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CRÍTICA TEATRO
"Orfeu" une Rio mítico ao atual
Montagem dirigida por Freire Filho acrescenta poeta narrador ao musical de Tom e Vinicius
LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA
A musa antiga ainda canta. "Orfeu", encenação do
musical criado por Vinicius
de Moraes e Antônio Carlos
Jobim em 1956, tem na parceria desses dois artistas
maiores o seu melhor trunfo.
O espetáculo de Aderbal
Freire Filho respeita a estrutura do poema dramático de
Vinicius, mantendo-se fiel
ao mito grego de Orfeu, o herói cuja lira era tão inspirada
que encantava os animais e
submetia à beleza de seu
canto até as temidas sereias.
Mais do que isso, permite-se introduzir um novo personagem para aproximar a
narrativa de nosso tempo e
produzir um diálogo interessante entre o Rio de Janeiro idílico da década de
1950 e a realidade contemporânea.
É o poeta, personagem
alegórico, que, como um
apresentador no teatro de
revista, costura a trama.
Essa intervenção na dramaturgia tem pontos altos,
como a submissão de traficantes aos acordes inspirados do protagonista, ou a cena em que este e sua amada,
Eurídice, refugiam-se da polícia em um baile funk.
Outros menos felizes, como a intersecção de poemas
avulsos de Vinícius, que injustificados dramaticamente parecem sobrar.
Quanto aos atores, todos
afrodescendentes como o
elenco da primeira montagem, que era vinculado ao
Teatro Experimental do Negro, apresentam um padrão
homogêneo de boa plasticidade corporal e capacidade
musical limitada.
A exceção é Wladimir Pinheiro, o poeta narrador,
que além de ótimo ator é um
cantor excepcional.
Érico Bras, que interpreta
Orfeu, canta afinado e se
tresdobra com seu violão,
mas fica muito aquém da
voz irresistível que se esperaria do personagem.
Talvez se o espetáculo
ocorresse em um teatro,
com melhores condições
acústicas, essas limitações
pudessem ser minimizadas.
A compensar esse problema, o desempenho dos músicos, sob a primorosa direção musical de Jaques Morelenbaum e Jaime Alem, faz
jus à qualidade das 24 canções apresentadas.
Tom e Vinicius, chamados à cena, revelam-se dignos porta-vozes de Orfeu.
ORFEU
ONDE HSBC Brasil
(r. Bragança Paulista, 1281;
tel. 0/xx/11/4003-1212)
QUANDO qui., às 21h; sex. e sab.,
às 22h; dom., às 19h; até 3/ 10
QUANTO de R$ 30 a R$ 180
AVALIAÇÃO bom
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