São Paulo, domingo, 25 de setembro de 2005

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Gângsteres de Hong Kong invadem DVD

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Lançado sem nenhum estardalhaço no mercado de vídeo brasileiro e com um título para lá de inadequado, "Conflitos Internos" é o maior sucesso do cinema de ação de Hong Kong dos últimos anos. O silêncio talvez se explique por Hollywood estar produzindo uma refilmagem da mesma história, com direção de Martin Scorsese e elenco que inclui Leonardo DiCaprio, Matt Damon e Jack Nicholson.
O filme tem um roteiro de grandes qualidades com imenso potencial de público -ou seja, trata-se de material perfeito para ser retrabalhado por Scorsese. O ponto de partida do original asiático, que foi produzido em 2002 e fez tanto sucesso que gerou duas continuações no ano seguinte, é de simplicidade e simetria brilhantes. Dois grandes astros do cinema asiático, Tony Leung e Andy Lau, vivem respectivamente um policial que finge ser gângster e um gângster que finge ser policial. Ainda jovens, foram treinados por mentores para serem espiões, infiltrando-se em campo inimigo. Em determinada hora cada um precisará descobrir quem é o espião do lado oposto.
O fato de passarem um longo tempo (mais de dez anos) com identidades falsas fez com que já não saibam com clareza quem são. Os dois mantêm, ainda, relacionamentos altamente conflituosos com seus chefes, por se dividirem entre a lealdade às figuras paternas que eles representam e a revolta por terem sido lançados em uma missão traiçoeira.
Toda essa rica base psicológica, no entanto, é tratada com uma sem-cerimônia que enriquece o desenvolvimento do filme. "Conflitos Internos" é direto e trabalha a partir da ação, apesar de não dispensar grande sofisticação no tratamento da imagem. As seqüências exploram de forma brilhante o tema da imagem especular, aproveitando o próprio ambiente urbano e as paredes de vidro para criar um labirinto visual de impacto. O longa tem supervisão do fotógrafo Christopher Doyle, o gênio por trás da câmera dos filmes de Wong Kar-wai.
Levanta, ainda, discussões pertinentes nestes tempos de "globalização" do cinema. Ele é um exemplo da possibilidade de desenvolver uma indústria que gere obras vitais, não necessariamente presas a visões nacionalistas, mas representativas das questões relacionadas à história de Hong Kong, como a própria identidade.


Conflitos Internos
    
Direção: Andrew Lau e Alan Mak
Distribuidora: Buena Vista; só para locação



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