São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 2002

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Seleção brasileira


Rosângela Rennó e Beatriz Milhazes são as artistas plásticas indicadas pelo curador Alfons Hug para representar o país na 50ª Bienal de Veneza em 2003


FABIO CYPRIANO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Duas artistas plásticas entram em 2003 com a certeza de que serão assunto durante o ano. Elas são Rosângela Rennó e Beatriz Milhazes, escolhidas para representar o Brasil na 50ª Bienal de Veneza, que será inaugurada no dia 14 de junho.
Segundo Alfons Hug, curador da seleção brasileira por indicação da Fundação Bienal de São Paulo, a escolha ocorreu pois os trabalhos dessas artistas "se encaixam no tema da bienal, "Sonhos e Conflitos'".
Assim, a mineira Rennó, 40, com a sua "Série Vermelha - Militares", que foi exposta por completo na inauguração do Instituto Tomie Ohtake, em 2001, representa a parcela dos conflitos. Já as pinturas da carioca Milhazes, 42, atualmente em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro, sinalizam os sonhos.
Como toda categorização, a redução pode se tornar simplista. "Meu trabalho tem um lado de delírio, de algo surreal, e portanto de sonho. Mas tem também o conflito de mundos diferentes, com as cores e os materiais que utilizo", afirma Milhazes.
"A idéia de conflito está presente em trabalhos anteriores, mas não consigo compartimentalizar. Porém a violência é um tema presente na "Série Vermelha" e gostei da proposta do Hug", diz Rennó.
Pela segunda vez consecutiva, um curador estrangeiro define a participação brasileira em Veneza. Em 2001, foi o italiano Germano Celant, a convite da associação BrasilConnects, quem escolheu Vik Muniz e Ernesto Neto. Agora, o alemão Hug, curador da 26ª Bienal de São Paulo, fez a escolha.
Para o presidente da Fundação Bienal de São Paulo, Manoel Pires da Costa, isso não representa um problema: "O Hug tem nossa confiança e conhece a arte brasileira, por isso a nacionalidade não é importante". Outra coincidência é que, pela segunda vez, ambas as artistas pertencem à galeria Fortes Vilaça, fruto, sem dúvida, do trabalho do marchand Marcantônio Vilaça, morto em 1999.
Rennó e Milhazes têm outro ponto em comum com Muniz e Neto: possuem carreira internacional consolidada. Milhazes acaba de voltar de Nova York, onde inaugurou, com "Coisa Linda", uma série de livros de artista do MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York, e prepara uma exposição para a galeria Max Heztler, em Berlim. Já Rennó, que participou há dois anos da bienal sediada na capital alemã, prepara uma mostra na galeria Lombard Freid, de Nova York, para 2003.
As duas possuem também inserção garantida no Brasil. A mostra de Milhazes em cartaz no Rio, "Mares do Sul", está em negociação para ser exposta, em 2003, na Pinacoteca do Estado de São Paulo, enquanto Rennó exibe atualmente um novo trabalho, os álbuns do projeto Biblioteca, no Museu de Arte da Pampulha, em Belo Horizonte. No próximo ano, a artista mineira prepara o lançamento de três livros, um deles sobre o projeto Biblioteca, e tem uma exposição programada para julho, com a mesma série que será apresentada em Veneza.
As 15 imagens da "Série Vermelha", de Rennó, ocuparão as primeiras duas salas do pavilhão brasileiro, em Veneza. A artista pensa em realizar uma nova foto para a bienal italiana. "Como o pavilhão é simétrico, acho que seria melhor um número par de obras", diz. Já Milhazes irá expor oito telas, sendo que três serão preparadas para a mostra, nas outras duas salas do pavilhão. Para o percurso da mostra, Hug selecionou trechos da "Divina Comédia", de Dante Alighieri, que estarão escritos na parede.
A associação BrasilConnects, que em 2001 levou a Veneza não só Neto e Muniz, mas Carmem Miranda, santos negros barrocos, Tunga e Miguel Rio Branco, irá novamente apoiar a representação brasileira. "Definiremos os papéis no início de janeiro, mas a linha geral será dada pela Fundação Bienal", diz Pires da Costa.


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