São Paulo, sexta-feira, 25 de setembro de 2009

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Inocentes voltam aos anos 80 esta noite

Com sua formação atual, banda punk paulistana faz show hoje só com canções compostas pelo grupo entre 1981 e 1983

"Nós já vivíamos uma cena independente naquela época", diz Clemente; banda lançou em 1986 o disco cult "Pânico em SP"

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

"Nós estamos aqui para revolucionar a música popular brasileira, pintar de negro a asa branca, atrasar o trem das onze, pisar sobre as flores de Geraldo Vandré e fazer da Amélia uma mulher qualquer." Esse é Clemente, dos Inocentes, em declaração -publicada em 1982 na revista "Galery Around"- que sintetizava as intenções dos punks brasileiros da época.
Passado mais de um quarto de década, Clemente, hoje com 46 anos, retoma nesta noite o espírito combativo em um show no Astronete que terá apenas canções compostas pela banda entre 1981 e 1983. "Serão 14 músicas", revela.
"Mas o show deve durar uns 15 minutos, porque as músicas são muito curtas. Quem chegar um pouco atrasado vai perder."
A apresentação será com a formação atual dos Inocentes (além de Clemente como vocalista, o guitarrista Ronaldo Passos, o baixista Anselmo Guarde e o baterista Nonô), banda nascida em 1981. À época, tinha Ariel como vocalista -Clemente era o baixista.
Olhando para trás, para o manifesto escarrado na MPB em 1982, qual o legado deixado pelos Inocentes e pelo punk?
"Influenciamos o mangue beat, por exemplo, que veio para inverter tudo, fazer música brasileira misturada com um monte de coisas. Já vivíamos uma cena independente naquela época", afirma.

Documentário
Um dos primeiros trabalhos de Fernando Meirelles foi o documentário "Garotos do Subúrbio", exibido no Masp em 1983. "Mas nós xingamos tanto o Meirelles que ele desistiu de fazer outras exibições", brinca Clemente. "É que foram entrevistados meninos que não eram punks de verdade. Isso nos deixou revoltados. Éramos moleques, não gostávamos de nada.
Hoje, vejo que o filme é bom."
Em 1983, os Inocentes lançariam o primeiro disco. Mas as 13 músicas gravadas foram censuradas. "Eu mudei algumas frases, alguns nomes e liberaram três. Então lançamos o compacto "Miséria e Fome"." (O disco todo foi lançado em 1988 pelo selo Devil Discos.)
Cansados do punk, os integrantes acabaram com a banda no final de 1983. "Estávamos de saco cheio. Saía muita briga entre os punks, não queríamos ser uma gangue, queríamos tocar."
Os Inocentes voltaram em 1984 -com som mais próximo de nomes como Ira! e 365 do que de Ratos de Porão e Cólera.
"E aí houve mais encheção de saco", lembra Clemente. "Éramos traidores do movimento, cobrávamos cachê pra tocar.
Veja só, cobrar cachê era uma heresia... Mas construímos um público maior, de skatistas, de surfistas. Unimos várias tribos em torno da banda."

Quase pop
O grupo tornou-se quase um nome pop -chegou a abrir shows dos Titãs na época do disco "Cabeça Dinossauro":
"Mas depois percebemos que eles estavam roubando umas frases nossas, uns conceitos, e aí pulamos fora. Eles eram pop e, de repente, viraram a banda mais punk do Brasil?".
Os Inocentes assinaram com a Warner e lançaram três discos, entre eles o cult "Pânico em SP" (1986). "Foi bom porque ser independente era um parto na época. Dependíamos da nossa própria grana, da nossa própria distribuição. Não existia uma cena independente. Com a Warner, tínhamos uma estrutura para produzir."
A gravadora, segundo Clemente, não se intrometia na música do grupo. "Até fazíamos umas autossabotagens. Não íamos a certos programas de televisão, por exemplo. Claro que a gente não vendeu nada. Mas tudo bem", ri o eterno punk, pai de três filhos.


INOCENTES

Quando: hoje, a partir das 22h
Onde: Astronete (r. Matias Aires, 183-B; tel. 0/xx/11/3151-4568)
Quanto: R$ 18
Classificação: 18 anos




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