São Paulo, sábado, 25 de dezembro de 2004

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Encontros notáveis

"Clássicos" brasileiros traduzem "clássicos" estrangeiros em volumes de contos

CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

As bombas ainda caíam na Europa quando três "torpedos" das forças aliadas desceram de pára-quedas nas livrarias brasileiras. Em plena Segunda Guerra Mundial, uma pequena editora carioca ligada ao Partido Comunista Brasileiro depositou nas prateleiras os volumes "Contos do Mundo".
Em cada um, a Companhia Editora Leitura reunia uma seleta de narrativas breves de uma das três potências aliadas. Primeiro, uma coletânea de contos russos. Depois, ingleses e americanos.
Quase 60 anos e muita história depois, este trio de livros-bomba volta às livrarias, relançados pela Ediouro. E mais do que os escritores compilados vindos dos países inimigos de Hitler e Mussolini salta aos olhos o poder de fogo das Forças Expedicionárias Brasileiras empregadas nesta missão.
Capitaneados por Rubem Braga, nos volumes de contos russos e no de ingleses, e por Vinicius de Moraes, na seleta norte-americana, um exército com boa parte do que houve de melhor na nossa literatura no século 20 se engajou nas traduções das histórias.
Neste "esforço de guerra", Monteiro Lobato traduziu o pioneiro do conto americano Wa- shington Irving (1783-1859), Rubem Braga assinou versão do afiado britânico Bernard Shaw, Manuel Bandeira encarou o mestre russo do conto Tchecov.
A relação destes "encontros notáveis" vai longe. Se por um lado se alistaram escritores-tradutores inveterados, como o próprio Bandeira ou como Rachel de Queiroz (que colaborou nos três volumes, traduzindo seja Robert Louis Stevenson, seja Leon Tolstói), também participaram das seletas outros nomões sem muita ficha corrida no ramo.
O historiador Sérgio Buarque de Holanda foi nas raízes. Trouxe ao português a história do inglês do século 19 William Makepeace Thackeray. O poeta João Cabral de Melo Neto foi ao topo. Faca só lâmina, lapidou o conto "O Ousado Rapaz do Trapézio Suspenso", do americano William Saroyan.
"Saiu a caminhar na manhã, tão desperto quanto podia, dando batidas secas com os calcanhares, recebendo com os olhos a verdade superficial das ruas e das estruturas, a verdade banal da realidade", traduz Cabral, em passagem do conto, destaque do trio de coletâneas. Os livros estão sendo vendidos separados ou em uma caixa. Juntos ou não, os "aliados" são promessa de um Dia D.


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