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"Lebowski" vira objeto de culto
Filme de 1998 dos irmãos Coen, "O Grande Lebowski" é tema de documentários, livros e até religião
Festival anual ajuda a manter fama do longa, considerado por fãs "o primeiro clássico da
era da internet"
FERNANDA EZABELLA
DA REPORTAGEM LOCAL
"Lebowski curou meu câncer", brinca um. "É meu maior
sonho nerd realizado", desmancha-se outro. Declarações
de amor, às vezes embaraçosas,
estão num documentário que
acompanhou por cinco anos
um festival dedicado ao filme
"O Grande Lebowski", dos irmãos Joel e Ethan Coen.
O longa de 1998 registra as
desventuras de Jeffrey Lebowski, ou "The Dude", algo como "O Cara", um maconheiro
fã de boliche que é confundido
com um milionário de mesmo
nome, em Los Angeles.
Decepção nas bilheterias, ficou apenas seis semanas em
cartaz nos EUA, mas foi o suficiente para arrebanhar entusiastas pelo mundo, alucinados
por suas supostas mensagens
subliminares, cenas surrealistas e personagens peculiares.
Um desses fãs é Eddie
Chung, 34, um coreano que
mora nos EUA desde os quatro
anos e que se lembra da primeira vez que viu o filme, sozinho
numa grande sala de cinema. O
impacto foi grande, mas não
maior do que quando visitou o
Lebowski Fest em 2004, um
festival anual que ajuda a manter a chama do Dude acesa,
através de concursos de fantasia e testes de conhecimento
sobre o longa. O evento foi criado por dois amigos desocupados, que conseguiram reunir
150 pessoas num boliche após
criar um site-convite em 2002.
"O Lebowski Fest é a razão
para eu gostar do filme hoje
mais do que nunca. É um grande filme, mas não é meu favorito, nem o meu favorito dos
Coen", diz à Folha Chung, que
lançou no final de 2009 o documentário "The Achievers: The
Story of the Lebowski Fans"
(os empreendedores: a história
dos fãs do Lebowski; US$ 18 na
Amazon.com, mais taxas).
Formado em filosofia, Chung
tenta explicar o fenômeno Dude e filma a rede de amizades
formada a partir do longa, tido
como "o primeiro clássico da
era da internet". "São como
pessoas que vão à igreja, que
gostam de sair juntas", diz Jeff
Dowd, um ativista americano
tido como inspiração para o
personagem Lebowski.
Os Coen não aparecem no
documentário, nem nunca o fizeram no festival. O ator Jeff
Bridges, que faz o Dude, deu
entrevista quando visitou o
evento com sua banda.
Acadêmicos explicam
Mas não são apenas nerds cinéfilos que se debruçam sobre
"O Grande Lebowski". Vinte e
um acadêmicos lançaram recentemente o livro de 500 páginas "The Year's Work in Lebowski Studies" (a obra anual
dos estudos Lebowski; editora
Indiana University Press, US$
16), que vem engrossar o conjunto literário já publicado sobre o personagem. Oito dos 12
ensaios estão disponíveis de
graça no Google Livros.
"Muitas pessoas não percebem como os departamentos
de literatura são ecléticos hoje
em dia, que podemos examinar
coisas como "Lebowski'", diz
um dos editores do livro, Aaron
Jaffe, 38, professor de inglês especializado em James Joyce da
Universidade de Louisville.
No livro, há comparações de
Dude com a "nova esquerda" e
referências ao grupo de arte
conceitual Fluxus, a Freud, a
faroeste e até ao cálice sagrado.
A ideia do livro veio após Jaffe
ser convidado a fazer uma conferência no Lebowski Fest.
"Os mundos [dos acadêmicos
e dos fãs] não são os mesmos,
mas se encontram muito mais
do que você imagina. Os fãs são
acadêmicos com melhor credibilidade de rua. E os acadêmicos são fãs dos fãs", diz Jaffe.
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