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Gângsteres de Hong Kong invadem DVD
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Lançado sem nenhum estardalhaço no mercado de vídeo
brasileiro e com um título para lá
de inadequado, "Conflitos Internos" é o maior sucesso do cinema
de ação de Hong Kong dos últimos anos. O silêncio talvez se explique por Hollywood estar produzindo uma refilmagem da mesma história, com direção de Martin Scorsese e elenco que inclui
Leonardo DiCaprio, Matt Damon
e Jack Nicholson.
O filme tem um roteiro de grandes qualidades com imenso potencial de público -ou seja, trata-se de material perfeito para ser
retrabalhado por Scorsese. O
ponto de partida do original asiático, que foi produzido em 2002 e
fez tanto sucesso que gerou duas
continuações no ano seguinte, é
de simplicidade e simetria brilhantes. Dois grandes astros do cinema asiático, Tony Leung e
Andy Lau, vivem respectivamente um policial que finge ser gângster e um gângster que finge ser policial. Ainda jovens, foram treinados por mentores para serem espiões, infiltrando-se em campo
inimigo. Em determinada hora
cada um precisará descobrir
quem é o espião do lado oposto.
O fato de passarem um longo
tempo (mais de dez anos) com
identidades falsas fez com que já
não saibam com clareza quem
são. Os dois mantêm, ainda, relacionamentos altamente conflituosos com seus chefes, por se dividirem entre a lealdade às figuras
paternas que eles representam e a
revolta por terem sido lançados
em uma missão traiçoeira.
Toda essa rica base psicológica,
no entanto, é tratada com uma
sem-cerimônia que enriquece o
desenvolvimento do filme. "Conflitos Internos" é direto e trabalha
a partir da ação, apesar de não
dispensar grande sofisticação no
tratamento da imagem. As seqüências exploram de forma brilhante o tema da imagem especular, aproveitando o próprio ambiente urbano e as paredes de vidro para criar um labirinto visual
de impacto. O longa tem supervisão do fotógrafo Christopher
Doyle, o gênio por trás da câmera
dos filmes de Wong Kar-wai.
Levanta, ainda, discussões pertinentes nestes tempos de "globalização" do cinema. Ele é um
exemplo da possibilidade de desenvolver uma indústria que gere
obras vitais, não necessariamente
presas a visões nacionalistas, mas
representativas das questões relacionadas à história de Hong
Kong, como a própria identidade.
Conflitos Internos
Direção: Andrew Lau e Alan Mak
Distribuidora: Buena Vista; só para
locação
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