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Inocentes voltam aos anos 80 esta noite
Com sua formação atual, banda punk paulistana faz show hoje só com canções compostas pelo grupo entre 1981 e 1983
"Nós já vivíamos uma cena independente naquela época", diz Clemente; banda lançou em 1986 o disco cult "Pânico em SP"
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
"Nós estamos aqui para revolucionar a música popular brasileira, pintar de negro a asa
branca, atrasar o trem das onze,
pisar sobre as flores de Geraldo
Vandré e fazer da Amélia uma
mulher qualquer." Esse é Clemente, dos Inocentes, em declaração -publicada em 1982
na revista "Galery Around"-
que sintetizava as intenções
dos punks brasileiros da época.
Passado mais de um quarto
de década, Clemente, hoje com
46 anos, retoma nesta noite o
espírito combativo em um
show no Astronete que terá
apenas canções compostas pela
banda entre 1981 e 1983.
"Serão 14 músicas", revela.
"Mas o show deve durar uns 15
minutos, porque as músicas são
muito curtas. Quem chegar um
pouco atrasado vai perder."
A apresentação será com a
formação atual dos Inocentes
(além de Clemente como vocalista, o guitarrista Ronaldo Passos, o baixista Anselmo Guarde
e o baterista Nonô), banda nascida em 1981. À época, tinha
Ariel como vocalista -Clemente era o baixista.
Olhando para trás, para o
manifesto escarrado na MPB
em 1982, qual o legado deixado
pelos Inocentes e pelo punk?
"Influenciamos o mangue
beat, por exemplo, que veio para inverter tudo, fazer música
brasileira misturada com um
monte de coisas. Já vivíamos
uma cena independente naquela época", afirma.
Documentário
Um dos primeiros trabalhos
de Fernando Meirelles foi o documentário "Garotos do Subúrbio", exibido no Masp em
1983. "Mas nós xingamos tanto
o Meirelles que ele desistiu de
fazer outras exibições", brinca
Clemente. "É que foram entrevistados meninos que não eram
punks de verdade. Isso nos deixou revoltados. Éramos moleques, não gostávamos de nada.
Hoje, vejo que o filme é bom."
Em 1983, os Inocentes lançariam o primeiro disco. Mas as
13 músicas gravadas foram censuradas. "Eu mudei algumas
frases, alguns nomes e liberaram três. Então lançamos o
compacto "Miséria e Fome"." (O
disco todo foi lançado em 1988
pelo selo Devil Discos.)
Cansados do punk, os integrantes acabaram com a banda
no final de 1983. "Estávamos de
saco cheio. Saía muita briga entre os punks, não queríamos ser
uma gangue, queríamos tocar."
Os Inocentes voltaram em
1984 -com som mais próximo
de nomes como Ira! e 365 do
que de Ratos de Porão e Cólera.
"E aí houve mais encheção de
saco", lembra Clemente. "Éramos traidores do movimento,
cobrávamos cachê pra tocar.
Veja só, cobrar cachê era uma
heresia... Mas construímos um
público maior, de skatistas, de
surfistas. Unimos várias tribos
em torno da banda."
Quase pop
O grupo tornou-se quase um
nome pop -chegou a abrir
shows dos Titãs na época do
disco "Cabeça Dinossauro":
"Mas depois percebemos que
eles estavam roubando umas
frases nossas, uns conceitos, e
aí pulamos fora. Eles eram pop
e, de repente, viraram a banda
mais punk do Brasil?".
Os Inocentes assinaram com
a Warner e lançaram três discos, entre eles o cult "Pânico
em SP" (1986). "Foi bom porque ser independente era um
parto na época. Dependíamos
da nossa própria grana, da nossa própria distribuição. Não
existia uma cena independente. Com a Warner, tínhamos
uma estrutura para produzir."
A gravadora, segundo Clemente, não se intrometia na
música do grupo. "Até fazíamos
umas autossabotagens. Não íamos a certos programas de televisão, por exemplo. Claro que a
gente não vendeu nada. Mas tudo bem", ri o eterno punk, pai
de três filhos.
INOCENTES
Quando: hoje, a partir das 22h
Onde: Astronete (r. Matias Aires,
183-B; tel. 0/xx/11/3151-4568)
Quanto: R$ 18
Classificação: 18 anos
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