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Tarantino abandona as armas em nome da comédia
Estréia hoje nos Estados Unidos o filme "Jackie Brown",
que recupera a estética, as estrelas e as canções dos
policiais feitos por e para o público negro nos anos 70
ADRIANE GRAU
especial para a Folha
em San Francisco*
Três anos depois de "Pulp Fiction
- Tempo de Violência", um novo
filme de Quentin Tarantino chega
aos cinemas. Estréia hoje nos Estados Unidos "Jackie Brown",
adaptação do livro "Ponche de
Rum", de Elmore Leonard, em
que ele assina roteiro e direção.
O filme recebeu duas indicações
para o Globo de Ouro -melhor
atriz (Pam Grier) e ator (Samuel L.
Jackson) de comédia ou musical-
e marca uma mudança no estilo do
diretor. Há, surpreendentemente,
pouca violência.
A atriz negra de 48 anos Pam
Grier faz o papel-título, uma aeromoça que contrabandeia dinheiro
para o traficantes de armas Ordell
Robbie (Samuel L. Jackson).
Pega pela polícia, ela concorda
em colaborar na captura de Ordell.
O elenco tem ainda Michael Keaton, Robert De Niro, Bridget Fonda e Robert Forster.
Tarantino fez várias alterações
na história de Leonard. Reescreveu
o papel de Brown especialmente
para Grier, numa tentativa de recuperar a carreira da atriz -estrela de filmes "blaxploitation" nos
anos 70- como fez com John Travolta. A seguir, trechos de entrevista coletiva concedida por Tarantino em San Francisco.
Pergunta - Este é o filme menos
"tarantinesco" de sua carreira?
Quentin Tarantino - Nunca
usaria a expressão "tarantinesco", pois não sei o que significa.
Mas acho que todo mundo esperava que "Pulp Fiction" fosse parecido com "Cães de Aluguel" e que
"Jackie Brown" fosse como
"Pulp Fiction". Não é. Dá para
ver que fiz os três filmes, é óbvio,
mas não sou uma estrela de rock,
não tenho um estilo de música só
meu. Não quero que as pessoas vão
assistir ao meu próximo filme e
sim ao meu novo filme.
Pergunta - Você parece estar fazendo um esforço consciente para
se afastar de um certo estilo que é
identificado como seu.
Tarantino - Não foi super consciente na medida em que eu fui
atraído por outro tipo de material.
Sabia que queria fazer algo menor,
onde os personagens fossem mais
importantes. Estou muito orgulhoso do fato de a primeira hora do
filme servir apenas para o público
entender melhor quem eles são.
Há vivacidade e veracidade.
Eu conheço bem aquela área de
Los Angeles, fiz um esforço consciente para mostrar Carlson,
Compton e Hermosa Beach. Cresci
por ali. Sabia que teria sido mais
fácil construir cenários, mas decidimos filmar em apartamentos de
verdade, apesar da dificuldade.
Pergunta - O filme custou US$ 12
milhões. Por que tão barato?
Tarantino - Não fiz isso só para
me exibir. Gosto de ir contra a maré. Ganhei menos para fazer "Jackie Brown" do que para "Pulp
Fiction", certo? Mas se o filme for
bem na bilheteria, eu me dou bem
também. É justo quando você ganha no final do processo. É assim
que Clint Eastwood faz. Já vendemos os direitos de distribuição de
"Jackie Brown" no estrangeiro
por mais de US$ 20 milhões. Já ganhamos de volta o que investimos.
Mas o lance é que eu fiz "Jackie
Brown" do jeito que quis sem ter
de me preocupar com blablablá.
Pergunta - Sabendo que você poderia ter conseguido o que quisesse após "Pulp Fiction", foi difícil
manter os pés no chão?
Tarantino - "Jackie Brown"
não deve servir como bandeira para nada. Vou fazer o que puder como homem de negócios para garantir que possamos nos expressar
como artistas e continuar ganhando dinheiro no final.
Pergunta - Não houve pressão?
Tarantino - Nunca pensei sobre
isso, nem uma única vez. Nos Estados Unidos, eu era visto apenas
como um cara que fazia filmes para uma audiência específica. Após
"Pulp Fiction", viram que eu não
era apenas uma idiossincrasia, um
cara tipo Lou Reed, que tinha meu
micropúblico seguidor.
Após decidir o que queria fazer,
nunca pensei sobre as pressões do
novo filme. Só sabia que queria me
apaixonar até encontrar o livro.
Pode ser que tivesse sido diferente
se eu não fosse escritor. Se fosse
simplesmente um diretor as coisas
seriam diferentes, eu estaria lendo
vários roteiros e talvez eu fosse
muito duro com tudo.
Pergunta - O que é mais importante para você? A Palma de Ouro?
O sucesso em seu país?
Tarantino - Recebo muitos elogios, esse lado está coberto. Mas só
quero o que qualquer outro artista
quer e venho conseguindo: respeito pelo meu trabalho.
Há uma coisa muito legal em fazer minha primeira adaptação.
Quando o escritor tem sua própria
voz recebe um selo de aprovação
de público e crítica. Mas se torna
muito facilmente identificado e é
fácil as pessoas não darem mais
tanto valor a tal voz. Aconteceu
com David Mamet, Tennessee Williams e outros. Mas quando você
faz uma adaptação, está usando a
voz de outra pessoa. Há uma qualidade removida do trabalho.
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