São Paulo, sexta-feira, 26 de janeiro de 2007

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Cinema/estréias

"Perfume" investe em atmosfera do século 18

Versão do livro de Patrick Süskind tem o mesmo diretor de "Corra, Lola, Corra"

Em entrevista à Folha, Tykwer diz que evitou "visual louco" e que personagem ambíguo catalisa a narrativa


Divulgação
Karoline Herfurth e Ben Whishaw em cena do longa "Perfume - A História de um Assassino"


ALEXANDRE WERNECK
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

"Perfume - A História de um Assassino", o livro de Patrick Süskind, um dos maiores sucessos literários da história da Alemanha, é a odisséia de um anti-herói convertida em uma questão de sentido: nascido em um mercado na Paris de 1738, em meio a restos de peixe e dejetos diversos, Jean-Baptiste Grenouille não tem cheiro.
Ao mesmo tempo, ele tem um dom singular, a capacidade de captar e reconstituir qualquer odor. Apaixonado pelo olfato e não correspondido em seu amor, ele se torna perfumista e "serial killer", obcecado pela idéia de aprisionar o cheiro inebriante das mulheres.
Pois quando o também alemão Tom Tykwer assumiu, quatro anos atrás, a empreitada de transformar a obra em filme, o desafio foi transformar em visual uma história cujo principal elemento é invisível.
"Quando você filma uma história de amor, o principal elemento, o amor, é invisível. E, mesmo assim, ele é filmável. Acho que meu caso é semelhante", diz à Folha Tykwer, 41, cujo filme entra em cartaz no Brasil após uma carreira dividida entre elogios e críticas nas estréias na Europa (em setembro) e nos EUA (em dezembro).
"Nunca entendi o mito de que esse livro era considerado difícil de transpor para as telas. Sempre o achei ótimo material para isso, principalmente pelo ótimo personagem", conta, também desmentindo a história de que Stanley Kubrick -um dos vários diretores associados ao projeto, numa galeria que chega a Ridley Scott- teria dito que a obra era infilmável.
Ele escolheu como protagonista o desconhecido Ben Whishaw, 26. A aposta foi certa -o ator britânico de teatro recebeu elogios por sua atuação.
Em vez do ritmo frenético e do visual arrojado de "Corra, Lola, Corra", Tykwer fez agora um filme naturalista, grandioso na reconstituição da França e da Alemanha do século 18.
"Desde o começo, decidi que não era para ser um filme com um visual louco, filtros ou câmeras transformadas em uma emulação do dom de Grenouille. O mais importante era a atmosfera", avalia o diretor.
E para isso, Tykwer aposta no transporte do espectador para a época. A reconstituição dos espaços -sobretudo o caos urbano da Paris anterior à Revolução Francesa- é um dos aspectos mais fortes do filme. Segundo Tykwer, o odor é um signo que leva ao verdadeiro fogo da história. "O mais importante para mim era filmar o ato físico do colecionador", diz. "O cheiro é importante na história, mas o principal é que esses cheiros vêm de coisas."


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