São Paulo, sexta-feira, 25 de novembro de 2005

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MÚSICA

Principal representante atual do gênero, banda de ritmo agressivo é uma das atrações centrais do Claro que É Rock

Brasil ouve som "industrial" do Nine Inch Nails

Marc Serota - 31.ago.2004/Reuters
Wayne Coyne, vocalista do Flaming Lips, dentro de uma bolha gigante no MTV Video Music Awards


THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Em uma inédita temporada cheia de grandes festivais pop, amanhã São Paulo assiste ao Claro que É Rock, o último desses grandes eventos da temporada.
Os shows esperam reunir cerca de 30 mil pessoas. Para isso, escalou bandas díspares entre si, como o agressivo Nine Inch Nails, o psicodélico Flaming Lips, o "art rock" do Sonic Youth e os veteranos Iggy and the Stooges.
Os artistas se apresentarão em dois palcos, um de frente para o outro. A iniciativa foi tomada, afirma a organização, para que nenhum show encavale ou atropele outro -por exemplo, quando o Good Charlotte terminar sua apresentação no palco A, a Nação Zumbi sobe ao palco B.
A sede do CQER é um terreno da Chácara do Jockey na av. Francisco Morato, região sul da cidade. É uma área sem muitas vias de acesso: assim, as chances de congestionamento de trânsito são grandes, segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego). Até o início da tarde de ontem, haviam sido vendidos 15 mil ingressos para a versão paulistana do evento (a perna carioca ocorre no domingo, na Cidade do Rock).

Agressividade
Trent Reznor, soturna figura do mundo pop norte-americano, foi o nome escolhido para fechar o festival. Reznor é a cabeça -além de vocalista- do Nine Inch Nails.
O grupo é, hoje, o principal representante do chamado rock industrial, gênero que utiliza sintetizadores e efeitos eletrônicos para dar peso a guitarras e bateria já pesadas. Ministry e Skinny Puppy são referências no assunto.
"Quando começamos, o que costumávamos chamar de rock industrial estava praticamente morto. Com o Nine Inch Nails, nunca levantei essa bandeira", explica Reznor, por telefone, à Folha. "Mas era uma época [final dos anos 80] em que ainda dava para arriscar. Hoje as gravadoras não procuram artistas diferentes, experimentais, elas apostam apenas naquilo que têm certeza que dará dinheiro. Hoje você vê bandas na TV e todas soam da mesma maneira. Fico imaginando: "Será que eles realmente acham que podem mudar algo, ou que fazem algo desafiador?'"
Com "With Teeth", neste ano o NIN interrompeu um período de seis anos sem discos -os outros são "The Fragile" (99), "The Downward Spiral" (94) e "Pretty Hate Machine" (89). Todos álbuns de ambiente agressivo, dark, pesado, tanto na música quanto nas letras pessoais de Reznor.
"Quando comecei a escrever música, não sabia sobre o que falar, não me sentia seguro em escrever sobre política ou coisas do gênero. Até que passei a pegar alguns textos de um diário que eu tinha, misturava com algumas letras que compunha e vi que desse jeito era mais honesto. Toda aquela raiva, frustração e infelicidade se encaixavam na música do Nine Inch Nails", conta ele.
"A banda foi ficando popular, e nesse processo comecei a questionar quem eu realmente era. Lia o que escreviam sobre mim nos jornais e de certa forma passei a me redefinir de acordo com aquilo. Tenho certeza que isso ajudou a me levar à depressão e às drogas."
Mas, diz o vocalista, os momentos difíceis ficaram para trás. "Hoje encaro o Nine Inch Nails como uma banda que emana vários sentimentos, geralmente não muito alegres, e isso é apenas uma porção de quem eu sou. Não estou mais em guerra comigo mesmo. Mas isso não quer dizer que eu escreverei canções felizes como o Paul McCartney", brinca.


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