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32ª MOSTRA DE SP
Crítica/"Berlin Alexanderplatz"
Restaurada e na íntegra, obra-prima de Fassbinder chega a SP
Produção feita para a TV, com 14 episódios e mais de 15
horas de duração, começa a ser exibida a partir de hoje
SÉRGIO RIZZO
CRÍTICO DA FOLHA
Não verás Alexanderplatz quase nenhuma:
a praça Alexander, no
lado oriental de Berlim, emblema da modernidade urbana nas
primeiras décadas do século
20, mal é entrevista em "Berlin
Alexanderplatz" (1980), o "megafilme" de Rainer Werner
Fassbinder (1945-1982), com
14 episódios e cerca de 15 horas,
que a Mostra exibirá em versão
restaurada a partir de hoje.
O paradoxo já havia sido estabelecido pelo romance homônimo de Alfred Döblin
(1878-1957), marco da literatura dedicada à vida feérica das
metrópoles, cujo subtítulo é "A
História de Franz Biberkopf".
Dele e de muitos outros berlinenses comuns na Alemanha
durante a crise da República de
Weimar (1919-1933).
Adaptar o livro era um "sonho de infância" para Fassbinder, então no auge da carreira.
A leitura de Döblin, segundo
ele, o transformou; era um "romance barato" em que prevalecia a forma, por meio de colagem e narrativas sobrepostas,
expondo terrivelmente os personagens, mas "com ternura".
"Alexanderplatz" começou a
ser rodado em 1979. As filmagens foram concluídas em 1980
e a pós-produção finalizada em
agosto. Nos dois anos seguintes, ele lançaria seus quatro últimos longas: "Lili Marlene",
"Lola", "O Desespero de Veronika Voss" e "Querelle".
Prolífico, Fassbinder sempre
foi: morto aos 37, realizou mais
de 40 filmes, além de escrever
peças de teatro. Mas o período
que cerca "Berlin Alexanderplatz" foi especial, o da maturidade precoce, combinando talento e ousadia -que o levou,
na adaptação de Döblin, a escrever e dirigir uma produção
para a TV que definia como um
"filme antitelevisão".
Recebeu críticas severas na
estréia por ser "escuro demais".
Depois, foi lançado nos cinemas e, hoje, alcançou o status
de obra-prima do cineasta, da
mesma linhagem de outros
"megafilmes" germânicos, como "Hitler - Um Filme da Alemanha" (1977), de Hans-Jürgen Syberberg, com mais de sete horas, e "Heimat" (1984), de
Edgar Reitz, com 11 episódios e
cerca de 16 horas.
Biberkopf (atuação extraordinária de Günter Lamprecht)
é um ex-funcionário do setor
de transportes que cumpriu pena na prisão de Tegel. Ao sair,
procura reconstruir a vida.
Quer apenas ser um "homem
decente", bom e honesto. Não
será preciso aguardar 15 horas
para antever se ele conseguirá.
BERLIN ALEXANDERPLATZ
Quando: hoje, às 17h50 (episódio
1); amanhã, às 18h10 (episódios 2, 3
e 4); seg., às 18h10 (episódios 5, 6 e
7); ter., às 18h10 (episódios 8, 9 e
10); qua., às 18h10 (episódios 11, 12
e 13); qui., às 18h10 (epílogo); todas as sessões no Cine Bombril
Classificação: não indicado a menores de 16 anos
Avaliação: ótimo
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