tio benévolo fala com uma sobrinha". Foi casada duas vezes, com seu editor Guy Schoeller e com o escultor norte-americano Robert Westhoff, com quem teve um filho, Denis. Em 1995, foi condenada a um ano de prisão por posse de cocaína. Em 2002, foi sentenciada a mais um ano de prisão por fraudar o fisco em cerca de US$ 723 mil.
Autora de mais de 50 livros, a maioria romances, Sagan nunca venceu prêmios literários importantes. Também escreveu peças, roteiros de cinema e criou cenários para balés. Outras obras que se destacam em sua carreira estão "Aimez-vous Brahms?" (Você ama Brahms?) e "Certain Sourire" (Um Certo Sorriso).
O presidente da França, Jacques Chirac, declarou que "com sua morte, o país perde uma de suas mais brilhantes e sensíveis escritoras -uma figura eminente de nossa vida literária. (...) Françoise Sagan, uma atriz de seu tempo, contribui para o desenvolvimento do papel da mulher em nosso país". O primeiro-ministro francês, Jean Pierre Raffarin, afirmou que "Sagan era um sorriso -triste, enigmático, distante e ainda sim luminoso".


Com agências internacionais


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