São Paulo, segunda-feira, 25 de dezembro de 2006

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MEMÓRIA

Compositor foi o mestre das marchinhas

CARLOS RENNÓ
ESPECIAL PARA A FOLHA

SE FÔSSEMOS aplicar aos grandes criadores da música brasileira a terminologia poundiana para as espécies de artistas, poderíamos dizer que, se Lamartine Babo inventou as marchas de Carnaval, João de Barro, o Braguinha, seu sucessor e parceiro, foi o mestre do gênero. Mas Braguinha, com Alberto Ribeiro como principal colaborador, também excursionou por outros terrenos, como os da valsa, da música junina e do samba-canção. Aliás, especialmente com "Copacabana", ele, que compunha assobiando, se alinhou entre os antecessores da bossa nova. Muito mais do que pré-bossanovista, porém, Braguinha foi pré-tropicalista, como atesta "Yes! Nós Temos Banana", marcha em que se percebe o emprego crítico da paródia, de que iriam se utilizar criativamente, 30 anos mais tarde, os artífices do tropicalismo. A precursora tropicalidade de Braguinha é também evidenciada por Caetano numa gravação, com Gil, da versão do bolero "As Três Caravelas". Braguinha se notabilizou como criativo versionista, à moda antiga (sem muito compromisso com o sentido da letra original), de canções estrangeiras. Outra bela atuação sua nesse campo foi "Sorri" ("Smile", de Chaplin), gravada por Djavan. Em uma bem-sucedida tentativa de revitalizar a marcha de Carnaval no início dos 70, Caetano ainda compôs "A Filha da Chiquita Baca", obviamente aludindo à personagem-título, "existencialista, com toda razão" (Chiquita era chique), da marcha de Braguinha. Uma demonstração da durabilidade da sua obra é a diversidade de releituras que ela recebeu. Algumas estouraram com Chico Buarque, Nara Leão, Bethânia e Gal.


CARLOS RENNÓ é letrista e jornalista, organizador de "Gilberto Gil Todas as Letras" (Companhia das Letras)


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