São Paulo, sexta-feira, 25 de outubro de 2002

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CINEMA/ESTRÉIA

"MISSÃO CLEÓPATRA"

Chega ao Brasil segundo filme da série do herói gaulês

Para diretor, novo Asterix encampa multiculturalismo

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

Diz a música que "quem não gosta de samba bom sujeito não é". Mas a sabedoria popular errou de novo. O diretor e ator Alain Chablat, apesar de detestar samba, é um sujeito simpático e pai do maior sucesso do cinema francês em 2001: "Asterix e Obelix: Missão Cleópatra".
O filme, uma comédia deliciosa para crianças e adultos, fez 14,5 milhões de ingressos na França, batendo até mesmo o blockbuster "Harry Potter" (9 milhões). É também uma das produções mais caras do cinema francês.
Baseado na história em quadrinhos de Albert Uderzo e René Goscinny, "Missão Cleópatra" conta as aventuras de Asterix, Obelix e Panoramix no Egito, para onde eles viajam com a intenção de ajudar o arquiteto Numerobis a construir em tempo recorde um palácio para o imperador romano Júlio César.
O filme traz o astro Gérard Depardieu de volta ao papel de Obelix (que ele interpretou no inferior "Asterix e Obelix contra César") e reúne alguns dos principais cômicos franceses da TV e do cinema. O próprio diretor faz César, tomado de amores por Cleópatra (Monica Belucci).
Na entrevista concedida à Folha, Chablat, 45, diz que seu filme é uma fábula sobre as vantagens do multiculturalismo e tenta explicar por que o samba lhe deixa tão nervoso.

Folha - Seu filme pode ser compreendido em qualquer parte do mundo, mas ele parece mais inteligente e satírico quando se conhece particularidades da vida francesa. O sr. não tem medo de que o seu humor perca terreno em outros países?
Alain Chablat -
Como as versões do filme são feitas pelos tradutores das histórias em quadrinhos nos diferentes países, gente que já está familiarizada com o universo de Asterix, estamos dando toda a liberdade para que eles mudem as coisas, adaptando as gags para as culturas locais. Onde tem uma canção francesa, que coloquem uma canção brasileira que faça o mesmo efeito, por exemplo. Eu tentei tirar ao máximo as "blagues" francesas, mas sei que há coisas difíceis de adaptar e muita coisa vai se perder.

Folha - Superproduções são um bom caminho para o cinema francês atual conseguir enfrentar Hollywood?
Chablat -
Acho que um pequeno filme também pode rivalizar com uma grande produção. Veja o sucesso que está fazendo "Ser e Ter" (documentário de Nicolas Philipert). Mesmo nos EUA, há excelentes filmes de baixo orçamento, como "Jogando Boliche por Columbine". Não sou antiamericano, mas é preciso lutar para não termos apenas superproduções americanas nos cinemas. Todo filme, porém, precisa ser interessante e emocionante. Os ingressos são caros, e o espectador deve se sentir recompensado pelo que pagou na bilheteria.

Folha - Sendo uma história de luta contra o império romano, o sr. acha que o seu filme é também uma fábula contra a mundialização neoliberal?
Chablat -
Sim, um pouco. Mas é sobretudo sobre as vantagens das misturas culturais. Essa é a mensagem política do filme, para mim. Interessa-me que os gauleses possam ir ao Egito e retornem mais ricos depois de entrarem em contato com a cultura de lá. Mas também gosto de César. No plano histórico, o seu encontro com Cleópatra e a relação amorosa entre os dois acontecem quando ambos estão enfraquecidos em seus poderes. É um mito formidável o de César e Cleópatra.

Folha - Fiquei sabendo que o sr. detesta música brasileira...
Chablat -
[Ri] Na verdade, não gosto é do samba. Não sei por quê. Precisaria fazer uma regressão para saber se, numa vida anterior, tive problemas com o Carnaval e o samba. Ele me estressa. Talvez seja por causa da cuíca: "Cui-cui-cui-cui-cui..." [ele imita perfeitamente o som da cuíca]. Esse som me dá nos nervos.


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