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Trompetista Miles Davis está em novo volume da Coleção Folha
Artista americano sintetizou as mais diversas tendências musicais de seu tempo
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele tocou com os mais renomados instrumentistas de seu
tempo, participou de movimentos distintos e ditou moda
no jazz do pós-guerra. Músico-síntese do gênero no século 20,
o trompetista Miles Davis é tema do volume 11 da Coleção Folha Clássicos do Jazz, que sai no
próximo domingo.
Bebop, cool jazz, jazz modal,
hard bop, third stream, jazz-funk, jazz fusion: a todos esses
momentos díspares e contraditórios Miles Dewey Davis
(1926-1991) emprestou seu
trompete, imprimindo a cada
um deles a marca de uma personalidade musical forte.
A lista de parceiros musicais
também é extensa, impressionante e eclética: Miles Davis teve a seu lado gente tão diferente
como Charlie Parker, Gerry
Mulligan, Herbie Hancock,
John Coltrane, Chick Corea e
Art Blakey, para ficar apenas
em uma lista breve.
Com um apetite musical incansável, Davis sintetizou também as mais diversas tendências musicais de seu tempo,
desde o cerebralismo da música eletroacústica até os acentos
mais dançantes do pop.
Desta forma, artisticamente,
nem é possível falar em um Miles Davis, mas em vários. Um a
improvisar na trilha sonora do
filme "Ascensor para o Cadafalso", de Louis Malle; outro, que,
em sofisticados arranjos de Gil
Evans, relê obras eruditas de
compositores espanhóis em
"Sketches of Spain"; um terceiro a se moldar ao piano de Bill
Evans em "Kind of Blue"; um
quarto a proceder experimentos eletrônicos em "Bitches
Brew"; um quinto executando a
balada pop "Time After Time",
de Cindy Lauper, em "You're
Under Arrest". E por aí vai.
Em meio a tamanha variedade, gostar de todos os discos de
Davis parece tão difícil como
não apreciar nenhum deles. A
produção do trompetista foi rica, desigual e abundante, como
a música popular norte-americana do século 20, refletindo
suas mudanças de gosto e sua
capacidade de se reinventar.
O traço em comum que encontramos ao ouvir essas performances é uma sonoridade
única ao trompete, despojada
de vibrato, como apregoava Elwood Buchanan, o trompetista
que cuidou de seus primeiros
estudos musicais, aos 13 anos.
Reza a lenda que Buchanan
batia em Davis com uma régua
a cada vez que o jovem pupilo
tocava com vibrato. Efeito ou
não das sovas aplicadas pelo
mestre, o fato é que essa preferência por emitir um som que
fosse "liso" e "redondo" o
acompanhou por toda a carreira: "Se eu não consigo um som
desses, não dou conta de tocar
nada", chegou a afirmar.
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