São Paulo, sexta, 25 de setembro de 1998

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MÚSICA
O americano Marc Cary, revelação do gênero, falou à Folha sobre seus shows dia 15 no Rio e 16 em SP
Pianista quer botar o Free Jazz para dançar

CARLOS CALADO
especial para a Folha

A depender da vontade do pianista norte-americano Marc Cary, 31, as noites de abertura do próximo Free Jazz Festival, no Rio (dia 15 de outubro) e em São Paulo (dia 16), serão bastante animadas.
"Não queremos que a platéia fique sentada o tempo todo. Vamos fazer o máximo para vê-la dançar e se divertir", prometeu o músico, anteontem, falando à Folha por telefone, de Nova York.
Cary é uma das revelações do gênero nesta década. Depois de integrar bandas de jazzistas veteranos, como a do baterista Art Taylor e das cantoras Betty Carter e Abbey Lincoln, ele lançou-se como solista, três anos atrás.
Seus dois primeiros álbuns, lançados por selos alternativos, ainda permanecem inéditos no Brasil. "Antidote", o terceiro, deve chegar às lojas dos EUA na primeira semana de outubro. Sai pelo selo Arabesque, que também não tem representante oficial aqui.
"Nesse álbum, gravei seis composições minhas, uma de Duke Ellington e uma valsa de Erik Satie, da série "Gnossiennes', conta.
Filho de um percussionista e de uma violoncelista, Cary nasceu em Nova York, mas cresceu em Washington, onde foi exposto desde cedo a uma grande variedade de influências musicais.
"Eu ouvia desde música indígena americana até o jazz de Duke Ellington, Bud Powell e Walter Davis Jr., passando também pela música brasileira. A música que eu faço hoje é uma expressão de tudo o que eu já ouvi. É uma espécie de colagem, formada por diferentes ritmos e sons", diz.
Essa mistura musical inclui também um estilo híbrido cultivado em Washington: o chamado "go-go". Cary começou a praticá-lo ainda na adolescência, tocando teclados em uma banda local, a High Integrity Band.
"As influências rítmicas do "go-go' vêm da África, de Cuba e até do Brasil. É uma música bem diferente", explica o pianista.
Dizendo-se admirador da música brasileira, Cary cita os nomes de Tom Jobim, Astrud Gilberto e Naná Vasconcelos, entre seus favoritos. E se mostra excitado ao saber que o alagoano Hermeto Pascoal também participará do festival.
"Verdade? Eu adoro aquele cara. Eu o encontrei uma vez, na Itália, e ele me ensinou muita coisa", diz.
Diferentemente de outros músicos de sua geração, que têm sido chamados de "young lions" (jovens leões), Cary recusa-se a reproduzir os padrões e clichês musicais do "hard bop" dos anos 50, ou mesmo a tentar imitar o estilo de músicos mais velhos.
"Não me relaciono com a música dessa maneira, tentando repetir o que já foi feito antes. Para mim, a música é uma experiência nova cada vez que eu toco o meu instrumento ou penso nela", diz.



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