|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EVENTO
Português Boaventura Souza Santos participou de seminário no CCBB do Rio
Sociólogo critica "colonialismo global"
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Contrariando sua habitual prolixidade, o ministro da Cultura,
Gilberto Gil, falou por apenas 15
minutos, na última terça-feira, na
abertura do seminário "Cultura e
Desenvolvimento", que prossegue até amanhã no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio.
A estrela da noite foi o sociólogo
português Boaventura de Souza
Santos, 64, que pegou emprestado
da curta fala de Gil a palavra "desenvolvimentora" -utilizada para evitar as conotações de "desenvolvimentista"- e a crítica à especialização excessiva.
Intelectual que se firmou como
um dos mais importantes críticos
da globalização, Santos pregou
em sua palestra, como alternativa
à hegemonia do capitalismo internacional, "a tradução intercultural e intersocial". Ou seja, o estabelecimento de reflexões e ações
comuns entre movimentos populares.
"Por que, por exemplo, os movimentos dos quilombolas estão
tão distantes dos movimentos dos
sem-terra e dos indígenas? Todos
estão lutando por terra, para reparar uma justiça histórica. Precisamos de uma ação comum, porque estamos todos em caixas e,
com o tempo, elas se transformam em caixões", disse.
Para Santos, esses segmentos,
assim como as mulheres e os negros, devem ter mais voz -e voz
própria- na produção cultural.
Segundo o sociólogo, eles oferecem um contraponto ao "conhecimento científico, que destrói,
domina, desqualifica, suprime e
marginaliza os conhecimentos
populares, das comunidades que
vivem nas profundezas das suas
cidades, favelas, aldeias".
Em boa parte de sua palestra,
Santos analisou o pós-colonialismo, que seria a continuidade da
tradição colonialista, da qual seriam reféns "quatro quintos do
mundo: América Latina, África e
Ásia". Hoje essa dominação se daria, principalmente, através da
economia, do mercado.
"O Banco Mundial diz que as
populações da África são descartáveis, casos de ajuda humanitária, porque não são suficientemente fortes para serem exploradas pelo capitalismo. Só que o capitalismo não pode descartar toda
a população, porque precisa de
mão-de-obra, de mercado. Essa
contradição deve ser explorada",
afirmou.
Pós-modernismo
O sociólogo disse que sua reflexão sobre o pós-colonialismo é de
oposição. É contra um "viés culturalista" que ressalta a importância dos bens simbólicos, mas não
se preocupa com políticas de
acesso a eles e à educação.
Ele também se filia à oposição
quando o assunto é o pós-modernismo. Santos relativizou o banalizado conceito perguntando "como podemos aspirar ao pós se algumas sociedades estão no pré?".
E ainda criticou "a melancolia
pós-moderna de [Jean-François]
Lyotard e os estereótipos miserabilistas do terceiro mundo de
[Jean] Baudrillard".
"É um pós-modernismo celebratório. Eu prefiro, em vez de declarar o fim das utopias, reinventar utopias; em vez de eliminar a
idéia de emancipação social, reinventar essa idéia; em vez da melancolia, o otimismo trágico", disse o sociólogo.
Santos -que também lançou o
livro de poemas "A Escrita Inkz"
(Aeroplano)- foi aplaudido de
pé pela platéia, em que estavam
outros participantes do seminário, como o escritor Paulo Lins
("Cidade de Deus"), o jornalista
Zuenir Ventura e a crítica literária
Beatriz Resende.
Nas mesas que acontecem hoje
e amanhã, às 18h30, também estarão os rappers MV Bill e Nega
Gizza, entre outros.
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Panorâmica - Artes: MAM promove debate sobre Victor Brecheret Índice
|