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HISTÓRIA
Professor lança estudo em que analisa a participação de alemães civis no holocauto
Goldhagen derruba mitos nazistas
LUIS S. KRAUSZ
especial para a Folha
Daniel Jonah Goldhagen, 37, historiador e professor da Universidade de Harvard, vem provocando
intensa polêmica internacional
desde que publicou, em abril de
96, o livro "Os Carrascos Voluntários de Hitler", recém-lançado
no Brasil pela Cia. das Letras.
Sua originalidade ao abordar o
genocídio judaico está em se dirigir a uma questão aparentemente
simples: por que os alemães comuns cumpriram as ordens emitidas pelo governo nazista para matar os judeus?
A resposta encontra-se nas mais
de 500 páginas deste livro. Goldhagen mostra que durante a guerra,
os alemães tinham plena consciência do extermínio de judeus e que o
povo via os judeus como perniciosos e racialmente inferiores.
Leia a seguir a entrevista que
Goldhagen concedeu à Folha em
São Paulo.
Folha - O sr. mostra que os executores do holocausto foram alemães comuns. Como ninguém percebeu isso antes?
Daniel Jonah Goldhagen -
Houve muitos mitos em torno do
holocausto: dizia-se que os perpetradores foram os homens da SS e
os nazistas. Ao fim da guerra, os
alemães diziam que não sabiam o
que tinha se passado, ou que tinham sido obrigados a matar, sob
ameaça de serem enviados aos
campos de concentração. Mas o
postulado de que um regime de
terror obrigou os alemães a fazer o
que fizeram está errado. Ele isenta
a população de qualquer responsabilidade, colocando-a inteiramente sobre os líderes. Era interesse das potências ocidentais aceitar
tais mitos. Com o surgimento da
guerra fria, a Alemanha tornou-se
um importante aliado no confronto com os soviéticos.
Folha - Antes de Hitler, os judeus
se imaginavam seguros na Alemanha. Como explicar tal engano?
Goldhagen - Um fator crítico
fazia com que eles se sentissem em
casa: o anti-semitismo existia na
Europa inteira, mas, na Alemanha, parecia que as coisas estavam
melhorando. O Estado do Kaiser
Wilhelm e a República de Weimar
não permitiam matanças de judeus, ao contrário do que acontecia nos países do Leste.
Folha - Qual é a situação do anti-semitismo no mundo hoje?
Goldhagen - As visões demonológicas que sustentaram o anti-semitismo durante séculos não
existem mais. O mundo cristão está trabalhando para reduzir o anti-semitismo. Ninguém é capaz de
prever o futuro, mas não creio que
os judeus estejam, hoje, sob a
ameaça de assassínio em massa.
Folha - O que o sr. pensa sobre a
recepção que seu livro teve na Alemanha, onde já vendeu mais de
180 mil exemplares?
Goldhagen - É um sinal seguro
de uma mudança radical na mentalidade do país. Houve uma mudança qualitativa no preconceito:
os judeus, que antes eram considerados como o mal absoluto e como
uma ameaça biológica, hoje são,
no máximo, alvo de uma antipatia
baseada em estereótipos tênues.
Folha - Que papel tem seu livro
no debate sobre o holocausto?
Goldhagen - Fez o foco da discussão passar dos conceitos abstratos para os seres humanos. Os
executores foram pessoas, não categorias teóricas. Meu livro também explodiu o mito de que alemães e nazistas foram coisas diversas. O álibi do "nazista malvado"
não existe mais.
Folha - Que dizer da participação
de outras populações civis no genocídio?
Goldhagen - Eu igualo os austríacos aos alemães em meu livro.
A Áustria era parte da Alemanha a
partir de 1938. Quanto aos cidadãos de outros países, não são o
foco de meu estudo. Limitei-me
aos alemães pois se não fossem eles
não teria havido holocausto.
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