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PRÊMIO SHELL
Compositor carioca foi homenageado ontem, no Rio
Portelense Zé Keti aproveita a reverência para rever o passado
GUSTAVO AUTRAN
da Sucursal do Rio
A voz do morro ecoou no templo
da MPB. O portelense Zé Keti, autor da marcha-rancho "Máscara
Negra", foi homenageado ontem,
durante a 18ª edição do Prêmio
Shell de Música Popular Brasileira,
no Canecão, no Rio.
O prêmio é concedido anualmente, desde 81, a um compositor
vivo cuja obra tenha contribuído
para o enriquecimento da música
popular. A exceção fica por conta
de Pixinguinha (1898-1973), o primeiro artista homenageado.
A cantora Fernanda Abreu, o
pianista Wagner Tiso e o diretor da
Sucursal do Rio da Folha, Luiz Caversan, estão entre os jurados que
escolheram o homenageado deste
ano.
Aos 76 anos, Zé Keti aproveita a
reverência para rever o passado.
"Foi um tempo difícil e ao mesmo
tempo muito rico. Uma época que
deve estar sempre gravada na nossa memória".
Modesto, o sambista se esquiva
de qualquer responsabilidade em
relação a seu sucesso. "A homenagem não é necessariamente para o
sambista, mas para o samba que
sempre defendi."
O compositor consagrado por
seus gritos de protesto nos anos 60
era muito quieto na infância. "Zé
Keti é uma variação para Zé Quietinho", explica.
²
Artista multimídia
Nascido em Inhaúma (zona norte do Rio), ele foi levado pela primeira vez à Portela, em Madureira,
pelo compositor Alvaiade, em
1937.
Aos poucos, Zé Keti deixou a timidez de lado e se tornou um artista multimídia. Em 1957, a vida e a
obra do compositor serviram de
base para o filme "Rio Zona Norte", dirigido por Nelson Pereira
dos Santos.
Além disso, compôs trilhas para
filmes do cineasta Roberto Santos
e fez uma parceria inusitada com
Cacá Diegues em "A Grande Cidade".
As músicas de Zé Keti adquiriram contorno político mais forte a
partir dos anos 60. Nessa época ele
comandava as noitadas de samba
no bar Zicartola, no centro do Rio.
Foi Zé Keti que apresentou para
o público os sambistas Elton Medeiros e um certo Paulo César -
apelidado por ele de Paulinho da
Viola.
Na badalação do Zicartola, o
sambista conheceu Oduvaldo
Vianna Filho, o Vianinha, que
idealizou o show "Opinião", em
1965.
O espetáculo contou com Zé Keti, o maranhense João do Vale e a
cantora Nara Leão, substituída
mais tarde por Maria Bethânia. Logo ele se transformou num ícone
da resistência ao regime militar.
O show reuniu no mesmo palco
um representante dos morros cariocas (Zé Keti), um retirante (João
do Vale) e uma carioca engajada de
classe média (Nara Leão).
"Nara era talentosa e muito bonita. Pena que nunca me deu bola",
diz o sambista, fiel à sua fama de
mulherengo.
Autor de composições emblemáticas do samba, entre elas "Diz que
Fui por Aí" e "Mascarada", Zé Keti
entra para história da música popular como um dos principais elos
de ligação entre as culturas produzidas no morro e no asfalto.
"Estou muito emocionado com a
homenagem. Nunca é tarde para
ser reconhecido."
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