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MÚSICA
O americano Marc Cary, revelação do gênero, falou à Folha sobre seus shows dia 15 no Rio e 16 em SP
Pianista quer botar o Free Jazz para dançar
CARLOS CALADO
especial para a Folha
A depender da vontade do pianista norte-americano Marc Cary,
31, as noites de abertura do próximo Free Jazz Festival, no Rio (dia
15 de outubro) e em São Paulo (dia
16), serão bastante animadas.
"Não queremos que a platéia fique sentada o tempo todo. Vamos
fazer o máximo para vê-la dançar e
se divertir", prometeu o músico,
anteontem, falando à Folha por telefone, de Nova York.
Cary é uma das revelações do gênero nesta década. Depois de integrar bandas de jazzistas veteranos,
como a do baterista Art Taylor e
das cantoras Betty Carter e Abbey
Lincoln, ele lançou-se como solista, três anos atrás.
Seus dois primeiros álbuns, lançados por selos alternativos, ainda
permanecem inéditos no Brasil.
"Antidote", o terceiro, deve chegar
às lojas dos EUA na primeira semana de outubro. Sai pelo selo
Arabesque, que também não tem
representante oficial aqui.
"Nesse álbum, gravei seis composições minhas, uma de Duke
Ellington e uma valsa de Erik Satie,
da série "Gnossiennes', conta.
Filho de um percussionista e de
uma violoncelista, Cary nasceu em
Nova York, mas cresceu em Washington, onde foi exposto desde
cedo a uma grande variedade de
influências musicais.
"Eu ouvia desde música indígena
americana até o jazz de Duke
Ellington, Bud Powell e Walter Davis Jr., passando também pela música brasileira. A música que eu faço hoje é uma expressão de tudo o
que eu já ouvi. É uma espécie de
colagem, formada por diferentes
ritmos e sons", diz.
Essa mistura musical inclui também um estilo híbrido cultivado
em Washington: o chamado "go-go". Cary começou a praticá-lo
ainda na adolescência, tocando teclados em uma banda local, a High
Integrity Band.
"As influências rítmicas do "go-go' vêm da África, de Cuba e até do
Brasil. É uma música bem diferente", explica o pianista.
Dizendo-se admirador da música brasileira, Cary cita os nomes de
Tom Jobim, Astrud Gilberto e Naná Vasconcelos, entre seus favoritos. E se mostra excitado ao saber
que o alagoano Hermeto Pascoal
também participará do festival.
"Verdade? Eu adoro aquele cara.
Eu o encontrei uma vez, na Itália, e
ele me ensinou muita coisa", diz.
Diferentemente de outros músicos de sua geração, que têm sido
chamados de "young lions" (jovens leões), Cary recusa-se a reproduzir os padrões e clichês musicais do "hard bop" dos anos 50,
ou mesmo a tentar imitar o estilo
de músicos mais velhos.
"Não me relaciono com a música
dessa maneira, tentando repetir o
que já foi feito antes. Para mim, a
música é uma experiência nova cada vez que eu toco o meu instrumento ou penso nela", diz.
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