Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"HQ no Brasil é um sacerdócio, uma missão"
da Sucursal do Rio
Aos 70 anos, Flavio Colin quer
produzir novas revistas em quadrinhos sobre temas brasileiros,
mas esbarra nas dificuldades do
mercado editorial.
Sem amargura, enfrentou o desdém de sua família e as dificuldades financeiras para seguir contando suas histórias.
Ele tem uma explicação. "Nunca deixei morrer o menino que
existe dentro de mim." Leia a seguir trechos da entrevista de Flavio Colin à Folha, em sua casa em
Teresópolis, no Rio de Janeiro.
(AM)
Folha - Como o senhor começou a gostar de HQs?
Flavio Colin - Comecei lendo
clássicos como "Dick Tracy" e
"Terry e os Piratas". Adoro faroeste. Desenhava cadernos com
histórias e vendia para meus amigos.
Folha - O senhor se sente mal
ao ver histórias em quadrinhos
norte-americanas dominando
as bancas?
Colin - Não sou xenófobo. Sou é
a favor de nós. Uns brasileiros assumem nome americano e desenham super-herói. Não faço isso
nem a pau. Quero escrever histórias sobre o Brasil. Esse país não
se conhece. Mas não sou radical.
Há alguns meses, ilustrei uma revista sobre os Backstreet Boys.
Como não é um super-herói, topei.
Folha - O senhor também ficou
conhecido por suas histórias de
terror para diversas editoras nacionais.
Colin - Desenhava terror porque é gostoso para caramba. O lobisomem, o cemitério com aquelas lápides bacanas, as assombrações. Fiz muita HQ de sacanagem
(a mulher, Norma, que acompanha a entrevista, dá uma risada tímida). Eu era até comedido. Mas
quem é que não gosta de sacanagem?
Folha - Vale a pena ser autor
de histórias em quadrinhos no
Brasil?
Colin - História em quadrinho
no Brasil é um sacerdócio, uma
missão. Gosto de criar sozinho, na
minha prancheta. O Ziraldo diz
que sou um bobo, um romântico.
Mas sou assim porque não deixei
morrer o menino que existe dentro de mim. É o que eu sou, um
menino que gosta de desenhar. Se
amadurecer, aí sim, viro um bobão.
Folha - Quais são os projetos
que o senhor tem na gaveta?
Colin - Quero fazer uma HQ sobre a Guerra do Contestado e outra com o Curupira. Mostraria para as crianças o que estão fazendo
com as florestas.
Folha - Como foi a pressão da
sua família quando o senhor entrou nas HQs?
Colin - Meu pai morreu em 70
perguntando o que eu fazia. Nunca aceitou que eu fosse um artista,
porque na cabeça dele isso era
coisa de vagabundo. Minha mãe
dava um carro por ano para o
meu irmão, que destruiu dez, mas
jamais me deu um vidro de nanquim. Na minha família, ninguém leu nada meu. Costumo dizer que meus pais fizeram o artista e perderam o espetáculo.
Texto Anterior: Quadrinhos: Flavio Colin é homenageado no Rio Próximo Texto: Salão de Humor abre hoje no RJ Índice
|