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CRÍTICA
Visibilidade foi a palavra de ordem em 2005
BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
Sinal dos tempos: os dois
grandes destaques da TV em
2005 são off-Globo. Embora a TV
da Gente esteja operando em caráter ainda quase experimental,
só a afirmação expressa em seu
slogan "a cor do Brasil" sugere a
importância política da emissora. Trata-se de dar visibilidade à
população negra e fazê-lo invertendo o sinal daquilo que sempre
foi a tradição da TV brasileira:
ocultar, disfarçar e folclorizar a
presença negra. Estreou há pouco mais de um mês e sua programação enfrenta ainda enormes
dificuldades operacionais, mas já
representa um ponto de inflexão
fundamental na história da TV
brasileira.
Num ano em que a política institucional passou por uma crise
inaudita, o outro destaque da TV
também tem sentido mais político do que qualquer outra coisa. O
monopólio da Globo sofreu mais
uma fissura com o sucesso das
novelas da Record. Depois de
uma tentativa sem pé nem cabeça de "inovar", numa combinação de novela e "reality show"
que resultou no fiasco de "Metamorphoses", a emissora acertou
o passo com roteiros mais convencionais, bastante decalcados
daqueles que consolidaram a liderança da Globo na ficção televisiva. Com uma pequena ajuda
de uma gorda injeção de investimentos que possibilitou uma migração de atores recém-saídos de
produções globais, a Record realmente emplacou uma forma alternativa, mesmo que ainda um
tanto derivativa, de fazer novelas.
Visibilidade foi uma espécie de
palavra de ordem da TV neste
ano. A transformação da transmissão direta das CPIs pela TV
Senado em espetáculo, inaugurando um voyeurismo político,
mostrou um espectador interessado em acompanhar e testemunhar até mesmo as questões mais
intestinais do poder.
Na outra ponta, pode-se dizer
que foi um ano de orgulho gay na
TV. Da torcida descarada e quase
unânime para transformar o
professor gay Jean Wyllis em milionário à comoção pelo beijo
que não aconteceu entre os personagens Júnior e Zeca de "América", passando pela simpatia
despertada pelo casal de lésbicas
em sua luta para adotar um garoto em "Senhora do Destino",
2005 pode até ser considerado espécie de marco nessa área.
Na TV a cabo, o clima aterrador, o roteiro improvável e imaginativo e alguns atores de talento fizeram de "Lost" um seriado
daqueles viciantes e que terá a
primeira temporada exibida na
Globo a partir de fevereiro.
"House", com seu cinismo anguloso, sem brechas, criou uma espécie de drama às avessas, em
que a simpatia pelo sofrimento
humano é objeto de piada, de
desprezo e sinal de fraqueza. Interessante (e os diálogos ótimos
ajudam), ainda que um tantinho
repulsivo.
Essa espécie de retrospectiva
breve e idiossincrática não ficaria
completa sem mencionar um "já
foi tarde": até a conclusão desta
coluna, João Kleber continuava
fora do ar.
@ - biabramo.tv@uol.com.br
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