São Paulo, quarta-feira, 26 de janeiro de 2005

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RUMO AO OSCAR

Indicação de José Rivera, pelo texto de "Diários de Motocicleta", leva ideal de união de povos a Los Angeles

Para roteirista, é o sonho de Che realizado

Divulgação
Rodrigo de la Serna e Gael García Bernal em cena de "Diários"


DA CALIFÓRNIA

É o sonho de Che Guevara realizado, se não da unidade latino-americana, pelo menos da união dos povos. É esta a estranha relação, do revolucionário argentino com o centro da futilidade mundial, que faz o porto-riquenho José Rivera, 40, indicado ontem ao Oscar de melhor roteiro adaptado, pelo texto que fez para "Diários de Motocicleta".
"O filme é dirigido por um brasileiro, tem um mexicano no papel principal, roteiro de um porto-riquenho e música de um uruguaio, além de dinheiro norte-americano, alemão e britânico, o que mais você quer?", perguntou à Folha José Rivera, entre risadas, em entrevista por telefone.
Pode ser. De maneira tortuosa, o homem que um dia sonhou com a unificação dos povos latino-americanos e terminou assassinado durante uma guerrilha nas matas bolivianas participará da premiação em 27/2, no Kodak Theatre, em Los Angeles. Afinal, segundo as regras da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood, como autor da obra que deu origem ao filme de Walter Salles, o argentino Ernesto "Che" Guevara (1928-1967), que foi chamado de "Guevéra" no Globo de Ouro há duas semanas, tem de ser devidamente registrado. "É engraçado", disse Rivera.
Em sua estréia como roteirista de cinema, o porto-riquenho concorre com gente grande, como o diretor Alexander Payne, de "Sideways - Entre Umas e Outras", que também assina o roteiro, os atores Julie Delpy e Ethan Hawke, responsáveis pelo texto da seqüência "Antes do Pôr-do-Sol", e o veterano de TV canadense Paul Haggis, que concorre por sua excelente adaptação do livro "Rope Burns", de FX Toole (na verdade, pseudônimo do ex-dono de ginásio Jerry Boyd, morto no ano passado, cujo livro continua estupidamente inédito no Brasil), que nas mãos de Clint Eastwood virou "Menina de Ouro".
Completa a categoria David Magee, por "Em Busca da Terra do Nunca", estreante como Rivera. "Acho que o favorito é "Menina de Ouro", em segundo lugar "Sideways'", disse ele, que mora em Los Angeles. "Em todo o caso, minha namorada já providenciou o aluguel do smoking, e você pode contar comigo lá na noite da cerimônia." O roteirista se prepara agora para estrear na direção, com "Celestina", baseado em peça de sua autoria, a ser produzido por Walter Salles.
O diretor brasileiro, aliás, prefere olhar para a Europa, de onde ventos melhores sopram na direção de "Diários de Motocicleta". No começo da semana passada, o Bafta, o "Oscar" britânico, indicou o título a sete categorias, entre eles a de melhor filme e de melhor filme em língua não-inglesa. Anteontem, foi a vez do César, o "Oscar" francês, colocar "Diários" na categoria de melhor filme estrangeiro, na qual briga com "21 Gramas", de Alejandro Gonzalez Iñarritu, "Fahrenheit 9/11", de Michael Moore, "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças", de Michel Gondry, e "Encontros e Desencontros", de Sofia Coppola.
"Como "Diários" não podia, de acordo com as regras da Academia, concorrer ao prêmio de melhor filme estrangeiro, não havia muito o que esperar do Oscar", disse por e-mail o diretor brasileiro à Folha, de Los Angeles e a caminho do Fórum Social de Porto Alegre, onde participa de um debate. "Deve-se considerar que o Oscar não é somente um prêmio dado por uma indústria, é também o mais importante instrumento de marketing dessa indústria para o lançamento de filmes no mercado internacional. É por isso que sobra pouco espaço. Em todo caso, vivam os ingleses e franceses, muito mais abertos a outras cinematografias."
O Bafta é entregue no dia 12 de fevereiro; já o César, no dia 26, um dia antes do Oscar. (SD)


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