EDSON FRANCO
EDITOR DE VEÍCULOS E CONSTRUÇÃO

Já que descrever música com palavras se revela cada vez mais uma tarefa inglória, o programa "Impact" (GNT) encontra um nicho seguro ao enfocar o cenário, a história e o impacto de "Respect", clássico maior do repertório da cantora Aretha Franklin, 61.
Gravada em fevereiro de 67, a canção só aparece no programa por meio de flashes de uma apresentação da cantora. Nas brechas, músicos, produtores e radialistas falam. Isso faz com que a música se esconda ou, por outra, paire como uma entidade invocada eventualmente na "mesa branca" formada pelos entrevistados.
Cenas de manifestantes pelos direitos civis, de hippies, de Otis Redding (compositor que gravara "Respect" dois anos antes de Franklin) no Monterey Pop Festival e do reverendo Jessie Jackson defendendo o look afro completam o apelo visual da produção.
Mas o que ela tem de melhor está mesmo nas palavras. Por meio delas, fica-se sabendo o básico dos anos de formação de Franklin, da sua experiência frustrada na gravadora Columbia e de como o seu talento foi moldado e embalado pelo produtor da Atlantic Jerry Wexler, capitão do LP "I Never Loved a Man the Way I Love You", que tem "Respect" como faixa de abertura.
Nem só do básico vivem os depoimentos. Quando deixam a superfície, por vezes mergulham na lama da fofoca (as surras que, reza a lenda, ela levava de Ted White, seu ex-marido), em outras no mar profundo das análises consistentes (como quando o cantor Smokey Robinson fala sobre a importância da música em questão).
A meia hora de falatório é suficiente para fazer do leigo um iniciado e para dar uma ou outra luz para aqueles que já estão familiarizados com a obra da cantora.
O único erro imperdoável é o fato de, entre os vários depoimentos, não ter nenhum da própria Franklin, que, segundo o programa, reatou vários fios soltos dos anos 60 com a sua versão de "Respect". E aí faltou respeito.