São Paulo, quarta, 25 de novembro de 1998

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CINEMA
Principal festival de documentários do mundo, que abre hoje na Holanda, espelha a ascensão do gênero no país
Brasileiros ganham espaço em Amsterdã

AMIR LABAKI
enviado especial a Amsterdã

O principal festival de documentários do mundo, o de Amsterdã (Holanda), espelha a partir de hoje a ascensão do gênero e a retomada da produção brasileira. O Brasil leva à 11ª edição do evento, que acontece até o próximo dia 3, dois concorrentes e dois jurados.
Aurélio Michiles concorre ao Prêmio Joris Ivens de melhor filme com "O Cineasta da Selva", sobre o pioneiro do documentarismo amazônico, Silvino Santos. A América Latina é ainda representada por "Tinta Vermelha", dos argentinos Carmen Guarini e Marcelo Céspedes. O diretor de "O Velho", Toni Venturi, participa do júri internacional. A disputa vai ser dura. São 22 competidores de 15 países. Holanda e EUA apresentam a maior seleção, com três títulos cada. Excetuados os latino-americanos e um isolado japonês, os demais títulos são europeus.
"Fotoamator", de Dairius Jablonski, é uma poderosa reconstituição do cotidiano dos guetos na Polônia sob o nazismo. Torna-o ainda mais contundente o fato de fazê-lo por meio do olhar de um burocrata austríaco que serve ao Terceiro Reich. O dinamarquês Torben Skjodet Jensen dá continuidade a sua série sobre a vida metropolitana com "Flâneur 3". Os dois primeiros episódios foram exibidos em São Paulo na retrospectiva dedicada a ele em 1995 pelo Festival Internacional de Curtas.
Há ainda "Kurt and Courtney", o filme-escândalo de Nick Broomfield, banido do Sundance deste ano. São dois filmes em um. Na primeira parte, Broomfield desenha um revelador perfil de Kurt Cobain, da infância desgarrada à infelicidade apesar do sucesso com o Nirvana. Na segunda, impõe-se a teoria conspiratória de que ele não teria cometido suicídio, mas sim morto a mando de sua companheira, Courtney Love.
"Kurt and Courtney" não é o melhor filme do britânico Broomfield, mas transformou-o no mais famoso documentarista em atividade. Com fones no ouvido, microfone na mão e gravador a tiracolo, Broomfield tornou-se seu principal personagem. Criou uma espécie de documentarismo sensacionalista, assinando filmes sobre a ex-líder inglesa Margaret Thatcher e a ex-cafetina de Hollywood, Heidi Fleiss.
Há um mês, Broomfield confirmou à Folha em Los Angeles estar planejando um documentário sobre a Cuba de Fidel. "Nunca estive lá. Você já foi?", perguntou procurando cumplicidade. Superestimado que seja, uma coisa é certa: com seu charme e faro, Broomfield tem como poucos ampliado a repercussão do gênero.
Não menos disputada será a competição documentários em vídeo, com 15 produções de 11 países. Um dos episódios do estupendo "Futebol", de João Moreira Salles e Arthur Fontes, marca presença. Seu principal adversário deve ser mais um vídeo do genial Péter Forgácz, "Exodus Along the Danube", que vem recontando a história húngara por meio da recuperação de filmes caseiros.
A presença brasileira conta ainda com a participação de Carlos Alberto de Mattos no júri internacional da crítica (Fipresci).



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