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"Lua de Outubro" narra aventura gaúcha "made in" Mercosul
JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas
Uma das duas primeiras co-produções do Mercosul (a outra é "O
Toque do Oboé"), "Lua de Outubro", de Henrique de Freitas Lima,
junta esforços brasileiros e argentinos para contar uma história
bem gaúcha, inspirada, aliás, em
três contos do escritor uruguaio
Mario Arregui.
A ação é transferida para 1924,
no pampa gaúcho, perto da fronteira com o Uruguai, quando os
"chimangos" (republicanos fiéis
ao governo central) tinham acabado de derrotar os "maragatos" (federalistas, que queriam maior autonomia para o Rio Grande).
Três histórias se entrelaçam nesse contexto. A principal é a do capitão republicano Pedro Arzábal
(Marcos Winter), que quer esquecer a guerra, estabelecer fazenda,
criar família.
Mas os ódios ainda estão à flor da
pele na região, e o capitão é chamado a participar da luta mais uma
vez, principalmente por amor a
uma mulher.
Aí entra a segunda história, do
desditado amor entre Arzábal e
Leonor (a atriz espanhola Beatriz
Rico), filha de um caudilho da região (chimango, por suposto), don
Marcial López (o argentino Alberto de Mendoza).
Recém-chegada de um colégio
de freiras, a moça logo revela ter
um estranho pacto com a Lua, senão com coisa pior.
A terceira linha do enredo, de tonalidade cômica, diz respeito a um
camponês bêbado (Paulo Silva)
que perde o cavalo e recorre a uma
bruxa (Elena Lucena, argentina)
para encontrá-lo.
Da junção dessas três tramas
vêm a força e a fraqueza de "Lua de
Outubro". Por um lado, a alternância entre aventura, drama e comédia torna o filme agradável, impedindo-o de cair na monotonia.
Mas a "emenda" das histórias
nem sempre é bem feita, e o espectador tem a impressão de ver vários filmes ao mesmo tempo, o que
dificulta seu envolvimento.
Uma curiosidade: o roteiro foi
escrito por Alfredo Sirkis, ex-guerrilheiro e hoje líder político dos
ecologistas.
No mais, a linguagem narrativa é
convencional, mas, quase sempre,
competente. Percebe-se ao longo
de todo o filme uma preocupação
com a clareza, uma legítima aspiração à comunicação imediata
com o público.
Resta saber se esse público "popular" ainda existe, ou foi totalmente substituído pela classe média Miami-shopping, que só concebe um entretenimento que tenha
perseguições de carros e explosões
de prédios.
Há em "Lua de Outubro" uma
certa irregularidade de interpretação -talvez em função da heterogeneidade do elenco multinacional-, compensada por um tratamento interessante da cultura local (o trabalho numa fazenda de
gado, o lazer nas tabernas, as expressões gauchescas).
Talvez para um gaúcho, ou para
um estudioso da cultura regional,
essas coisas sejam óbvias, mas para o resto do Brasil é mais uma
chance de se aproximar desse outro país, distante e indecifrável,
que é o Sul.
²
Filme: Lua de Outubro
Produção: Brasil/Argentina/Uruguai, 1997
Direção: Henrique de Freitas Lima
Com: Marcos Winter, Beatriz Rico, Alberto
de Mendoza, Oscar Simch, Paulo Silva, Elena
Lucena
Quando: a partir de hoje, no Eldorado 6 e
circuito
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