São Paulo, sábado, 25 de outubro de 2008

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32ª MOSTRA DE SP

Crítica/"Waltz with Bashir"

Israelense faz animação como terapia

MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 2006, um ex-companheiro de Exército chamou o cineasta israelense Ari Folman para uma conversa. O homem estava atormentado por um pesadelo referente à Guerra do Líbano de 1982, de que ambos participaram, e queria que Folman o ajudasse, fazendo um filme.
Assim surgiu "Waltz with Bashir", animação que concorreu à Palma de Ouro em Cannes e que será exibida hoje na Mostra de Cinema de São Paulo, em duas únicas sessões. Folman, que até então não tinha memórias da guerra, decide ouvir seus ex-companheiros na esperança de que as lembranças deles o ajudem a desbloquear as suas.
O público o segue nessa jornada pessoal, descobrindo as imagens sinistras e a culpa que o diretor, um jovem de 19 anos à época do Exército, apagou da memória para conseguir levar uma vida normal pós-guerra.
"Waltz with Bashir" é, portanto, uma sessão de terapia individual e coletiva, que vai ficando mais pesada à medida que se aprofunda. A opção por retratar tudo com desenhos, no entanto, atenua o desconforto da audiência -e isso fica óbvio no final chocante, quando são usadas imagens reais.
O filme também é uma expiação da culpa pelo vergonhoso episódio a que alude seu título.
Em setembro de 1982, um dia após o assassinato do recém-eleito presidente libanês Bashir Gemayel, a milícia cristã que o apoiava invadiu Sabra e Chatila, campos de refugiados palestinos nos arredores de Beirute, em busca de vingança.
O que se seguiu foram dias de extermínio e destruição a que o Exército de Israel, que vigiava a área, assistiu passivamente.
Folman tem coragem para igualar o massacre dos palestinos ao de seu próprio povo, descrevendo o que ocorreu com palavras e expressões ("genocídio", "campo de extermínio", "gueto de Varsóvia") cuja utilização fora do contexto do Holocausto é abominada pelo governo israelense.
Não vai tão longe, no entanto, a ponto de dar voz às vítimas, o que é lamentável, porque tornaria seu filme mais equilibrado. Um exemplo dessa edição parcial: a única parte falada do filme que não tem legenda é a que mostra mulheres palestinas desesperadas enquanto andam pelo cenário do massacre.

WALTZ WITH BASHIR
Quando: hoje, às 23h30, no Unibanco Arteplex 1 e 2
Avaliação: bom
Classificação: não indicado a menores de 14 anos



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