São Paulo, sexta, 25 de setembro de 1998

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"Lua de Outubro" narra aventura gaúcha "made in" Mercosul

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Uma das duas primeiras co-produções do Mercosul (a outra é "O Toque do Oboé"), "Lua de Outubro", de Henrique de Freitas Lima, junta esforços brasileiros e argentinos para contar uma história bem gaúcha, inspirada, aliás, em três contos do escritor uruguaio Mario Arregui.
A ação é transferida para 1924, no pampa gaúcho, perto da fronteira com o Uruguai, quando os "chimangos" (republicanos fiéis ao governo central) tinham acabado de derrotar os "maragatos" (federalistas, que queriam maior autonomia para o Rio Grande).
Três histórias se entrelaçam nesse contexto. A principal é a do capitão republicano Pedro Arzábal (Marcos Winter), que quer esquecer a guerra, estabelecer fazenda, criar família.
Mas os ódios ainda estão à flor da pele na região, e o capitão é chamado a participar da luta mais uma vez, principalmente por amor a uma mulher.
Aí entra a segunda história, do desditado amor entre Arzábal e Leonor (a atriz espanhola Beatriz Rico), filha de um caudilho da região (chimango, por suposto), don Marcial López (o argentino Alberto de Mendoza).
Recém-chegada de um colégio de freiras, a moça logo revela ter um estranho pacto com a Lua, senão com coisa pior.
A terceira linha do enredo, de tonalidade cômica, diz respeito a um camponês bêbado (Paulo Silva) que perde o cavalo e recorre a uma bruxa (Elena Lucena, argentina) para encontrá-lo.
Da junção dessas três tramas vêm a força e a fraqueza de "Lua de Outubro". Por um lado, a alternância entre aventura, drama e comédia torna o filme agradável, impedindo-o de cair na monotonia.
Mas a "emenda" das histórias nem sempre é bem feita, e o espectador tem a impressão de ver vários filmes ao mesmo tempo, o que dificulta seu envolvimento.
Uma curiosidade: o roteiro foi escrito por Alfredo Sirkis, ex-guerrilheiro e hoje líder político dos ecologistas.
No mais, a linguagem narrativa é convencional, mas, quase sempre, competente. Percebe-se ao longo de todo o filme uma preocupação com a clareza, uma legítima aspiração à comunicação imediata com o público.
Resta saber se esse público "popular" ainda existe, ou foi totalmente substituído pela classe média Miami-shopping, que só concebe um entretenimento que tenha perseguições de carros e explosões de prédios.
Há em "Lua de Outubro" uma certa irregularidade de interpretação -talvez em função da heterogeneidade do elenco multinacional-, compensada por um tratamento interessante da cultura local (o trabalho numa fazenda de gado, o lazer nas tabernas, as expressões gauchescas).
Talvez para um gaúcho, ou para um estudioso da cultura regional, essas coisas sejam óbvias, mas para o resto do Brasil é mais uma chance de se aproximar desse outro país, distante e indecifrável, que é o Sul.
²
Filme: Lua de Outubro Produção: Brasil/Argentina/Uruguai, 1997 Direção: Henrique de Freitas Lima Com: Marcos Winter, Beatriz Rico, Alberto de Mendoza, Oscar Simch, Paulo Silva, Elena Lucena Quando: a partir de hoje, no Eldorado 6 e circuito


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