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Comédia "rock" setentista dá largada ao Festival do Rio
"1972" abriu competição de filmes brasileiros; 1º dia teve também première de "Os 12 Trabalhos", segundo longa-metragem do paulista Ricardo Elias
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL AO RIO
A competição de longas brasileiros no Festival do Rio começou com "uma comédia romântica e fantasia rock'n'roll",
conforme o diretor José Emílio
Rondeau define seu "1972", exibido na última sexta.
Júlia (Dandara Guerra, filha
da atriz Claudia Ohana com o
cineasta Ruy Guerra), garota da
zona sul carioca, e Snoopy (o
estreante Rafael Rocha), suburbano de Realengo, encontram-se no ano do título -durante a ditadura militar brasileira, portanto- quando tentam assistir a "Gimme Shelter",
documentário sobre os Stones.
Oficiosamente censurada, a
sessão sequer começa e ainda
termina em repressão policial
aos espectadores frustrados.
O episódio do quebra-quebra
no cinema é baseado em memórias reais de Rondeau e da
roteirista e co-diretora Ana
Maria Bahiana, que tem larga
carreira de crítica de cinema.
Mas a conjuntura política do
período não ocupa mais do que
essa faceta lateral do filme, todo debruçado sobre o casal e as
dificuldades de seu amor.
Há a melhor amiga dela, também interessada nele; há o melhor amigo dele e guitarrista da
banda (vivido por Bem Gil, filho do músico e ministro da
Cultura, Gilberto Gil), que duvida do romance; e há o almofadinha "paulista metido a carioca" que disputa o coração dela.
Para Rondeau, a Buena Vista,
que lançará o longa nos cinemas em 24/11, terá o "desafio"
de atrair os dois públicos-alvo
da produção: "Quem tem mais
de 40 anos e a memória da época e os jovens de hoje".
A aposta de "Os 12 Trabalhos", segundo longa do paulista Ricardo Elias ("De Passagem"), concorrente apresentado no sábado, é outra.
O que Elias propõe é, de novo, uma visão de São Paulo (a de
hoje) a partir da periferia, com
um jovem negro em idade de
formação no papel principal.
Heracles (Sidney Santiago),
depois de uma passagem pela
Febem, é posto à prova por um
dia, numa agência de motoboys. Se tudo der certo, terá o
emprego. Tudo dá certo. E errado também.
O diretor reconhece o parentesco temático deste seu novo
longa com o anterior. "O jovem
das classes C e D é mal representado no audiovisual. Normalmente, ele é associado à
violência. Interessa mostrar
outra visão", diz o cineasta. Releitura do mito de Hércules, o
filme faz com que seu protagonista viva "proezas hercúleas
para tentar mudar de vida", como cita Elias.
Quanto à forma, Elias afirma
haver-se sentido "mais seguro"
para experimentar em "Os 12
Trabalhos" maior dose de "ousadia formal do que no [trabalho] anterior".
Assim como "1972", o terceiro longa brasileiro na disputa,
"Sonhos e Desejos", de Marcelo
Santiago, programado para ontem, é ambientado na década
de 70, desta vez com mais ênfase na resistência à ditadura.
Hoje, é a vez do produtor Flávio Tambellini exibir "O Passageiro - Segredos de Adulto", título que leva a assinatura dele
na direção.
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