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MEMÓRIA
Compositor foi o mestre das marchinhas
CARLOS RENNÓ
ESPECIAL PARA A FOLHA
SE FÔSSEMOS
aplicar aos grandes
criadores da música
brasileira a terminologia
poundiana para as espécies
de artistas, poderíamos dizer
que, se Lamartine Babo inventou as marchas de Carnaval, João de Barro, o Braguinha, seu sucessor e parceiro,
foi o mestre do gênero.
Mas Braguinha, com Alberto Ribeiro como principal
colaborador, também excursionou por outros terrenos,
como os da valsa, da música
junina e do samba-canção.
Aliás, especialmente com
"Copacabana", ele, que compunha assobiando, se alinhou entre os antecessores
da bossa nova.
Muito mais do que pré-bossanovista, porém, Braguinha foi pré-tropicalista,
como atesta "Yes! Nós Temos Banana", marcha em
que se percebe o emprego
crítico da paródia, de que
iriam se utilizar criativamente, 30 anos mais tarde,
os artífices do tropicalismo.
A precursora tropicalidade
de Braguinha é também evidenciada por Caetano numa
gravação, com Gil, da versão
do bolero "As Três Caravelas". Braguinha se notabilizou como criativo versionista, à moda antiga (sem muito
compromisso com o sentido
da letra original), de canções
estrangeiras. Outra bela
atuação sua nesse campo foi
"Sorri" ("Smile", de Chaplin), gravada por Djavan.
Em uma bem-sucedida
tentativa de revitalizar a
marcha de Carnaval no início
dos 70, Caetano ainda compôs "A Filha da Chiquita Baca", obviamente aludindo à
personagem-título, "existencialista, com toda razão"
(Chiquita era chique), da
marcha de Braguinha.
Uma demonstração da durabilidade da sua obra é a diversidade de releituras que
ela recebeu. Algumas estouraram com Chico Buarque,
Nara Leão, Bethânia e Gal.
CARLOS RENNÓ é letrista e jornalista, organizador de "Gilberto Gil Todas as Letras"
(Companhia das Letras)
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