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LIVRO/LANÇAMENTOS
Montalbán e Montero reinventam livros
CYNARA MENEZES
especial para a Folha
Se é excesso ou
falta de imaginação, não se sabe.
Mas romances inspirados em antigas
obras parecem estar na moda. O espanhol Manuel
Vázquez Montalbán e o cubano Reinaldo Montero seguiram o filão. O
primeiro se inspirou no filme "O
Estrangulador de Boston" (Richard Fleisher, 1968) para seu "O
Estrangulador"; o segundo, em
"As Afinidades Eletivas", de Goethe, em "As Afinidades".
Os resultados, porém, são radicalmente opostos. Enquanto
Montalbán parte de um filme popular para compor uma obra erudita e difícil, Montero se inspira
no clássico e produz um livro
simples e de prazerosa leitura.
Em "As Afinidades Eletivas", o
alemão Wolfgang Goethe (1749-1832) reúne dois casais na residência de um deles, isolados do
contato com o mundo exterior.
Logo as afinidades entre macho e
fêmea de pares opostos começam
a se definir naturalmente, dando
início ao conflito.
No romance de Montero, dois
casais, decididos de antemão a
trocar de parceiro por algumas
noites, se hospedam em uma cabana no campo. Não há aí a diferença de idade exposta por Goethe com um dos casais de enamorados clandestinos, mas sim a
inocência e até um certo pudor
excessivo daquela que seria a
mais ingênua do grupo, Magda.
Magda se opõe a Cristina, a
mais atirada, e ao próprio marido,
Bruno, ao mesmo tempo que descobre as tais afinidades com o
companheiro da outra, Néstor.
Como pano de fundo da tensão
iminente, as divergências políticas entre os homens do quarteto,
expondo as incoerências da ilha
comandada por Fidel Castro.
"No romance há pontos de vista
e também perguntas sem respostas. Cuba está cheia de carências",
disse o escritor em entrevista à
Folha, por e-mail.
Sobre sua inspiração no livro de
Goethe, Montero revela bem mais
uma "dívida de gratidão" com o
pensamento do autor alemão.
"Enquanto Goethe gasta uma
grande quantidade do tempo até
o momento erótico em que o casal faz amor e cada um pensa no
outro, eu faço com que o sexo
chegue muito rápido. Os problemas começam depois", diz.
É uma boa aposta, e funciona,
com momentos que vão desde a
tensão até o humor mais descarado, como quando a cubana Cristina prefere dizer, em detrimento
do chavão socialista, "Viva a Revolução", "Viva a Umidade".
Vázquez Montalbán preferiu
incorrer em sua formação de filósofo e fez do estrangulador interpretado no cinema por Tony Curtis um autodidata com especial
interesse em pintura e psicanálise.
É um romance escrito sob a forma de diário, a meio caminho entre a ficção e o ensaio -tem até
notas de rodapé-, e o autor usa
páginas e páginas na interpretação de tudo quanto vê e conhece.
Em "Quarteto", pequeno romance policial, já havia se dedicado a analisar a mesma Ofélia do
quadro do pré-rafaelita Everett
Millais, como agora. Refere-se
ainda aos zapatistas de Chiapas,
cujo subcomandante Marcos é alvo de seu livro mais recente.
"O Estrangulador" é sofisticado, tenso e claustrofóbico, e é
apontado por alguns críticos espanhóis como uma das melhores
obras de Montalbán. Infelizmente
é também um livro muito chato.
Avaliação:
Livro: As Afinidades
Autor: Reinaldo Montero
Tradutor: Sérgio Molina
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$18,50 (124 págs.)
Avaliação:
Livro: O Estrangulador
Autor: Manuel Vázquez Montalbán
Tradutora: Rosa Freire d'Aguiar
Editora: Companhia das Letras
Quanto: R$ 24 (210 págs.)
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