São Paulo, quinta-feira, 25 de novembro de 2010

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comida

Confraria dos chefs

Folha acompanha bastidores de jantar peruano realizado a 18 mãos, por nove chefs estrelados de São Paulo, que antes foram juntos ao país conhecer ingredientes

LUIZA FECAROTTA
DE SÃO PAULO

Havia um clima de euforia na cozinha do restaurante La Mar, em São Paulo, na noite desta segunda-feira.
"Quebra, cuidado!", grita um comim, no estreito corredor de acesso à mais espaçosa ala dos fornos e fogões. "Queima, cuidado!", vocifera outro, dando caldo à tensão habitual de uma cozinha em movimento. É preciso chamar a atenção dos desatentos para itens quentes (travessas e afins) e delicados (taças equilibradas em uma bandeja, por exemplo).
Naquela noite, oito chefs estrelados passaram por ali, recebidos pelo anfitrião, Fabio Barbosa. E a equipe de praxe não parecia a mesma: assistentes, cozinheiros e garçons estavam com máquinas fotográficas e celulares em punho, frenéticos. Não economizaram nos flashes -nem no salão, tampouco nos bastidores.
Todos pareciam comemorar aquela espécie de confraria que havia se formado na viagem que Rodrigo Oliveira, Tsuyoshi Murakami, Raphael Durand Despirite, Henrique Fogaça, Renata Braune, Bel Coelho, Flavio Federico, Thomas Troisgros e o cicerone Fabio Barbosa fizeram ao Peru, neste semestre. Passaram cinco dias juntos e voltaram com as malas abarrotadas de ingredientes para concretizar a experiência nesse jantar a 18 mãos.

BRASIL
A convite da PromPeru, órgão do governo que promove a gastronomia peruana, eles foram acompanhar a maior feira do país. Realizada ao ar livre em um parque em Lima, a Mistura reuniu cerca de 200 mil pessoas e, em 2011, deve homenagear a cozinha brasileira e seus chefs.
Com curadoria de Gastón Acurio, o chef mais importante do país, mostra a comida local por meio de pequenos produtores, barracas de comida de rua, restaurantes de todo o Peru e palestras.
Para os nove chefs brasileiros citados aqui, foi unânime a postura de realçar a (intensa) relação do povo com a culinária local, num evento com entrada acessível.

BASTIDORES
Uma enxurrada de e-mails trocados pelo grupo antecedeu o jantar beneficente, batizado Experiência Peruana.
Nos registros que a Folha teve acesso, aparecem "abraxxxx" nas saudações virtuais de Fogaça. No alô de Oliveira, "oi, cabra-macho". Renata Braune brinca: "kkkkkk vocês são uma piada!!! Tem um amigo do ramo que diz que restaurante se colocar uma lona é um circo, e se colocar grade é um hospício!!!". Murakami faz parecido, com o bom humor que lhe é habitual: "Parafraseando o Flavio, não adianta ter habilidade com o peru, mas, sim, sensibilidade".
Sete são ativos também no twitter, onde reforçaram a divulgação do encontro.
Era hora de brindar. Foram uma, duas, três doses de pisco sour, bebida alcoólica típica do Peru. Entre um prato e outro.
A logística foi combinada em cima da hora -quem assume a cozinha (e quando) quem fica na ala fria, atrás do balcão (e quando), quem ajuda quem.
Tudo devidamente alinhado e um clima de camaradagem no ar. Bel Coelho, Raphael Despirite e Thomas Troisgros, por exemplo, soltaram seus pratos frios e correram para a boqueta para ajudar na finalização das receitas dos comparsas.
Enquanto isso, no calor da cozinha, Rodrigo Oliveira, Renata Braune, Henrique Fogaça e Fabio Barbosa trocam gentilezas -e abraços, vez ou outra.
O confeiteiro Flavio Federico (único da categoria) foi de lá pra cá e provou algumas criações dos colegas no cantinho do salão, em pé.
Cada um provou uma garfada do prato do outro, aliás. E já falam dos planos futuros, das próximas viagens (como Nova York, em setembro) e de projetos para não deixar morrer a relação que engrenou -e fluiu- entre eles.


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