São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2008

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32ª MOSTRA DE SP

Crítica/"Berlin Alexanderplatz"

Restaurada e na íntegra, obra-prima de Fassbinder chega a SP

Produção feita para a TV, com 14 episódios e mais de 15 horas de duração, começa a ser exibida a partir de hoje

SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA

Não verás Alexanderplatz quase nenhuma: a praça Alexander, no lado oriental de Berlim, emblema da modernidade urbana nas primeiras décadas do século 20, mal é entrevista em "Berlin Alexanderplatz" (1980), o "megafilme" de Rainer Werner Fassbinder (1945-1982), com 14 episódios e cerca de 15 horas, que a Mostra exibirá em versão restaurada a partir de hoje.
O paradoxo já havia sido estabelecido pelo romance homônimo de Alfred Döblin (1878-1957), marco da literatura dedicada à vida feérica das metrópoles, cujo subtítulo é "A História de Franz Biberkopf".
Dele e de muitos outros berlinenses comuns na Alemanha durante a crise da República de Weimar (1919-1933).
Adaptar o livro era um "sonho de infância" para Fassbinder, então no auge da carreira.
A leitura de Döblin, segundo ele, o transformou; era um "romance barato" em que prevalecia a forma, por meio de colagem e narrativas sobrepostas, expondo terrivelmente os personagens, mas "com ternura".
"Alexanderplatz" começou a ser rodado em 1979. As filmagens foram concluídas em 1980 e a pós-produção finalizada em agosto. Nos dois anos seguintes, ele lançaria seus quatro últimos longas: "Lili Marlene", "Lola", "O Desespero de Veronika Voss" e "Querelle".
Prolífico, Fassbinder sempre foi: morto aos 37, realizou mais de 40 filmes, além de escrever peças de teatro. Mas o período que cerca "Berlin Alexanderplatz" foi especial, o da maturidade precoce, combinando talento e ousadia -que o levou, na adaptação de Döblin, a escrever e dirigir uma produção para a TV que definia como um "filme antitelevisão".
Recebeu críticas severas na estréia por ser "escuro demais".
Depois, foi lançado nos cinemas e, hoje, alcançou o status de obra-prima do cineasta, da mesma linhagem de outros "megafilmes" germânicos, como "Hitler - Um Filme da Alemanha" (1977), de Hans-Jürgen Syberberg, com mais de sete horas, e "Heimat" (1984), de Edgar Reitz, com 11 episódios e cerca de 16 horas.
Biberkopf (atuação extraordinária de Günter Lamprecht) é um ex-funcionário do setor de transportes que cumpriu pena na prisão de Tegel. Ao sair, procura reconstruir a vida.
Quer apenas ser um "homem decente", bom e honesto. Não será preciso aguardar 15 horas para antever se ele conseguirá.

BERLIN ALEXANDERPLATZ
Quando: hoje, às 17h50 (episódio 1); amanhã, às 18h10 (episódios 2, 3 e 4); seg., às 18h10 (episódios 5, 6 e 7); ter., às 18h10 (episódios 8, 9 e 10); qua., às 18h10 (episódios 11, 12 e 13); qui., às 18h10 (epílogo); todas as sessões no Cine Bombril
Classificação: não indicado a menores de 16 anos
Avaliação: ótimo



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