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"Acho a lei exagerada", afirma produtora do evento
DA REPORTAGEM LOCAL
Como toda criação, o Free Jazz
é a cara de seu criador. Ou melhor, de sua criadora, a produtora
carioca Monique Gardenberg, 40,
da Dueto Produções. A um ano
do último Free Jazz, Monique critica as leis antitabagistas que botarão fim ao festival e diz que deve
se voltar de vez para o cinema
-já dirigiu o longa "Genipapo" e
um curta, "O Diário Noturno".
Leia, a seguir, trechos da entrevista com a produtora.
(CLAUDIA ASSEF)
Folha - O Free Jazz consolidou o
que nesta edição aparece como
uma característica forte: é um produto de vanguarda. Você enxerga
um caráter educador na escalação
dos artistas?
Monique Gardenberg - O festival
sempre se preocupou em mostrar
novas tendências e projetar para
um grande público nomes de importância histórica, mas pouco
conhecidos. Para chamar a atenção e dar credibilidade a essa programação de ponta, tratávamos
de ampará-la no prestígio de nomes consagrados. Com o passar
do tempo, nos liberamos da necessidade do grande nome âncora
para cada talento emergente.
Folha - Este é o penúltimo festival
patrocinado pela marca de cigarro.
A Dueto deve continuar no projeto?
Gardenberg - A relação da Dueto
com a Souza Cruz, ao longo destes
18 anos, tem sido extremamente
feliz porque está baseada em dois
princípios: o respeito e a confiança. Foi um casamento que deu
certo. Não consigo pensar num
novo marido... Apesar de estar
querendo me dedicar ao cinema,
nunca teria coragem de acabar
com o Free Jazz com minhas próprias mãos. Mas, se o [José" Serra
o fizer, vou parar para pensar na
vida e dar uma virada.
Folha - O festival vai fechar no
azul?
Gardenberg - O festival fecha no
azul porque tem o patrocínio da
Souza Cruz, ela cobre aproximadamente 80% dos custos de produção. O restante vem da bilheteria e dos co-patrocinadores, UOL
e Coca-Cola.
Folha - Pela primeira vez, há um
palco dedicado à música eletrônica. Por que não há mais DJs brasileiros, num ano em que a eletrônica parece ter acontecido no país?
Gardenberg - A idéia, para este
ano apenas, era editar o [clube"
Cream no Brasil. Assim, a programação foi montada pela equipe
de programação deles. Temos
planos especiais para os DJs brasileiros para o último Free Jazz.
Folha - O Brasil estaria maduro o
suficiente para encarar apresentações sofisticadas, como Sigur Rós e
Aphex Twin... Não estaria também
maduro o suficiente para ter artistas nacionais em mais palcos? O
festival não ganha assim um caráter muito internacionalista?
Gardenberg - O Free Jazz é uma
oportunidade, acima de tudo, de
termos acesso a shows internacionais sofisticados, atrações não comerciais que jamais poderiam tocar individualmente no Brasil.
Hoje é mais fácil trazer Madonna
do que Sonic Youth ou Belle & Sebastian. Ou se faz megashow,
bancado por patrocinador, ou
não se faz muita coisa.
Folha - Com ingressos a preços
pouco acessíveis para boa parte da
população e escalação sofisticada,
o Free Jazz é visto por alguns como
um festival elitista. Há uma preocupação da organização do festival
para torná-lo mais acessível?
Gardenberg - O Free Jazz opera a
preços de ingressos bem baixos. O
público estudante, que hoje é
maioria, paga R$ 15, R$ 20 e R$ 25
para ver os shows de apelo mais
jovem. É claro que, para quem
não tem o que comer, a comparação não ajuda em nada. O preço
cobrado ainda é o mais baixo praticado para o que é oferecido e, se
você comparar a qualquer temporada de show nacional de primeira linha nas principais casas de espetáculo do Brasil, você verá que
nossos preços estão subsidiados.
Graças à Souza Cruz...
Folha - Você já se incomodou com
o fato de o festival ser bancado por
uma empresa de cigarros?
Gardenberg - Não. A lei é muito
exagerada. Fico impressionada
como o Ministério da Saúde criou
um fato com isso tudo.
Folha - Você fuma?
Gardenberg - Socialmente...
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