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Encontros notáveis
"Clássicos" brasileiros traduzem "clássicos" estrangeiros em volumes de contos
CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL
As bombas ainda caíam na Europa quando três "torpedos" das
forças aliadas desceram de pára-quedas nas livrarias brasileiras.
Em plena Segunda Guerra Mundial, uma pequena editora carioca
ligada ao Partido Comunista Brasileiro depositou nas prateleiras
os volumes "Contos do Mundo".
Em cada um, a Companhia Editora Leitura reunia uma seleta de
narrativas breves de uma das três
potências aliadas. Primeiro, uma
coletânea de contos russos. Depois, ingleses e americanos.
Quase 60 anos e muita história
depois, este trio de livros-bomba
volta às livrarias, relançados pela
Ediouro. E mais do que os escritores compilados vindos dos países
inimigos de Hitler e Mussolini salta aos olhos o poder de fogo das
Forças Expedicionárias Brasileiras empregadas nesta missão.
Capitaneados por Rubem Braga, nos volumes de contos russos
e no de ingleses, e por Vinicius de
Moraes, na seleta norte-americana, um exército com boa parte do
que houve de melhor na nossa literatura no século 20 se engajou
nas traduções das histórias.
Neste "esforço de guerra",
Monteiro Lobato traduziu o pioneiro do conto americano Wa-
shington Irving (1783-1859), Rubem Braga assinou versão do afiado britânico Bernard Shaw, Manuel Bandeira encarou o mestre
russo do conto Tchecov.
A relação destes "encontros notáveis" vai longe. Se por um lado
se alistaram escritores-tradutores
inveterados, como o próprio Bandeira ou como Rachel de Queiroz
(que colaborou nos três volumes,
traduzindo seja Robert Louis Stevenson, seja Leon Tolstói), também participaram das seletas outros nomões sem muita ficha corrida no ramo.
O historiador Sérgio Buarque
de Holanda foi nas raízes. Trouxe
ao português a história do inglês
do século 19 William Makepeace
Thackeray. O poeta João Cabral
de Melo Neto foi ao topo. Faca só
lâmina, lapidou o conto "O Ousado Rapaz do Trapézio Suspenso",
do americano William Saroyan.
"Saiu a caminhar na manhã, tão
desperto quanto podia, dando batidas secas com os calcanhares,
recebendo com os olhos a verdade superficial das ruas e das estruturas, a verdade banal da realidade", traduz Cabral, em passagem
do conto, destaque do trio de coletâneas. Os livros estão sendo
vendidos separados ou em uma
caixa. Juntos ou não, os "aliados"
são promessa de um Dia D.
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