São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

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Rita pirata

Gravado em 1973 e nunca lançado oficialmente, álbum solo da roqueira surge em edição não-autorizada

Arquivo "Última Hora"
A cantora Rita Lee, em 1974, queteve seu LP de estreia prensado em edição pirata

MARCUS PRETO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Desta vez não teve quem segurasse. Impedido duas vezes de vir à luz, aquele que seria o LP de estreia de Rita Lee fora dos Mutantes ganha sua primeira prensagem 35 anos depois de ter sido gravado. A edição é histórica, caprichada, limitada. E pirata.
São apenas mil cópias numeradas -500 em CD, outras tantas em luxuoso vinil de 180 gramas. Tudo é inventado: a ilustração psicodélica da capa, o selo "original" da Philips, a quantidade e a ordem das faixas. Chegaram ao preciosismo de reproduzir o número do CGC da gravadora na contracapa.
Até o título do álbum foi trocado. Se tivesse sido lançado quando nasceu, em 1973, ele se chamaria "Tutti-Frutti". Na versão pirata, virou "Cilibrinas do Éden" -nome da dupla que Rita montara com a cantora Lucia Turnbull quando se desligou dos Mutantes, um ano antes de registrar essas faixas.
"Tutti-Frutti" foi gravado ao vivo em dezembro de 1973, no estúdio Eldorado, em São Paulo, sob os olhos de uma pequena plateia. "Foi o primeiro disco que o Liminha produziu", lembra o baixista Lee Marcucci. "A gente era muito novo, estava cheio de gás. Dá para ouvir isso na música que a gente fazia."
"Eu estava louca para ser parte de outra banda, meu negócio não era ser "front stage'", diz Rita, que na época somava 26 anos. "Preferia que a Lucia fizesse os solos de voz e de guitarra para eu ficar lá atrás só nos "shubirú dau dau" e nos poucos instrumentos que consegui recuperar dos Mutantes. Tudo o que eu queria era pertencer a uma gangue, dividir a grana igualmente entre todos, dividir as parcerias mesmo que ninguém mais tivesse composto nada."
André Midani, então diretor da gravadora, queria transformar Rita numa estrela e não gostou dessa política coletiva. Interditou o trabalho antes de ele ir à fábrica (leia texto ao lado). "Tutti-Frutti" (nome que batizou também a banda de apoio de Rita Lee) caiu no buraco negro dos porões da gravadora e só foi redescoberto no final dos anos 90 -conforme noticiado pela Folha na ocasião.

Direitos
Uma edição "oficial" chegou aos limites de ser lançada, sob os cuidados do pesquisador Marcelo Froes. "Infelizmente, um dos membros não topou o valor e pleiteou que o disco seria um trabalho de banda, e não um disco solo de Rita Lee, e que os royalties artísticos deveriam ser rateados. Rita não concordou e o assunto ficou enterrado", ele lamenta.
O membro em questão é Lucia Turnbull. Hoje, ela afirma que tudo não passou de uma "falha de comunicação". "Propus uma conversa entre as partes para a gente chegar a um ponto em comum, mas nunca mais fui procurada. Não entendi o porquê dessa reação, afinal é natural você fazer um trabalho e ganhar por ele", diz. E enfatiza a importância de o álbum vir à tona de forma oficial: "Tudo é documento. E, mais que isso, acho esse trabalho um barato. É puro, inocente. Uma fase superlegal do trabalho da Rita e de nós todos".
Ao que tudo indica, a edição pirata foi produzida na Espanha pela obscura gravadora Nosmokerecords. Indícios levam a crer que se trata de uma iniciativa de brasileiros que moram na Europa.
Conseguir um exemplar do álbum não é tão difícil. Eles estão disponíveis em alguns sebos do centro de São Paulo, em sites como Mercado Livre e eBay e de pequenas lojas estrangeiras. Uma cópia em vinil chega a custar salgados R$ 400.
"E esse preço só vai aumentar", garante Alexandre Lopes, do sebo Cel-Som Discos. Ele comprou oito exemplares de uma distribuidora espanhola.


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