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"O MUNDO DE JACK E ROSE"
Rebecca Miller transforma a morte em motivo para o renascimento
PAULO SANTOS LIMA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Em "As Invasões Bárbaras",
Denys Arcand fazia da morte
de um personagem a metáfora da
extinção de todo um projeto político, o dos anos 60, e que era desdenhado por ele, aliás. Em "O
Mundo de Jack e Rose", ao contrário, a morte não é um término,
mas a necessidade de mudança.
Uma visão política mais madura, nada tacanha, como a de Arcand, nos traz este filme de Rebecca Miller, já que a grande questão
aqui é o processo político.
Estamos numa ilha da costa
Leste em 1986, onde Jack Slavin
(Daniel Day-Lewis) é um escocês
que imigrou para os EUA para
construir uma comunidade alternativa. Nela, hoje, vivem apenas
ele e sua filha de 16 anos, Rose
(Camilla Belle). Mas o filme deixa
claro que, apesar de restrito, o
projeto político está a pleno vapor, algo comprovado em imagens que mostram natureza, ser
humano e seus meios de produção em plena consonância.
Com utopia hippie levada a cabo, traduzida em belíssimas situações, vem a pergunta: por que
mudar? Porque Jack está às vésperas da morte e tenta, em desespero velado, dar novos contornos ao
cotidiano da filha? Talvez, mas o
motivo maior está numa engrenagem que está acima deles, que
impede a permanência das coisas.
Por isso Jack sabe, por exemplo,
que o mundo não é o mesmo dos
anos 60 e que o dinheiro é, infelizmente, uma realidade. É com ele
que este homem dará uma generosa gorjeta para convencer sua
namorada a morar na propriedade com seus dois filhos a tiracolo,
a fim desta cuidar de sua filhinha.
Esses corpos estranhos trarão
fagulhas à vida bucólica de Rose,
que até então vivia quase maritalmente com seu papai. A experiência com os novos visitantes, contudo, dará numa fusão entre a aura hippie de ontem e o superficial
dos novos tempos. A morte aponta um renascimento, portanto.
Miller também faz o casamento
entre dois mundos cinematográficos. Um deles, emprestado do
rancoroso filme de Arcand, aposta nos diálogos que tentam, em
vão, nortear psicologicamente os
personagens. O outro, mais "hippie", meio vizinho de Sofia Coppola e todo coalhado de experiências sensoriais, graças às músicas
e à constante câmera na mão, é
dominante, o que é a sorte aqui.
O Mundo de Jack e Rose
The Ballad of Jack & Rose
Direção: Rebecca Miller
Produção: EUA, 2005
Com: Daniel Day-Lewis, Camilla Belle
Quando: a partir de hoje no Cine Bombril, Cine Morumbi e Lumière
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