São Paulo, sábado, 25 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

CRÍTICA TEATRO

"Orfeu" une Rio mítico ao atual

Montagem dirigida por Freire Filho acrescenta poeta narrador ao musical de Tom e Vinicius

LUIZ FERNANDO RAMOS
CRÍTICO DA FOLHA

A musa antiga ainda canta. "Orfeu", encenação do musical criado por Vinicius de Moraes e Antônio Carlos Jobim em 1956, tem na parceria desses dois artistas maiores o seu melhor trunfo.
O espetáculo de Aderbal Freire Filho respeita a estrutura do poema dramático de Vinicius, mantendo-se fiel ao mito grego de Orfeu, o herói cuja lira era tão inspirada que encantava os animais e submetia à beleza de seu canto até as temidas sereias.
Mais do que isso, permite-se introduzir um novo personagem para aproximar a narrativa de nosso tempo e produzir um diálogo interessante entre o Rio de Janeiro idílico da década de 1950 e a realidade contemporânea.
É o poeta, personagem alegórico, que, como um apresentador no teatro de revista, costura a trama.
Essa intervenção na dramaturgia tem pontos altos, como a submissão de traficantes aos acordes inspirados do protagonista, ou a cena em que este e sua amada, Eurídice, refugiam-se da polícia em um baile funk.
Outros menos felizes, como a intersecção de poemas avulsos de Vinícius, que injustificados dramaticamente parecem sobrar.
Quanto aos atores, todos afrodescendentes como o elenco da primeira montagem, que era vinculado ao Teatro Experimental do Negro, apresentam um padrão homogêneo de boa plasticidade corporal e capacidade musical limitada.
A exceção é Wladimir Pinheiro, o poeta narrador, que além de ótimo ator é um cantor excepcional.
Érico Bras, que interpreta Orfeu, canta afinado e se tresdobra com seu violão, mas fica muito aquém da voz irresistível que se esperaria do personagem.
Talvez se o espetáculo ocorresse em um teatro, com melhores condições acústicas, essas limitações pudessem ser minimizadas.
A compensar esse problema, o desempenho dos músicos, sob a primorosa direção musical de Jaques Morelenbaum e Jaime Alem, faz jus à qualidade das 24 canções apresentadas. Tom e Vinicius, chamados à cena, revelam-se dignos porta-vozes de Orfeu.


ORFEU

ONDE HSBC Brasil (r. Bragança Paulista, 1281; tel. 0/xx/11/4003-1212)
QUANDO qui., às 21h; sex. e sab., às 22h; dom., às 19h; até 3/ 10
QUANTO de R$ 30 a R$ 180
AVALIAÇÃO bom



Texto Anterior: Teatro: Estreia em SP traz Nelson Rodrigues inspirado em Rivera
Próximo Texto: Metropolitan lança óperas ao vivo nos cinemas
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.