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CINEMA/ESTRÉIA
"MISSÃO CLEÓPATRA"
Chega ao Brasil segundo filme da série do herói gaulês
Para diretor, novo Asterix encampa multiculturalismo
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
Diz a música que "quem não
gosta de samba bom sujeito não
é". Mas a sabedoria popular errou
de novo. O diretor e ator Alain
Chablat, apesar de detestar samba, é um sujeito simpático e pai do
maior sucesso do cinema francês
em 2001: "Asterix e Obelix: Missão Cleópatra".
O filme, uma comédia deliciosa
para crianças e adultos, fez 14,5
milhões de ingressos na França,
batendo até mesmo o blockbuster
"Harry Potter" (9 milhões). É
também uma das produções mais
caras do cinema francês.
Baseado na história em quadrinhos de Albert Uderzo e René
Goscinny, "Missão Cleópatra"
conta as aventuras de Asterix,
Obelix e Panoramix no Egito, para onde eles viajam com a intenção de ajudar o arquiteto Numerobis a construir em tempo recorde um palácio para o imperador
romano Júlio César.
O filme traz o astro Gérard Depardieu de volta ao papel de Obelix (que ele interpretou no inferior
"Asterix e Obelix contra César") e
reúne alguns dos principais cômicos franceses da TV e do cinema.
O próprio diretor faz César, tomado de amores por Cleópatra (Monica Belucci).
Na entrevista concedida à Folha, Chablat, 45, diz que seu filme
é uma fábula sobre as vantagens
do multiculturalismo e tenta explicar por que o samba lhe deixa
tão nervoso.
Folha - Seu filme pode ser compreendido em qualquer parte do
mundo, mas ele parece mais inteligente e satírico quando se conhece
particularidades da vida francesa.
O sr. não tem medo de que o seu
humor perca terreno em outros
países?
Alain Chablat - Como as versões
do filme são feitas pelos tradutores das histórias em quadrinhos
nos diferentes países, gente que já
está familiarizada com o universo
de Asterix, estamos dando toda a
liberdade para que eles mudem as
coisas, adaptando as gags para as
culturas locais. Onde tem uma
canção francesa, que coloquem
uma canção brasileira que faça o
mesmo efeito, por exemplo. Eu
tentei tirar ao máximo as "blagues" francesas, mas sei que há
coisas difíceis de adaptar e muita
coisa vai se perder.
Folha - Superproduções são um
bom caminho para o cinema francês atual conseguir enfrentar
Hollywood?
Chablat - Acho que um pequeno
filme também pode rivalizar com
uma grande produção. Veja o sucesso que está fazendo "Ser e Ter"
(documentário de Nicolas Philipert). Mesmo nos EUA, há excelentes filmes de baixo orçamento,
como "Jogando Boliche por Columbine". Não sou antiamericano, mas é preciso lutar para não
termos apenas superproduções
americanas nos cinemas. Todo
filme, porém, precisa ser interessante e emocionante. Os ingressos
são caros, e o espectador deve se
sentir recompensado pelo que pagou na bilheteria.
Folha - Sendo uma história de luta contra o império romano, o sr.
acha que o seu filme é também
uma fábula contra a mundialização
neoliberal?
Chablat - Sim, um pouco. Mas é
sobretudo sobre as vantagens das
misturas culturais. Essa é a mensagem política do filme, para
mim. Interessa-me que os gauleses possam ir ao Egito e retornem
mais ricos depois de entrarem em
contato com a cultura de lá. Mas
também gosto de César. No plano
histórico, o seu encontro com
Cleópatra e a relação amorosa entre os dois acontecem quando
ambos estão enfraquecidos em
seus poderes. É um mito formidável o de César e Cleópatra.
Folha - Fiquei sabendo que o sr.
detesta música brasileira...
Chablat - [Ri] Na verdade, não
gosto é do samba. Não sei por
quê. Precisaria fazer uma regressão para saber se, numa vida anterior, tive problemas com o Carnaval e o samba. Ele me estressa.
Talvez seja por causa da cuíca:
"Cui-cui-cui-cui-cui..." [ele imita
perfeitamente o som da cuíca].
Esse som me dá nos nervos.
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