São Paulo, sexta-feira, 25 de novembro de 2005

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Buddy Guy toca e canta a tristeza no Credicard Hall

MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem faz um disco de blues como "Bring'em in" deve estar realmente triste. Não deve ser apenas Buddy Guy buscando as raízes do lamento negro que hoje é pontificado por ele e B.B. King. Deve ser algo que dói e sangra.
Mas aí, conversando com ele -que canta hoje no Credicard Hall-, pouco se nota de uma tristeza. Não é que seja fingido. Sambistas também cantam tristezas num carnaval de êxtase. Logo, não é estranho que o cantor e guitarrista de blues seja um cara feliz a fim de contaminar seu público.
"Não quero ninguém triste no meu show. É como o samba, é uma mensagem. É triste perder alguém que se ama. Mas perdas são ganhos, a vida é assim."
Um bom bluesman não se entrega, a não ser diante do microfone. Segundo ele, o divórcio de um casamento de 15 anos, no ano passado, pouco influenciou o tom do disco. "Não precisei disso para fazer esse álbum. Divórcio para mim é como morte na família. Cedo ou tarde vai chegar."
Na sua obra, a guitarra de inspiração melodiosa e a voz torturada já são clássicos. Chamam a atenção os títulos do repertório desse disco, em que participam Santana e Keith Richards, entre outros .
"Now You're Gone", "Somebody's Sleeping in My Bed" e sua versão com Tracy Chapman para "Ain't no Sunshine" ("Não há brilho de sol/ quando ela se vai") integram o espírito de dor-de-cotovelo, pé na bunda, desamor.
O que não quer dizer que o Credicard Hall vá virar um mar de lágrimas. Os shows de Buddy Guy são irrequietos e, da primeira vez que veio ao Brasil -é preciso repetir-, desceu do palco com a guitarra e invadiu o banheiro das mulheres. "Mas eu nem sabia que a porta ia abrir!", diz ele.
É com esse tipo de catarse que ele entende o papel emocional de sua arte. "Nós lembramos vocês dos bons e dos maus tempos. Algumas pessoas têm a tendência de esquecer, nós lembramos e aí você diz: "Putz, isso aconteceu comigo, isso aconteceu com um amigo meu", pode simplesmente rolar com alguém que você gosta e te deixar triste. Mas não há nada que você possa fazer sobre isso. Ajudo as pessoas a rir, apenas quero que elas sejam felizes comigo", afirma.
Sua casa de blues em Chicago vai bem -"Tem sempre gente querendo ouvir música ao vivo, embora a América esteja mais ocupada com hip hop hoje em dia"- e o blues, que um dia Buddy disse estar morto, parece ter ganhado novo ânimo.
"Não digo que esteja morto, mas precisamos de um bocado de ajuda. É como uma espécie em extinção", diz. Tá, mas não chore.


Buddy Guy
Quando:
hoje, às 22h
Onde: Credicard Hall (av. Nações Unidas, 17.955, Santo Amaro, SP, tel. 0/xx/11/ 6846-6000)
Quanto: de R$ 40 a R$ 200


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