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32ª MOSTRA DE SP
Crítica/"Waltz with Bashir"
Israelense faz animação como terapia
MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 2006, um ex-companheiro de Exército chamou o cineasta israelense Ari Folman para uma
conversa. O homem estava
atormentado por um pesadelo
referente à Guerra do Líbano
de 1982, de que ambos participaram, e queria que Folman o
ajudasse, fazendo um filme.
Assim surgiu "Waltz with
Bashir", animação que concorreu à Palma de Ouro em Cannes e que será exibida hoje na
Mostra de Cinema de São Paulo, em duas únicas sessões.
Folman, que até então não tinha memórias da guerra, decide ouvir seus ex-companheiros
na esperança de que as lembranças deles o ajudem a desbloquear as suas.
O público o segue nessa jornada pessoal, descobrindo as
imagens sinistras e a culpa que
o diretor, um jovem de 19 anos
à época do Exército, apagou da
memória para conseguir levar
uma vida normal pós-guerra.
"Waltz with Bashir" é, portanto, uma sessão de terapia individual e coletiva, que vai ficando mais pesada à medida
que se aprofunda. A opção por
retratar tudo com desenhos, no
entanto, atenua o desconforto
da audiência -e isso fica óbvio
no final chocante, quando são
usadas imagens reais.
O filme também é uma expiação da culpa pelo vergonhoso
episódio a que alude seu título.
Em setembro de 1982, um dia
após o assassinato do recém-eleito presidente libanês Bashir Gemayel, a milícia cristã
que o apoiava invadiu Sabra e
Chatila, campos de refugiados
palestinos nos arredores de
Beirute, em busca de vingança.
O que se seguiu foram dias de
extermínio e destruição a que o
Exército de Israel, que vigiava a
área, assistiu passivamente.
Folman tem coragem para
igualar o massacre dos palestinos ao de seu próprio povo, descrevendo o que ocorreu com
palavras e expressões ("genocídio", "campo de extermínio",
"gueto de Varsóvia") cuja utilização fora do contexto do Holocausto é abominada pelo governo israelense.
Não vai tão longe, no entanto,
a ponto de dar voz às vítimas, o
que é lamentável, porque tornaria seu filme mais equilibrado. Um exemplo dessa edição
parcial: a única parte falada do
filme que não tem legenda é a
que mostra mulheres palestinas desesperadas enquanto andam pelo cenário do massacre.
WALTZ WITH BASHIR
Quando: hoje, às 23h30, no Unibanco Arteplex 1 e 2
Avaliação: bom
Classificação: não indicado a menores
de 14 anos
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