Baseado em best-seller, longa traz Owen Wilson e Jennifer Aniston como um casal que compra o "pior cão do mundo"

ALESSANDRO GIANNINI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Se a qualidade de um filme fosse medida pela quantidade de lágrimas vertidas pelos espectadores durante uma sessão, "Marley & Eu" certamente estaria entre os melhores do ano e quebraria todos os recordes. No entanto, o filme de David Frankel ("O Diabo Veste Prada") inspirado no best-seller de mesmo nome do jornalista americano John Grogan usa o sentimentalismo como um fim em si mesmo. Este é um dos seus vários limites.
Jennifer Aniston e Owen Wilson fazem o par romântico do filme, jovens jornalistas recém-casados em busca de montar família e progredir em suas carreiras. Eles se mudam de Michigan para a Flórida, conseguem empregos em diferentes empresas, compram uma casa na região sul de Miami e, antes de pensarem em ter filhos, compram um cachorro. O labrador Marley, considerado por eles mesmos em tom jocoso "o pior cão do mundo", é a terceira ponta dessa relação.
Não há nessa história uma trama que mova os personagens -incluindo o cão- em direção a algo ou, por outro lado, para longe de algo.
Grogan (Wilson) e Jenny (Aniston) são dois jovens bonitos e saudáveis que querem ser felizes em família. É uma versão moderna do "sonho americano", com cachorro de estimação e tudo. Claro, há os percalços, como a dificuldade de terem filhos ou a insatisfação dele com o trabalho. Marley assiste a tudo, com graus diferentes de participação de acordo com o evento.
Talvez o grande problema do filme esteja na origem. Quando Grogan começou no jornalismo, era o que no jargão chama-se de repórter de rua, o profissional que cobre os assuntos mais urgentes da cidade. Com algum tempo de casa, passou a assinar uma coluna com crônicas também sobre assuntos locais, mas com um colorido a mais nos textos.
O diferencial encontrado por ele era justamente Marley e suas participações involuntárias na rotina do casal. Eventualmente, a popularidade da coluna cresceu e as melhores foram reunidas em livro.
Foi sobre esta coletânea, "Marley & Eu", que Frankel e os roteiristas Scott Frank e Don Roos se debruçaram para tirar o recorte que se transformaria no filme. Evidentemente, não houve muito trabalho para burilar o roteiro que se transformou em duas horas de projeção. Não há recorte possível -e interessante- na história linear de um casal que quer simplesmente progredir na vida, a não ser que algo mais emocionante ou dramático que um cachorro alegre, divertido e brincalhão aconteça em suas vidas.
Algo que os criadores de Rin-tin-tin, Lassie, Digbie e vários outros cachorros do cinema sabiam muito bem.