São Paulo, segunda, 26 de janeiro de 1998.



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VÍDEO LANÇAMENTOS
Chegam às locadoras "Todos a Bordo" e "Assassino(s)", os novos filmes dos polêmicos diretores Spike Lee e Mathieu Kassovitz "Todos a Bordo", mais um filme de Spike Lee lançado diretamente em vídeo Mathieu Kassovitz (à esq.) e Michel Serrault em cena do filme "Assassino (s)", que sai em vídeo no Brasil Kassovitz retrata morte como ofício

da Equipe de Articulistas

Mathieu Kassovitz surgiu para o mundo em 1995 como uma das grandes promessas do cinema francês, com o contundente "O Ódio".
Seu segundo longa-metragem, "Assassino(s)", frustrou, entretanto, a expectativa geral da crítica e do público.
O filme retoma o mesmo argumento de um curta-metragem anterior do cineasta, "Assassino": o relacionamento entre um velho assassino profissional e o jovem que escolheu como discípulo.
No longa "Assassino(s)", o velho matador é o melancólico sr. Wagner, interpretado pelo veterano Michel Serrault, e seu discípulo é o desorientado Max, encarnado pelo próprio Kassovitz.
Apesar do bom ponto de partida e da inegável competência do cineasta (que também fez a montagem) na escolha dos enquadramentos, na relação com a música e na manutenção do ritmo, o filme é de um vazio aterrador.
Talvez a intenção do diretor seja, pelo menos parcialmente, essa mesmo: a de expressar o vácuo moral e existencial contemporâneo de uma maneira igualmente exangue e sem nervo.
O problema é que nada parece de verdade em "Assassino(s)" -e nem se descola o suficiente do naturalismo a ponto de configurar uma estilização "conceitual".
O sr. Wagner fala de seu ofício como de um artesanato requintado e regido por severos princípios morais, mas, na hora de matar, age como um açougueiro.
Max, um marmanjo meio abobalhado, que aos 25 anos ainda mora com a mãe costureira, salta inexplicavelmente dos pequenos furtos para os assassinatos brutais.
A maneira como um se liga ao outro, as mudanças súbitas de atitude e de temperamento dos dois, tudo contribui para a sensação de um filme em que se caprichou na técnica, mas se avacalhou na dramaturgia.
O que resta é pose -uma atmosfera "cool" que termina por glamourizar o mundo besta dos personagens- e um indisfarçado narcisismo do diretor-protagonista, focalizado em close em metade dos planos.
A única linha interpretativa que se distingue nas relações entre o veterano e os aprendizes (porque depois surge outro, mais jovem e mais estúpido) é a de que se perderam noções como orgulho profissional e senso de responsabilidade, substituídas pela vulgar atração pelo dinheiro e pelo consumo.
E daí? O que quer Kassovitz, afinal? Lamentar o fim do velho e bom assassino à moda antiga? Criticar a vulgarização geral do mundo e a desorientação da juventude?
Se isso não fica claro, não é por excesso de sutileza. Na falta de uma idéia nova, o diretor aponta todas as suas baterias contra a televisão, entidade onipresente no filme. A televisão imbeciliza, nos diz ele em cada plano.
Ótimo. Agora só falta fazer um filme para mostrar que a água molha e o fogo queima. (JGC)
Filme: Assassino(s) Produção: França, 1996
Direção: Mathieu Kassovitz Com: Mathieu Kassovitz, Michel Serrault Lançamento: Abril Vídeo (tel. 0800-120199)



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