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Buddy Guy toca e canta a tristeza no Credicard Hall
MÁRVIO DOS ANJOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem faz um disco de blues como "Bring'em in" deve estar realmente triste. Não deve ser apenas
Buddy Guy buscando as raízes do
lamento negro que hoje é pontificado por ele e B.B. King. Deve ser
algo que dói e sangra.
Mas aí, conversando com ele
-que canta hoje no Credicard
Hall-, pouco se nota de uma
tristeza. Não é que seja fingido.
Sambistas também cantam tristezas num carnaval de êxtase. Logo, não é estranho que o cantor e
guitarrista de blues seja um cara
feliz a fim de contaminar seu público.
"Não quero ninguém triste no
meu show. É como o samba, é
uma mensagem. É triste perder
alguém que se ama. Mas perdas
são ganhos, a vida é assim."
Um bom bluesman não se entrega, a não ser diante do microfone. Segundo ele, o divórcio de
um casamento de 15 anos, no ano
passado, pouco influenciou o
tom do disco. "Não precisei disso
para fazer esse álbum. Divórcio
para mim é como morte na família. Cedo ou tarde vai chegar."
Na sua obra, a guitarra de inspiração melodiosa e a voz torturada
já são clássicos. Chamam a atenção os títulos do repertório desse
disco, em que participam Santana e Keith Richards, entre outros .
"Now You're Gone", "Somebody's Sleeping in My Bed" e sua
versão com Tracy Chapman para
"Ain't no Sunshine" ("Não há
brilho de sol/ quando ela se vai")
integram o espírito de dor-de-cotovelo, pé na bunda, desamor.
O que não quer dizer que o Credicard Hall vá virar um mar de lágrimas. Os shows de Buddy Guy
são irrequietos e, da primeira vez
que veio ao Brasil -é preciso repetir-, desceu do palco com a
guitarra e invadiu o banheiro das
mulheres. "Mas eu nem sabia que
a porta ia abrir!", diz ele.
É com esse tipo de catarse que
ele entende o papel emocional de
sua arte. "Nós lembramos vocês
dos bons e dos maus tempos. Algumas pessoas têm a tendência
de esquecer, nós lembramos e aí
você diz: "Putz, isso aconteceu comigo, isso aconteceu com um
amigo meu", pode simplesmente
rolar com alguém que você gosta
e te deixar triste. Mas não há nada
que você possa fazer sobre isso.
Ajudo as pessoas a rir, apenas
quero que elas sejam felizes comigo", afirma.
Sua casa de blues em Chicago
vai bem -"Tem sempre gente
querendo ouvir música ao vivo,
embora a América esteja mais
ocupada com hip hop hoje em
dia"- e o blues, que um dia
Buddy disse estar morto, parece
ter ganhado novo ânimo.
"Não digo que esteja morto,
mas precisamos de um bocado
de ajuda. É como uma espécie em
extinção", diz. Tá, mas não chore.
Buddy Guy
Quando: hoje, às 22h
Onde: Credicard Hall (av. Nações Unidas,
17.955, Santo Amaro, SP,
tel. 0/xx/11/ 6846-6000)
Quanto: de R$ 40 a R$ 200
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