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CRÍTICA
Cultura Artística assiste missa neutra de Bach
ARTHUR NESTROVSKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Palavras que vêm à mente depois deste concerto: sólido,
justo, sério, vigoroso, maduro.
Palavras que não vêm: inspirado,
comovente, exuberante, original.
O Gächinger Kantorei é um grande coro, o Bach-Collegium é uma
boa orquestra barroca e Helmuth
Rilling, um dos intérpretes de referência da obra de Bach (1685-1750). Mas sua interpretação da
"Missa em Si Menor" teve algo de
protocolar, ou neutro, muito embora os protocolos fossem altos e
a neutralidade, divina.
Escrita ao longo de mais de 25
anos -na verdade, uma coletânea de peças compostas em várias
ocasiões-, a "Missa" é uma espécie de catedral em música, um
edifício espantoso, que engrandece e diminui cada um de nós. É excepcional até no contexto da música de Bach. Juntamente com a
"Paixão Segundo São Mateus" e a
"Paixão Segundo São João", forma a trilogia máxima da música
sacra barroca.
Virtudes primeiro: o coro é espetacular. Encheu o teatro de música. As 30 vozes valem por 300,
mas cantam com a integração de
três. Rilling, de sua parte, é um
maestro de grandes massas, mais
do que de delicadezas; e isto vale
mesmo para a interpretação das
fugas, conduzidas com fluência (o
que não é fácil) e honestidade (o
que não é comum: quase todo
mundo esconde notas).
Maior virtude: os trompetes.
Em particular o primeiro, Eckhard Schmidt, que também tocou o corne "di caccia" no "Quoniam". Os trompetes barrocos são
ainda mais difíceis do que os modernos; e o corne está no limite do
sacrifício. O trio de trompetistas
não quebrou uma nota, não desviou um quarto de tom. Foi brilhante, prestativo, ornamental,
conforme o caso. Do outro lado
da orquestra, os fagotes responderam à altura.
Menos brilho tiveram os cantores solistas (nomes novos, do circuito médio). Cantaram bem.
Mas faltou o algo-a-mais que inscreve a música na memória. Dos
quatro, a contralto Birgit Remmert tem a maior experiência,
mas canta como se a única experiência que contasse fosse a musical. O "Agnus Dei" pede mais.
Os lindos solos do flautista trouxeram à luz um desequilíbrio que
explica, em parte, a estranha falta
de impacto para um concerto que
tinha tantos motivos para causar
impacto. Flauta de metal (não
madeira, como hoje é regra), interpretação à maneira francesa
antiga (respiração no final das frases, pulso caindo para trás). O
Bach-Collegium parece um tanto
incerto entre momentos e escolas.
Nem voltado para o passado nem
inteiramente para o presente,
Helmuth Rilling rege numa coalizão de centro-esquerda musical.
Nestes dias de fim de século,
quando se vive de exuberâncias e
nuances e originalidades, o gosto
médio não cai no gosto médio de
quem vai ao teatro escutar a "Missa em Si Menor". Cai numa neutralidade, que nem mesmo o brilho das fugas e os floreios dos metais são capazes de mobilizar.
Anteontem, a platéia aplaudiu
muito, com respeito e admiração
por esses músicos tão sérios. Mas
ninguém gritou: "Bravo". O ouvido do povo talvez não chegue a
ser o ouvido de Deus, mas é o que
se tem, e ficou carente de um outro Bach, mais próximo de nós.
Avaliação:
![](http://www.uol.com.br/fsp/images/ep.gif)
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