|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
33ª MOSTRA DE SP
Crítica/"Maradona"
Kusturica usa Maradona para atacar imperialismo
Bósnio faz documentário de fã que privilegia leitura política do jogador
SYLVIA COLOMBO
EDITORA DA ILUSTRADA
Quem acompanhou o
drama da seleção argentina para classificar-se para a próxima Copa do
Mundo e viu o desabafo exaltado do técnico Diego Maradona
não se surpreenderá com "Maradona by Kusturica".
O filme do diretor bósnio
Emir Kusturica mostra todo o
drama, o exagero e algumas vezes a violência que rondam os
ditos e feitos do ex-jogador argentino. Aqui o temos fazendo
gols espetaculares e esbravejando contra poderosos -mafiosos napolitanos, chefões da
Fifa, o príncipe Charles e políticos "imperialistas". É tratado
como herói e soldado. "Se não
fosse jogador, seria um revolucionário", conclui Kusturica.
O diretor interpreta o jogador com olhar político. Relaciona a história do menino pobre,
que cresceu numa periferia latino-americana, com a dos personagens desenquadrados da
sociedade que povoam seus filmes -que se passam, em geral,
nos Bálcãs, o que faz a analogia
ficar ainda mais descabida.
O ponto mais explorado é o
gol feito com a mão contra a Inglaterra, em 1986, quando a Argentina foi campeã mundial.
Maradona diz que se sentiu
motivado ao pensar que estava
dando uma resposta aos vencedores da Guerra das Malvinas.
"Estávamos jogando por nossos mortos", diz.
Já Kusturica amplia o significado da jogada. Para o diretor,
trata-se de um símbolo da luta
anti-imperialista. Surge, então,
uma tosca animação em que
Maradona dribla George Bush,
a rainha da Inglaterra, Tony
Blair e Ronald Reagan ao som
de "God Save the Queen", o hino punk dos Sex Pistols.
Não faltam, é claro, as imagens dele com Hugo Chávez,
Fidel Castro e Evo Morales.
É um filme feito por um fã,
tanto dos dribles como das convicções políticas do craque. O
único mérito é dar voz a Maradona para que fale de temas delicados, como o vício pela cocaína que quase o matou.
Fora isso, vale para explicar
que ter atacado os que vinham
criticando-o como técnico nas
últimas semanas é só mais uma
demonstração da truculência
histórica do gênio do futebol.
A Mostra queria trazê-lo para a estreia. Mas Maradona não
poderá vir. A razão? Está, justamente nestes dias, enfrentando
um processo judicial por ter
brigado com um jornalista...
MARADONA
Quando: hoje, às 22h, no Cinemark Shopping Eldorado, e em outros
dois dias e horários de exibição
Classificação: 14 anos
Avaliação: regular
Texto Anterior: Artista foi "descoberta" em coletiva Próximo Texto: Crítica/"À Procura de Eric": Comédia dramática faz de Cantona um guru Índice
|