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ILUSTRADA
Violência de cenas marca controverso filme do ator e diretor Mel Gibson, que chegou ontem aos cinemas americanos
"Paixão de Cristo" estréia em meio a polêmica
FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON
Cercada de controvérsia, a estréia de "A Paixão de Cristo"
("The Passion of the Christ"), novo filme do ator Mel Gibson, 48,
lotou milhares de salas de cinema
ontem nos EUA e levou ao ápice a
mobilização de grupos de cristãos
e judeus que vêem a obra como
"blasfêmia" ou como um libelo
anti-semita.
"A Paixão de Cristo" tem, de fato, cenas de violência nauseantes
contra Jesus (interpretado por
Jim Caviezel) e não faz boa figura
dos líderes judaicos de Jerusalém,
que, no filme, condenam sumariamente "o filho de Deus" à sua
horrível morte.
Tirando seus excessos, no entanto, o filme tem o mérito de
querer ser realista ao máximo e de
mostrar o intenso sofrimento físico do homem Jesus em meio a
curtos flashbacks de passagens famosas dos evangelhos.
Totalmente diferente de outras
versões açucaradas, "A Paixão de
Cristo" se concentra nas 12 últimas horas de vida de Jesus, desde
o seu último encontro com um
diabo andrógino criado por Gibson até o momento de sua terrível
crucificação no Gólgota.
Em resumo, o objetivo moral
parece ser o de tornar absolutamente inesquecível o fato de que
Jesus pagou muitíssimo caro "por
nossos pecados".
O realismo do filme de Gibson é
acentuado pelo fato de não ter sido empregado nenhum ator conhecido do grande público e de os
personagens judeus falarem somente em aramaico. E os invasores romanos, em latim.
Há semanas, Gibson vem sendo
massacrado em críticas e entrevistas que acusam o filme de ser
anti-semita e bárbaro em suas cenas de violência, a maior parte
apresentada em câmera lenta e
encharcada de sangue.
O ator, que investiu US$ 25 milhões do próprio bolso para produzir, dirigir e escrever o filme,
nega a relação e afirma que a obra
foi o produto de uma crise pessoal
que o reaproximou de sua comunidade cristã conservadora.
Mas o fato é que os líderes judeus que pagam pela traição de
Judas e que levam Jesus à presença de Poncius Pilatos são apresentados em "A Paixão de Cristo" como maus, ludibriadores e até sádicos nos momentos de maior
agonia de sua vítima.
É impossível não antipatizar
com eles, especialmente pelo fato
de o filme não oferecer a relevante
informação de que Jesus e seus seguidores também eram judeus.
A dimensão do sofrimento imposto a Jesus, resultado direto da
"ação de bastidores" dos líderes
judaicos, completa o quadro.
Nos 118 minutos de filme, Jesus
apanha pouco mais de 20 minutos, cronometrados, até o momento de sua crucificação.
Mas, quando aparecem, as cenas de massacre contra o seu corpo são, de fato, "pornográficas".
Em um dos piores momentos,
quando é açoitado com um instrumento de tiras de couro e pedaços de ferro, por exemplo, um
pedaço inteiro do corpo de Jesus é
arrancado, deixando quatro costelas à mostra.
Na crucificação, um enorme
cravo é pregado a uma mão viva
(robótica) e, depois de pregado,
Jesus é atirado de frente em direção ao chão tendo às costas a
imensa e pesada cruz. É um exagero e fica difícil acreditar que
qualquer ser humano agüentaria
o flagelo por que passa Jesus até o
momento de sua morte.
Em uma recente entrevista, Gibson se disse surpreso com a reação negativa e a publicidade em
torno de seu filme e deu a entender que pode continuar explorando o veio religioso. "Há muitas
boas histórias naquele livro", disse, referindo-se à Bíblia.
Inflamado pela atual polêmica,
"A Paixão de Cristo", exibido em
4.600 salas nos EUA, prevê atingir
US$ 100 milhões na bilheteria até
domingo e já aspira a se equiparar
ao filme "Os Dez Mandamentos",
de 1956, a quinta maior bilheteria
da história americana, de US$ 750
milhões.
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