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CINEMA
Orquestra, atrasada, não alcança música de Guarnieri
Festival de Brasília 99 tem fiasco na noite de abertura
INÁCIO ARAUJO
enviado especial a Brasília
Se a noite de abertura define o
que um festival será, Brasília 99
tem tudo para ser um belo "flop".
Por volta de 21h de terça-feira,
com mais ou menos uma hora de
atraso, a orquestra do Teatro Nacional de Brasília iniciou a apresentação de um dos movimentos
do Concerto nº 4 de Camargo
Guarnieri.
Detalhe: a orquestra estava no
fosso, como se acompanhasse
uma ópera, de maneira que os
convidados só viam a cabeça dos
músicos e uma mão que se agitava entre elas, a do maestro. No
palco, cinegrafistas de TV tomavam o lugar de honra e gravavam
cenas da orquestra invisível.
Em plena apresentação, um refletor caído na platéia levantou fumaça e provocou um quase início
de tumulto. Quando o suposto incêndio já era coisa do passado,
um bombeiro adentrou a platéia,
recebido com aplausos -não se
sabe se sinceros ou se irônicos.
Dizem os brasilienses que tanto
a acústica como a orquestra do
Teatro Nacional são ok. Na terça-feira, no entanto, algo saiu errado.
O som da orquestra parecia o de
um velho disco da era pré-estéreo.
Seguiu-se a apresentação de
"Encantamento", média-metragem de José Sette dedicado ao
compositor Camargo Guarnieri.
O documentário de José Sette tem
a virtude de nos aproximar da
obra e da figura do grande compositor. Poderia ser apresentado
na TV, caso a TV não estivesse dedicada quase exclusivamente ao
cultivo da subhumanidade.
Mas está longe de ser comparável a um grande filme. Sette filmou momentos preciosos: Camargo Guarnieri aparece ensaiando a orquestra (preparava
em Minas o concerto de comemoração de seus 80 anos), improvisando ao piano, dando depoimento.
O conjunto, porém, atira para
vários lados e padece de falta de
uma unidade que consiga mostrar plenamente, a um só tempo, a
força do compositor, suas convicções nacionalistas, sua identidade
com a geração que, nos anos 30 e
40, sonhou redescobrir o Brasil.
Está tudo lá, a rigor, mas um tanto
disperso.
Os momentos em que Sette
compõe pequenos poemas músico-visuais inspirados pela música
de Camargo Guarnieri são de longe os mais significativos.
O som é o melhor do filme. A
música é límpida. Há um momento precioso do ensaio, em
que o compositor ensina ao músico a ritmação certa para que soe
"mais brasileiro". No caso específico da noite de terça, a qualidade
de som do filme e a firmeza da regência de Camargo Guarnieri
-que morreu em 1993- tinham
o inconveniente de ser imediatamente comparáveis à apresentação da orquestra brasiliense, como lembrou alguém na platéia.
Com esta noite pouco inspirada, o 32º Festival de Brasília inicia
sua jornada de risco: serão 12 longas em seis dias (ao menos um
terço deles não são inéditos nas
principais cidades do país). Espera-se que a produção esteja à altura da aposta dos organizadores.
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