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TEATRO
Peça inicia apresentações em presídio de SP
"Apocalipse 1,11"
abre como ensaio
NELSON DE SÁ
da Reportagem Local
Não, não estréia hoje o "Apocalipse 1,11" de Antônio Araújo. O
que "estréia" às 21h no presídio
do Hipódromo, em São Paulo, é
um ensaio aberto.
O diretor de "O Livro de Jó" telefonou anteontem, às pressas,
para informar que: 1. Não foram
liberados, pelo juiz corregedor, os
presos do Carandiru para participar do espetáculo, como atores. 2.
Também não foi liberada, pelo
juizado de menores, a participação de uma menina. 3. O espetáculo finalmente recebeu mais
apoio financeiro, mas o dinheiro
só vai sair em janeiro, porque o
investimento só podia entrar no
orçamento do ano que vem da
empresa.
4. A rubéola que derrubou o diretor por duas semanas foi vencida faltando só duas semanas para
a estréia, programada em princípio para hoje, e ele não deu conta
de tudo o que faltava fazer.
Se o relato voltar mais ainda no
tempo, é possível somar, às "pragas" que cercaram o projeto do
"Apocalipse": 5. A bolsa que levou o autor Fernando Bonassi a
uma longa estada em Berlim, na
Alemanha. 6. A saída do ator Matheus Nachtergaele, que estava
nas primeiras fases de "Apocalipse" e vinha sendo protagonista do
Teatro da Vertigem, a companhia
de Antônio Araújo, desde o princípio.
Nachtergaele deixou o teatro de
grupo, o que o diretor registra não
sem mágoa, para seguir carreira
em TV e cinema, negando-se a representar Jó no centenário do
Teatro de Arte de Moscou, na
Rússia. Mas o ator também dá as
suas razões, como a permanência
de quase um ano e meio do diretor em Nova York.
Por fim, entre as "pragas", é claro, entra: 7. A longa e afinal frustrada diplomacia para apresentar
o espetáculo no Complexo Presidiário do Carandiru.
Cinco anos depois
Questionado se a rubéola havia
sido a maior das "sete pragas do
Egito" que atingiram "Apocalipse
1,11", o diretor mineiro soltou
uma gargalhada e disse: "Não fala
isso, não fala isso".
Ele próprio tratou de justificar
que, se está demorando tanto para lançar um novo espetáculo depois do impacto de "O Livro de
Jó", que completa cinco anos da
estréia em fevereiro próximo, é
porque é lento mesmo.
"Eu sou muito lento, as coisas
são feitas devagar", diz Araújo. "E
eu saí do "Jó" com um bode de fazer teatro. Muito cansado, muito
desestimulado. Eu acho fazer teatro muito difícil, o esquema de
produção, os ensaios sempre em
condições difíceis."
O certo é que este "Apocalipse
1,11", que os paulistanos poderão
ver por três semanas a partir de
hoje, é ainda o ensaio aberto,
quando muito a pré-estréia, o
"preview" do teatro norte-americano, mas não a peça.
Essa ficou, ao que tudo indica,
para estrear no dia 14 de janeiro
do ano 2000, duas semanas depois do eventual fim do mundo.
Fim do mundo que está longe
de ser o que importa, em "Apocalipse 1,11". "Não é o fim do mundo", diz o diretor, "mas fim de
mundo. A gente brinca muito
com a coisa de ser não o Apocalipse de São João, mas o Apocalipse da São João".
Araújo e o grupo insistiram tanto com Bonassi, para autor ou co-autor da peça, escrita toda ela a
partir de improvisações dos atores, por desejarem o fim de mundo da avenida São João, não o da
Bíblia.
O que os artistas de "Jó" buscaram foi um texto com a crueza do
escritor, que impressionou o diretor já na versão teatral de "Um
Céu de Estrelas", encenada por
Lígia Cortez em 96. Araújo diz,
sublinhando que o autor odeia a
expressão, que Bonassi é o "fio
terra" da companhia.
Em tempo, o "1,11" do título se
refere ao capítulo 1, versículo 11,
do Apocalipse de São João, o texto
que fecha o Novo Testamento e
inspira a história da peça.
Ele diz: "(Ouvi, por detrás de
mim, uma grande voz, como de
trombeta,) que dizia: O que vês,
escreve-o num livro e envia-o às
sete igrejas que há na Ásia; a Éfeso, e a Smirna, e a Pérgamo, e a
Tiatira, e a Sardes, e a Filadélfia, e
a Laodiceia".
No caso, Antônio Araújo, Fernando Bonassi e o Teatro da Vertigem mostram no palco o que
vêem no apocalipse realista, nada
alegórico, deste fim do milênio.
Peça: Apocalipse 1,11
Criação: Teatro da Vertigem
Dramaturgia: Fernando Bonassi
Direção: Antônio Araújo
Elenco: Vanderlei Bernardino (João),
Mariana Lima (Babilônia), Joelson
Medeiros (Anjo Poderoso), Míriam
Rinaldi (Noiva) e outros
Quando: qui. a sáb., às 21h; dom., às
20h.
Onde: presídio do Hipódromo (r. do
Hipódromo, 600, ao lado da estão
Bresser do Metrô, tel. 0/xx/11/572-6062)
Quanto: R$ 5
Apoiadores: Instituto Cultural Itaú,
Secretaria da Cultura do Estado de São
Paulo, Oficina Cultural Oswald de
Andrade, Ministério da Cultura (Funarte,
prêmio Flávio Rangel)
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