São Paulo, Quarta-feira, 26 de Janeiro de 2000


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"HQ no Brasil é um sacerdócio, uma missão"

da Sucursal do Rio

Aos 70 anos, Flavio Colin quer produzir novas revistas em quadrinhos sobre temas brasileiros, mas esbarra nas dificuldades do mercado editorial.
Sem amargura, enfrentou o desdém de sua família e as dificuldades financeiras para seguir contando suas histórias.
Ele tem uma explicação. "Nunca deixei morrer o menino que existe dentro de mim." Leia a seguir trechos da entrevista de Flavio Colin à Folha, em sua casa em Teresópolis, no Rio de Janeiro. (AM)

Folha - Como o senhor começou a gostar de HQs?
Flavio Colin -
Comecei lendo clássicos como "Dick Tracy" e "Terry e os Piratas". Adoro faroeste. Desenhava cadernos com histórias e vendia para meus amigos.

Folha - O senhor se sente mal ao ver histórias em quadrinhos norte-americanas dominando as bancas?
Colin -
Não sou xenófobo. Sou é a favor de nós. Uns brasileiros assumem nome americano e desenham super-herói. Não faço isso nem a pau. Quero escrever histórias sobre o Brasil. Esse país não se conhece. Mas não sou radical. Há alguns meses, ilustrei uma revista sobre os Backstreet Boys. Como não é um super-herói, topei.

Folha - O senhor também ficou conhecido por suas histórias de terror para diversas editoras nacionais.
Colin -
Desenhava terror porque é gostoso para caramba. O lobisomem, o cemitério com aquelas lápides bacanas, as assombrações. Fiz muita HQ de sacanagem (a mulher, Norma, que acompanha a entrevista, dá uma risada tímida). Eu era até comedido. Mas quem é que não gosta de sacanagem?

Folha - Vale a pena ser autor de histórias em quadrinhos no Brasil?
Colin -
História em quadrinho no Brasil é um sacerdócio, uma missão. Gosto de criar sozinho, na minha prancheta. O Ziraldo diz que sou um bobo, um romântico. Mas sou assim porque não deixei morrer o menino que existe dentro de mim. É o que eu sou, um menino que gosta de desenhar. Se amadurecer, aí sim, viro um bobão.

Folha - Quais são os projetos que o senhor tem na gaveta?
Colin -
Quero fazer uma HQ sobre a Guerra do Contestado e outra com o Curupira. Mostraria para as crianças o que estão fazendo com as florestas.

Folha - Como foi a pressão da sua família quando o senhor entrou nas HQs?
Colin -
Meu pai morreu em 70 perguntando o que eu fazia. Nunca aceitou que eu fosse um artista, porque na cabeça dele isso era coisa de vagabundo. Minha mãe dava um carro por ano para o meu irmão, que destruiu dez, mas jamais me deu um vidro de nanquim. Na minha família, ninguém leu nada meu. Costumo dizer que meus pais fizeram o artista e perderam o espetáculo.


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